domingo, 14 de junho de 2015

INDIVIDUAÇÃO - C.G.Jung



Minha bela gravação da Flauta Mágica de Mozart!
 147 min.





INDIVIDUAÇÃO
Uma pessoa tornar-se si mesma,
 inteira, indivisível e distinta de outras pessoas 
ou da psicologia coletiva (embora também em relação com estas).
 

Este é o conceito chave da contribuição de Jung para as teorias do desenvolvimento da personalidade. Como tal, está inextricavelmente entrelaçada com outros, sobretudo SELFEGO e ARQUÉTIPO, como também com a síntese de elementos CONSCIENTES e INCONSCIENTES. Um modo simplificado de expressar o relacionamento dos conceitos mais importantes envolvidos seria: o ego está para a INTEGRAÇÃO (vista socialmente como ADAPTAÇÃO) como o self está para a individuação (auto-experiência e auto-realização). Enquanto a consciência aumenta com a análise das defesas (por exemplo, PROJEÇÃO da SOMBRA), o processo de individuação é uma CIRCUMAMBULAÇÃO do self como o centro da personalidade que, com isso, vai sendo unificada. Em outras palavras, a pessoa se torna consciente no que tange a ela ser tanto um ser humano único como, ao mesmo tempo, não mais que um homem ou uma mulher comum.

Devido a esse paradoxo inerente, as definições abundam, tanto por toda a obra de Jung como também nas dos “pós-junguianos” (Samuels, 1985a). O termo “individuação” foi adotado por Jung através do filósofo Schopenhauer, porém reporta-se a Gerard Dorn, um alquimista do século XVI. Ambos falam do principium individuationisJung aplicou o princípio à psicologia. Em Psychological Types, publicado em 1921, porém em composição desde 1913, encontramos a definição pela primeira vez publicada (CW 6, parágs. 757-762). Os atributos enfatizados são: (1) o objetivo do processo é o desenvolvimento da personalidade; (2) pressupõe e inclui relacionamentos COLETIVOS, isto é, não ocorre em um estado de isolamento; (3) a individuação envolve um grau de oposição a normas sociais que não têm uma validade absoluta: “Quanto mais a vida de um homem é moldada pela norma coletiva, maior é sua imoralidade individual” (ibid.). Ver MORALIDADE.

O aspecto unificador da individuação é enfatizado por sua etimologia. “Uso o termo ‘individuação’ para denotar o processo pelo qual uma pessoa se torna ‘in-dividual’, isto é, uma unidade indivisível ou um ‘todo’” (CW, parág. 490). Os fenômenos descritos por Jung em uma variedade de contextos estão sempre ligados a sua própria experiência pessoal, seu trabalho com pacientes e suas pesquisas, especialmente da ALQUIMIA e das mentes dos alquimistas. As definições ou descrições da individuação, portanto, variam de ênfase de acordo com a fonte da qual Jung estivesse mais próximo na ocasião.

Um livro mais recente (CW 8, parág. 432) refere-se à dificuldade que aparentemente persistia na distinção entre a integração e a individuação: “cada vez mais noto que o processo de individuação é confundido com o advento do ego à consciência e que o ego é, em conseqüência, identificado com o self, o que naturalmente produz um distúrbio incorrigível. A individuação fica sendo então apenas egocentrismo e auto-erotismo...

 A individuação não exclui do mundo, 
mas aproxima o mundo para o indivíduo”. 
 
É claro que é tão importante descrever quais são as manifestações da individuação, como dizer quais não são (as referências ao auto-erotismo, isto é, o NARCISISMO). Além disso, “individualismo significa enfatizar deliberadamente e dar proeminência a alguma suposta particularidade, mais que a considerações e obrigações coletivas. Porém, a individuação significa precisamente preenchimento melhor e mais completo de qualidades coletivas”(CW 7, parág. 267, grifo acrescentado). Ou então

: “O objetivo da individuação 
é nada menos que despir o self dos falsos invólucros da PERSONA,
 por um lado, e do poder sugestivo de imagens primordiais, pelo outro
(CW 7, parág. 269). Ver ARQUÉTIPO.

Sabemos que Jung começou a pintar MANDALAS em torno de 1916, durante um período tempestuoso de sua vida, não muito tempo depois do rompimento com Freud. Um capítulo inteiro de CW 9i é chamado “A Study in the Process of Individuation” e é baseado em um estudo de caso clínico em que as PINTURAS do paciente desempenhavam um papel proeminente. Não surpreende que, com a introversão de Jung e a ênfase daquele período inicial no material intrapsíquico, possa ter-se verificado a impressão de que a experiência do mundo psíquico  interno estava assumindo precedência sobre relacionamentos interpessoais durante o processo. Jung depois ilustra a individuação de Cristo em "Transformation Symbolism in the Mass (CW 11) e isto, junto com declarações no sentido de que a individuação não era para todo mundo, pode ter levado à noção de que se estava lidando com um conceito elitista.

Jung pode involuntariamente ter contribuído para esse equívoco afirmando que o processo é uma ocorrência relativamente rara. Muito embora o processo possa ser demonstrado com mais facilidade mediante escolha de exemplos dramáticos, freqüentemente ocorre em circunstâncias moderadas. A transformação que ocorre pode resultar tanto de um evento natural (por exemplo, nascimento ou morte) como, às vezes, de um processo técnico. O procedimento dialético da ANÁLISE oferece, em nossos dias e em nossa época, um exemplo proeminente do último tipo, no qual o analista já não se torna mais o agente, mas um participante amigo no processo. Nesse caso, o trabalho apropriado com a transferência pode ser de capital importância (ver ANALISTA E PACIENTE).

O perigo de um envolvimento intenso com o mundo e suas imagens fascinantes é que ele pode acarretar uma preocupação narcisista. Outro perigo seria considerar todas as manifestações, inclusive atividades anti-sociais e mesmo colapsos psicóticos, como resultados justificáveis de um processo de individuação. Desde que a transferência na análise desempenha um papel decisivo, há que acrescentar que a individuação é, na linguagem da alquimia, um trabalho contra a natureza (opus contra naturam). Quer dizer, o INCESTO ou libido de consanguinidade não pode obter concessões. Por outro lado, não deve ser desprezado, porque é a força de um impulso essencial. 

No que concerne à metodologia, a individuação não pode ser induzida pelo analista nem, naturalmente, exigida. A análise simplesmente cria um ambiente de facilitação para o processo: a individuação não é o resultado de uma técnica correta. Contudo, significa que o analista deve ter mais que apenas intuições a respeito da individuação (e/ou da falta dela) a partir de sua experiência pessoal, a fim de ter uma mente aberta para o possível significado, para o paciente, de suas produções inconscientes que se estendem desde sintomas físicos até SONHOSVISÕES ou pinturas (ver IMAGINAÇÃO ATIVA). 

Certamente se pode falar de uma psicopatologia da individuação, o que Jung claramente faz (por exemplo, ver CW 9i, parág. 290). Os perigos normais durante a individuação são a INFLAÇÃO (hipomania), de um lado, e a DEPRESSÃO, do outro. Colapsos esquizofrênicos também são conhecidos.

Jung refere-se a idéias psicóticas que, ao contrário de conteúdos neuróticos, não podem ser integradas (CW 9i, parág. 495). Mantêm-se inacessíveis e podem assoberbar o ego; sua natureza é instável. É concebível que o centro da personalidade (o self) seja expresso por idéias e imagens que, neste sentido, são “psicóticas”. A individuação é considerada uma questão inevitável e o analista pouco mais pode fazer que assistir com toda a paciência e simpatia que é capaz de reunir. O resultado, em todo caso, é incerto. A individuação não é senão um objetivo em potencial, cuja idealização é mais fácil que sua realização.

Mandalas e sonhos sugerem o simbolismo do self sempre onde aparecem em centro e um círculo (normalmente em um quadrado). E os símbolos do self, muitos dos quais estão registrados e ilustrados na obra de Jung, ocorrem sempre onde o processo de individuação “se torna o objeto de escrutínio consciente, ou onde, como na PSICOSE, o inconsciente coletivo povoa a mente consciente com figuras arquetípicas” (CW 16, parág. 474). Os símbolos do self às vezes são idênticos à deidade (tanto oriental como ocidental) e existem sobretons “religiosos” para alguns conteúdos psicóticos, embora a distinção possa ser útil. 

Em certo ponto, Jung respondia à questão feita a ele, replicando:

 “Individuação é a vida em Deus,
 como a psicologia da mandala mostra claramente” 
(CW 18, parág. 1.624, grifo acrescentado).



Análise e casamento são exemplos específicos de situações de natureza interpessoal que se prestam ao trabalho de individuação. Ambos requerem devotamento e são árduas jornadas. Alguns analistas consideramo o tipo psicológico de cada parceiro de importância capital (ver TIPOLOGIA). Sem dúvida existem outros relacionamentos interpessoais que, combinados com uma observação mais ou menos consciente de eventos intrafísicos, poderiam facilitar a individuação. O mais importante desenvolvimento teórico desde que Jung afirmou que a individuação fazia parte da segunda metade da vida foi a extensão do termo que passou a abranger também o começo da vida (Fordham, 1969).

Uma pergunta, sem resposta ainda, é saber se a integração deve, necessariamente, preceder a individuação. Obviamente, as chances são melhores para o ego que é forte (integrado) bastante para resistir à individuação quando esta irrompe subitamente, ao invés de se introduzir calmamente na personalidade. Grandes artistas, cuja auto-realização dificilmente pode ser posta em dúvida (por exemplo, Mozart, van GoghGauguin), às vezes parecem ter preservado uma formação de caráter infantil e/ou traços psicóticos infantis. Eram individuados?

  Em termos de perfeição de seus talentos
 que se tornaram amalgamados com suas personalidades, a resposta é sim; 
em termos de completude e relacionamentos pessoais, provavelmente não.


Finalmente, há uma pergunta relativa à individuação que concerne a toda análise profunda, e à sociedade como um todo: fará alguma diferença para o resto da humanidade se um número infinitesimalmente pequeno empreende essa árdua jornada? Jung responde positivamente que o analista não está trabalhando somente para o paciente, mas também para o bem de sua própria alma, e acrescenta que

 “por pequena e invisível 
que possa ser a contribuição, 
ela, contudo, é um magnum opus* ... 


As questões decisivas da PSICOTERAPIA não são um assunto de interesse privado – representam uma responsabilidade maior ”(CW 16, parág. 449).
* a composição realizadora no processo alquímica: a obra [N. do T. ]
                                              
Individuação

 Individuação1 - É um dos conceitos centrais da Psicologia Analítica de Jung. É o processo de desenvolvimento da personalidade pela diferenciação psicológica do eu. É um processo no qual o ego visa tornar-se diferenciado da coletividade, embora nela vivendo, ampliando suas relações. Para se alcançar a individuação é necessário se evitar as tendências coletivas inconscientes.

 A individuação respeita as normas coletivas e o individualismo as combate. O contrário à individuação é ceder às tendências egocêntricas e narcisistas ou à
identificação com papéis coletivos. A individuação leva à realização do Self, e não simplesmente à satisfação do ego. É um processo dinâmico que passa pela compreensão da finitude da existência material, objetiva, face à inevitabilidade da morte física.

Sonhos no processo de individuação2
Para Jung, “a individuação, a realização própria, não é apenas um problema espiritual, e sim o problema geral da vida.”3 Sem sombra de dúvida esse é o grande
objetivo do sonhar. É uma tendência arquetípica do Self, o processo de diferenciação
do coletivo. O sonho está a serviço desse processo. Por mais fragmentário que seja,
ele representa uma via de acesso às etapas daquele processo.

Os sonhos referentes ao processo de individuação geralmente ocorrem em séries conectadas entre si, cuja interpretação isolada seria um equívoco. Eles trazem, inicialmente, a consciência e o inconsciente em integração, sendo este alcançando aquela, isto é, conteúdos inconscientes tornando-se conscientes. Mostram, muitas vezes, uma situação de crise (ou lesão do ego) e início de um processo penoso que envolve o confronto entre o ego e sua sombra. Figuras bizarras e ameaçadoras são exemplos dos receios do ego em continuar esse processo. Símbolos da resistência ao confronto e dos mecanismos de defesa do ego, surgirão como confirmação do que é
negado por ele, centro da consciência que, historicamente, tende a desenvolver-se
separada do inconsciente. Figuras do sexo oposto ao sonhador tendem a surgir como
uma necessidade de integração com a polarização oposta à consciência.

Na série de sonhos do processo de individuação não é raro o surgimento de
escadas como a simbolizar os degraus em que se dá o processo de transformação e
suas peripécias. Às vezes, a escada possui sete degraus, numa referência aos
processos alquímicos antigos.

Nos sonhos ocorrem imagens de natureza arquetípica que surgem como a descrever o processo de desenvolvimento da personalidade, muitas vezes mostrando a tomada de consciência da aproximação do ego com o Self. Para alcançar esse fim, o inconsciente produz sonhos mostrando a necessidade de lidar com conteúdos do inconsciente pessoal primeiro, para depois se ir ao coletivo. Os sonhos onde se atinge um ápice, um último degrau, podem significar a necessidade de sair do
processo de conscientização do inconsciente pessoal e sinalização para o início de
uma nova etapa. Ver-se em sonhos, nos primeiros degraus da escada, significa a
necessidade de integrar alguns conteúdos infantis.

Nesse processo, é comum surgirem imagens oníricas personificadoras da
racionalidade e do intelecto, a assumir posição secundária, solicitando ao ego dar
lugar à emoção, ao sentimento, à intuição, enfim, à função inferior da consciência.
Elas também costumam ajudar o ego no processo de individuação, o que não deve,
porém, ser motivo para que se confie a vida aos sonhos.

O símbolo da mandala representa o novo centro deslocado do ego, o Self. Ela
se reveste de várias formas nos sonhos: o círculo, a esfera, o quadrado, a flor, a
quadratura do círculo, etc., ou objetos que se lhes assemelhem. A mandala,
enquanto símbolo onírico, impõe um padrão de ordem ao caos. Nos sonhos ela
representa a tentativa da psiquê de organizar os opostos irreconciliáveis. O
aparecimento de um símbolo que represente o Self nos sonhos, como por exemplo
uma mandala, certamente estará trazendo à consciência algo que diga respeito ao ego, por este ter se originado por uma necessidade daquele núcleo arquetípico. Ao ego desestruturado, surge nos sonhos um símbolo do Self perfeitamente definido e
constituído.

O indivíduo, enquanto vivendo o processo de individuação, terá sonhos significativos em relação a orientação que precise. As imagens procurarão mostrar-lhe a necessidade de:
1. Tornar consciente o inconsciente;
2. Dar menor poder ao ego;
3. Desligar-se das influências psicológicas parentais;
4. Tornar-se independente;
5. Diferenciar-se do coletivo aprendendo a conviver com tendências opostas e
precavendo-se das arquetípicas;
6. Eliminar projeções e enxergar as transferências, bem como reconhecer as
personas de que se utiliza para conviver socialmente e sua excessiva valorização;
7. Perceber seus mecanismos de defesa que tentam evitar a aproximação dos
conteúdos inconscientes;
8. Aceitação de sua sombra;
9. Confrontação com a ânimaânimus e percepção de suas projeções;
10. Dissolução dos complexos para enxergá-los e trabalhá-los;
11. Deslocar o centro orientador da personalidade do ego para o Self ;
12. Estabelecer o encontro com o Self.
Os sonhos iniciais do processo costumam causar certo incômodo natural para o
sonhador. Posteriormente, passam a trazer-lhe relativa segurança.

Singularidade 4
“Portanto, sede vós perfeitos como
perfeito é o vosso Pai celeste.”
Mateus, 5:48.


A busca de um significado para a Vida sempre foi a meta do ser humano. Um
sentido que lhe dê motivação e que lhe explique o porquê e para quê vive, constitui-se
em sua maior aspiração. O Cristo assinala que ser perfeito é regra sem exceção
para todos os seres na natureza. Mas qual o sentido psicológico desse imperativo?

Estaria ele falando ao ego ou ao Espírito?
 
Descobrir sua própria singularidade representa uma importante aquisição na
evolução do Espírito, pois quando isto se dá, ele se depara com a liberdade de
escolha e com a certeza de que não existe bem nem mal, mas apenas aquilo que lhe
convém ou não. Até chegar a esse ponto, por força de sua imaturidade, o ser humano
comete muitos equívocos, pois não sabe efetivamente o que lhe convém ou não, para
a própria evolução.

A perfeição na Terra
 é fruto do consenso de conceitos entre os seres humanos.


As qualidades que ele atribuiu a Deus são fruto da percepção de si mesmo,
constituindo-se naquilo que ele sabe não possuir, mas que poderia alcançar ao longo
da sua evolução. O que Deus é, em realidade, o ser humano ainda não o sabe.
Apenas ele Lhe atribui qualidades superlativas. A perfeição, vista dessa maneira, é
uma criação humana. Isso não invalida a visão de perfeição divina que temos. Deus
é, independente de nossas pobres concepções e adjetivos.

Muitas vezes, por atribuir qualidades superlativas à perfeição, o ser humano se
frusta por não obtê-la. Persegue-a, mas não a alcança. Certamente que, além do
espaço exíguo de uma vida não ser suficiente, ele simplesmente se contenta com
poucas qualidades conquistadas, abandonando seu propósito máximo. Assim ocorre
com muitos indivíduos, nas diversas religiões e filosofias, que buscam uma
espiritualização antes de viver sua própria humanização. Pensam que, por realizar
algumas práticas religiosas ou por estar a serviço de seu credo, não necessitam viver
sua humanidade. Antes de atingir o estado que considera de perfeição, o ser humano
deve aprender a viver e conviver bem com seus semelhantes.

A muitos parece que esse estado deve ser alcançado com o objetivo de se viver
bem após a morte, isto é, na espiritualidade, esquecendo-se de que o retorno à Terra
é uma oportunidade de aprendizado. É exatamente o viver equilibradamente aqui na
carne, que capacita o Espírito para a vida espiritual. De que vale viver para ser bom
no futuro se no presente não se valoriza essa possibilidade? Seria realmente possível
ser bom após a morte se não conseguiu tal proeza enquanto encarnado?
Evidentemente que a resposta é negativa.

 Um dia a máscara cai e o Espírito se verá
como realmente é.
 
A perfeição é uma meta cujo ápice é inalcançável. Constitui-se numa busca
arquetípica do ser humano e como tal sua realização é inimaginável. Por ser uma
tendência arquetípica não é possível materializá-la, mas apenas representá-la.
O imperativo de ser perfeito nos leva a entender que se trata de algo que se
encontra como tendência a ser vivida pelo ser humano. O Cristo falava com
conhecimento de causa de quem sabia da existência psíquica das tendências
arquetípicas no ser humano. A tendência à perfeição é uma espécie de presença do
Criador na criatura. Psiquicamente, todos a temos, e ela nos exige materialização.
Realizar, ou tentar realizar a perfeição, possibilita ao Espírito, atravessando as
diversas circunstâncias e vivendo as experiências da Vida, conhecer as leis de Deus.

O Cristo falava ao Espírito. Pode-se traduzir o sede perfeitos por:

 não deixe de viver sua Vida, 
viva sua humanidade, viva seu processo, 
comprometa-se com seus princípios, 
siga sua tendência divina, busque sua essência espiritual, 
torne-se consciente de sua evolução, realize seu Self.
 
A espiritualização deve se processar enquanto vivemos a humanização. Não é
um processo isolado ou que, necessariamente, se deva vivê-lo fora do contato com a
sociedade. Pode-se, por algum período, buscar o recolhimento, o estar consigo
mesmo, para depois de refazer-se, voltar ao convívio com o semelhante, a fim de
pôr-se em prova.

sede perfeitos foi tomado equivocadamente como uma ordem para ser
cumprida imediatamente, no espaço restrito de uma encarnação. É preciso que se
atente para o fato de que são necessárias muitas vidas até que se atinja a percepção
do processo psíquico que envolve a evolução.

 Esse processo deve ser
conscientemente vivido e compartilhado.
 
Precisamos ter calma em relação a nós mesmos. Ter paciência para com as
imperfeições, sem nos acomodarmos quanto à necessidade de evoluir. Ser perfeito,
dentre outros aspectos, é autodeterminar-se a espiritualizar-se.

Ninguém cresce sem atravessar obstáculos, nem evolui sem administrar perdas
e submeter-se ao atrito da convivência com seu semelhante, que se constitui num
espelho vivo do nosso mundo interior. Precisamos do outro tanto quanto os outros
precisam de nós. A evolução é um processo individual e coletivo ao mesmo tempo.

É um paradoxo solúvel, 
na medida em que percebemos a complexidade e
simplicidade simultâneas do evoluir.
 
A individualidade ou singularidade é a marca do Criador na criatura. A
construção da personalidade, que envolve a real percepção dessa individualidade, é
tarefa do indivíduo juntamente com a sociedade da qual ele faz parte a cada
encarnação, com o contributo que recebe nos intervalos entre elas. A descoberta
dessa individualidade se dá na medida em que o ser humano vive no coletivo
(família, sociedade, etc.). 

O processo
 de tornar-se perfeito, em verdade,
 envolve o individualizar-se sem a necessidade de isolamento. 
C. G. Jung chamava esse processo de individuação,
 que é, dentre outras definições, o viver a sua própria
individualidade no coletivo.
 
O processo de individuação não se confunde com o que se chama de perfeição,
pois não pressupõe a aceitação de regras religiosas ou de uniformização de atitudes
externas. Individuar-se é realizar sua própria individualidade enquanto em
sociedade. Nesse sentido, sede perfeitos também equivale a: realize sua
individualidade, verdadeira essência divina.

Para se buscar essa individualidade deve-se discriminar primeiro tudo aquilo
que o mundo colocou em nós, isto é, o que faz parte da personalidade, mas que serve
apenas como meio de adaptação à convivência social. Após essa identificação deve-se
buscar retirar aquilo que nos atrapalha a evolução. O que restar é nossa essência.

É trabalho 
laborioso e difícil de se fazer, 
não raro requer ajuda e, de tempos em tempos,
 avaliação do processo.
Os cristãos, na sua maioria,
 perseguem a perfeição acreditando que ela é
alcançável após algumas práticas religiosas de fácil realização. 
 
Acreditam que, se não a alcançam,
 é porque são pecadores ou imperfeitos. 
Justificam seus insucessos através de sua própria condição,
 sem perceber que, talvez, o equívoco esteja em sua
interpretação da mensagem cristã. 
 
O Espiritismo vem propor uma nova visão 
do significado da palavra perfeição, 
diferindo da exigência radical de tornar-se perfeito
sem o trabalho de construção interior.

 O Espiritismo é uma doutrina cristã mas não
adota as práticas exteriores das religiões cristãs.

Sou uma individualidade eterna
 responsável por tudo que me acontece 
e devo aprender a viver coletivamente 5

Minha felicidade
 se dá na convivência social, no atrito com meus semelhantes.

Sou uma singularidade eterna
 responsável por tudo que me acontece 
e encontro essa certeza aprendendo a viver coletivamente. 

O ser humano só encontra sua
singularidade conscientizando-se de sua natureza coletiva.
 
Como vimos antes, são quatro as fases de desenvolvimento psíquico e
espiritual do ser humano: o autoconhecimento, o auto-descobrimento, a
autotransformação e, por fim, a auto-iluminação. São processos, aos quais estão
sujeitos encarnados e desencarnados, independentes do grau de evolução em que se
encontrem, exceção feita aos Espíritos puros. Esses processos ocorrem ao longo das
sucessivas encarnações do espírito, porém, em escala menor e de forma embrionária,
podem ocorrer numa única existência, ainda que incompletos.

Não basta portanto autoconhecer-se e auto-descobrir-se. Deve-se buscar a
autotransformação e a auto-iluminação. As duas últimas fases pressupõem a
aplicação constante de suas próprias convicções à vida social, sem impô-las aos
outros. Nelas, a sociedade passa a ser, concomitante com o próprio indivíduo, o alvo
das transformações necessárias ao progresso.

Encontrar sua própria maneira de ser, ou seja, ter uma identidade psicológica,
faz parte da evolução do indivíduo quer esteja encarnado ou desencarnado. A vida
continua e sempre exigirá o encontro do ser consigo mesmo, no corpo físico ou fora
dele. Os espíritos desencarnados, mesmo aqueles que supervisionam tarefas
espíritas, se encontram em regime de aprendizado, buscando o autoconhecimento,
bem como as demais fases evolutivas. 

Essa procura ao encontro do si mesmo requer percepção do processo de evolução espiritual e de suas fases. Autoconhecer-se não basta, pois, muitas vezes, atende-se às exigências do ego em conhecer-se e em tomar consciência das coisas pelo seu desejo de permanente controle. 

A essa fase inicial assinalada por Sócrates no seu conhece-te a ti mesmo , do oráculo de Delfos, no templo do deus Apolo, deverá suceder a fase das descobertas sobre os aspectos inconscientes da própria natureza interior. Esse processo se dá necessariamente no convívio com os semelhantes.

Imprescindível a percepção desses conteúdos íntimos, oriundos das
experiências relacionais nas sucessivas encarnações, guardados cuidadosamente por
mecanismos psíquicos importantes. Auto-descobrir-se não se confunde com a mera
lembrança, mesmo que completa, de situações vividas no passado, quer de forma
espontânea ou pela regressão induzida de conteúdos reencarnatórios. É a consciência
de sua própria personalidade como resultante daquelas vivências arquivadas, o que
dispensa a exigência de relembrá-las detalhadamente.

A vida ascética, ou o isolamento social, não representa garantia de felicidade
ou de crescimento espiritual. O necessário confronto com os opostos de sua própria
personalidade se dá no convívio com os semelhantes. O indivíduo pode se isolar
para adquirir energias e disposição para aquele confronto imprescindível, como um
meio, mas não um fim. Em outras palavras, não se deve fugir do mal que percebe
em si, muito menos do que acredita existir no mundo, mas reconhecê-lo e integrá-lo
à própria vida, dada sua relatividade e inexistência absoluta.

As proibições medievais não encontram mais lugar na sociedade que aspira
crescer e evoluir, muito menos no Espiritismo que liberta. Assumir a
responsabilidade pelos próprios atos toma o lugar das proibições e vetos no
comportamento humano. Proibir é deseducar, é alienar. Estabelecer
responsabilidades é ensinar, é educar para a Vida.

As imitações de comportamentos não são mais cabíveis; o Cristo, muito menos
alguém encarnado ou desencarnado, não deve ser imitado em seus gestos e ações,
sob pena de viver-se uma vida alheia a si mesmo. Os comportamentos alheios
devem ser percebidos quanto às suas conseqüências e conveniência de serem
aplicados a quem os vê. Imitar é alienar-se; verificar sua conveniência é aprender.
Deve-se buscar a mensagem que é subjacente ao comportamento observado e, de
acordo com sua própria personalidade, exercitá-la.

O espírito encarnado, na busca de sua própria evolução, não deve prescindir de
encontrar sua autonomia no pensar, no falar e no agir. Quando agimos ou atuamos
por uma imitação ou sob o comando de alguém, presente ou ausente, não devemos
pensar que já adquirimos aquela experiência em nós. Estamos apenas fazendo algo
sob a influência de condições externas. Encontrar suas motivações pessoais e agir de
acordo com os próprios princípios, é evoluir.

Cada ser humano é responsável direto e indireto pelos seus atos. Ninguém
sofre por ninguém nem atravessa processos cármicos educativos por
responsabilidade de terceiros. Somos responsáveis diretos pelo exercício de nossa
própria vontade e indiretos pelas influências inconscientes que recebemos. A
responsabilidade individual nos coloca diante da necessidade de adquirirmos a
maturidade e agirmos com um apurado senso de autoria de nosso destino.

Os acontecimentos de nossa vida são, em realidade, atraídos por nós, em face
da exigência da lei de Deus a que todos estamos sujeitos, no constante aprendizado
visando a evolução espiritual. Só nos acontece aquilo que precisamos atravessar para
conhecer as leis de Deus. Nesse sentido, não há acaso nem determinismo, pois tudo
passa pela escolha do próprio indivíduo de qual caminho queira trilhar, sabendo que
este lhe trará sempre aquilo de que necessita para evoluir como também por
experiências típicas do nível humano. Passamos na vida pelas provas
correspondentes ao que somos. Só conseguimos resolver algo externamente quando
internamente já estiver solucionado.

Instituições, grupos ou mesmo a família, com lideranças autocráticas e
seguidores fiéis, se aproximam em semelhanças, àquelas que instituíram religiões
dogmáticas, que criaram uma casta de doutores e um numeroso grupo de ignorantes
ou alienados. Os dirigentes de grupos (religiosos ou familiares) devem possuir
habilidade para, por um lado, propagar a verdade coletiva entre seus liderados e, por
outro, permitir que cada um se aproprie dela, favorecendo seu desenvolvimento
psíquico e espiritual.

Quando numa família ocorre o comando autocrático por um dos cônjuges,
muitas vezes os filhos necessitarão, mais tarde, aprender por si sós, aquilo que lhes
foi imposto fazer ou pensar. A rebeldia, muitas vezes presente na adolescência, pode
decorrer, dentre outros fatores, do modelo estrutural calcado na imitação de
comportamento, inerente à forma como foram educados.

A construção
 do próprio eu maduro 
é tarefa árdua e se processa na intimidade 
da consciência de cada um, constituindo-se 
num aprendizado inalienável e sujeito a percalços diversos. 

O grande rival
é o próprio indivíduo com sua tendência imitativa
de igualar-se ao senso comum.
 
Encontrar sua própria essência singular vivendo em sociedade e
compartilhando com seus pares suas descobertas interiores, é fundamental para se
alcançar a felicidade. Essa singularidade é, na realidade, a essência divina em nós.
A personalidade humana é dotada de um núcleo singular, que é sua individualidade,
 e de aspectos plurais oriundos de sua convivência social. O primeiro é natural e representa o selo de Deus no ser humano. Os aspectos plurais são adquiridos e se prestam, no decorrer da evolução, a fazer chegar ao núcleo, as leis de Deus. Descobrir essa singularidade já acrescida parcialmente das leis universais, representa um grande marco na evolução pessoal.

Mesmo aquelas ocorrências da vida que vêm de retorno por atitudes passadas,
obedecendo a necessidades evolutivas, devem ser encaradas de forma positiva, numa
perspectiva otimista. Por mais que pareçamos inocentes demais diante da vida, é
importante que sejamos otimistas e que sempre consideremos que, qualquer que seja
o resultado de uma ação consciente que vise nosso bem estar sem agredir a ninguém,
resultará num benefício para nós.

Identidade, Individualidade e Personalidade 6
Podemos pensar que o espírito, o ser humano, é algo incognoscível em si,
porém quando ele se expressa (se manifesta) ele é e será sempre algo de si mesmo e
do meio no qual se apresenta. Em suas manifestações externas ele sempre revela
aspectos de sua essência mesclados a outros do meio no qual se apresenta. Sempre
que se expresse será individual e coletivo ao mesmo tempo.

Sua identidade estará condicionada ao momento, ao resultante do acúmulo de
suas experiências reencarnatórias e à sua singularidade. Os Espíritos são distintos
não só pelas diferentes experiências ao longo da evolução como também pela
singularidade que o Criador imprimiu em cada um, no ato da criação. Naquele
momento, o Criador, sem estabelecer hierarquia ou injustiça, estabeleceu a unidade
de cada ser.

O Espírito logicamente é único em si. Não é possível haver duas coisas iguais,
pois a unidade é o fundamento do universo.

 A diversidade de unidades
 constitui uma Unidade.
 
Nossa identidade se faz não apenas pelas aparências ou pelas características
intelectuais, emocionais ou sociais adquiridas ao longo da evolução, mas
principalmente pelo sentido pessoal de existir. Cada um é o que lhe constitui o
mundo íntimo, construído por sobre a base da singularidade gerada pelo Criador.

Buscar reconhecer em si a própria individualidade, 
isto é, aquilo que em nós difere dos outros, 
é fundamental para o crescimento espiritual.
 
O que distinguiu um Espírito de outro no ato da criação? A resposta não deverá
contradizer o princípio da igualdade em Deus. Ele não nos fez em série ou em
duplas. Somos singularidades divinas a serviço do próprio processo de auto-iluminação.
A personalidade é a maneira singular pela qual o indivíduo responde ao meio.

A personalidade não se resume em atos comportamentais, pois é também e
principalmente a estrutura que os modela e que decide sobre as respostas a serem
dadas. Alguns atributos do espírito antes de reencarnar serão privilegiados em face
das provas a que ele se submeterá.

 O conhecimento prévio das provas 
e o meio em que encarnará
permitirá que tais atributos sejam discriminados. 
(mas como conhecer antes?)

O comportamento 
não define nem resume a personalidade humana. 
 
Ele é tão somente um de seus componentes, visto que boa parte do que se pensa e sente não se
expressa nas atitudes. Não se pode desprezar a necessidade de estabelecer um conceito dinâmico para a personalidade. Não só pela condição essencial do Espírito como elemento oriundo da força criadora divina, como pela necessidade de entendermos como resultante também da dinâmica da relação com um outro.

 Por si só o Espírito não se define, 
visto que sua existência está atrelada à de Deus, 
e sua personalidade está à de outro ser.
 
O desenvolvimento da personalidade, a partir da infância, refere-se à retomada
do ego, ou melhor, à formação de um novo ego. É comum se confundir
personalidade com ego. A estruturação ou consolidação do ego se dá por uma
integração contínua de fatores motivacionais, emocionais e cognitivos internos. As
características do ego não englobam os aspectos pertencentes à personalidade. A
formação dela transcende os limites de uma existência e nela estão inclusos os
conteúdos inconscientes. 

ego é apenas
 uma forma dinâmica e funcional da
personalidade se manifestar.
 
O que chamamos de personalidade não é o Espírito em si, visto que ele não
apresenta a ga ma de sensações, emoções, pensamentos, idéias e sentimentos
existentes na totalidade que engloba também o corpo e o perispírito.
Muitas são as possibilidades da personalidade encarnada. Em si, o ser contém
as potencialidades divinas e a capacidade de desenvolvê-las. Por conta da cultura e
da sociedade nos privamos de manifestar tudo de bom que encerramos em nós
mesmos. Acostumamos a projetar nossas melhores qualidades e potenciais em
figuras que as apresentaram, acreditando, por vezes, que só elas as possuem.

O que o outro possui 
existe potencialmente em nós. 
É dever de todo ser humano ir à busca do que realmente é.
 
A individualidade 
é o próprio Espírito com suas aquisições das leis de Deus.
Ela independe do corpo físico e do perispírito, 
pois é o rótulo de Deus na Natureza
 
                                       
Individuação

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O conceito de individuação foi criado pelo psicólogo Carl Gustav Jung e é um dos conceitos centrais da sua psicologia analítica.

A individuação, conforme descrita por Jung, é um processo através do qual o ser humano evolui de um estado infantil de identificação para um estado de maior diferenciação, o que implica uma ampliação da consciência. Através desse processo, o indivíduo identifica-se menos com as condutas e valores encorajados pelo meio no qual se encontra e mais com as orientações emanadas do Si-mesmo, a totalidade (entenda-se totalidade como o conjunto das instâncias psíquicas sugeridas por Carl Jung, tais como personasombraself, etc.) de sua personalidade individual. 

Jung entende que o atingimento da consciência dessa totalidade é a meta de desenvolvimento da psique, e que eventuais resistências em permitir o desenrolar natural do processo de individuação é uma das causas do sofrimento e da doença psíquica, uma vez que o inconsciente tenta compensar a unilateralidade do indivíduo através do princípio da enantiodromia.

Jung ressaltou que o processo de individuação não entra em conflito com a norma coletiva do meio no qual o indivíduo se encontra, uma vez que esse processo, no seu entendimento, tem como condição para ocorrer que o ser humano tenha conseguido adaptar-se e inserir-se com sucesso dentro de seu ambiente, tornando-se um membro ativo de sua comunidade. O psicólogo suíço afirmou que poucos indivíduos alcançavam a meta da individuação de forma mais ampla.

Um dos passos necessários para a individuação seria a assimilação das quatro funções (sensação, pensamento, intuição e sentimento), conceitos definidos por Jung em sua teoria dos tipos psicológicos. Em seus estudos sobre a alquimia, Jung identificou a meta da individuação como sendo equivalente à "Opus Magna", ou "Grande Obra" dos alquimistas. A individuação também pode ser compreendida em termos globais como o processo que cria o mundo e o leva a seu destino (Rocha Filho, 2007), não sendo, por isso, uma exclusividade humana. A individuação, neste contexto, se identifica com o mecanismo de auto-realização, ou primeiro-motor do universo.



Individuação, um desafio para o Ego

 Elizabeth Cavalcante


Carl Gustav Jung definiu como individuação o processo pelo qual o ser humano chega ao autoconhecimento, e é levado a estabelecer contato com o seu inconsciente, não só com o inconsciente pessoal (integrando as sombras), mas também como o seu inconsciente coletivo.

Nessa integração, o que se faz é sempre a separação do que é consciente daquilo que é não consciente. Para integração dos arquétipos torna-se necessário fazer essa distinção, caso contrário os conflitos continuam ou se intensificam.

O objetivo desse processo ou sua etapa final é a chegada ao self, ao centro da personalidade. Quando chega a esse centro, o ser humano realiza-se como individualidade, como personalidade.

O self, que se apresenta como um projeto desde o início de nossa vida, é o modelo do ser humano completo, a matriz de todo progresso do ser, o padrão segundo o qual se desenvolvem as características de individualidade de cada um. Sua apresentação desde o início da vida se realiza através dos sonhos de crianças, sonhos em que aparecem imagens arquetípicas desse centro, ou seja, os símbolos do self.

A chegada ao self é, muitas vezes, precedida por angústia, ou por muita ansiedade, uma ansiedade à qual todo terapeuta deve estar atento. Essa ansiedade está associada à aquisição de uma maior consciência de si próprio, que o indivíduo está atingindo.
Aquele que ouve e dá atenção à grande tensão interior que precede o processo do autoconhecimento, terá a chance de alcançar as profundezas do seu ser, e integrar a vivência dos arquétipos de forma consciente.

A individuação geralmente é desenvolvida dentro de um processo terapêutico, mas também pode acontecer de forma natural. Não é impossível que alguns cheguem a realizá-la sozinhos. São Nicolau, na Idade Média, teve as visões do deus e da deusa, elaborou uma mandala (símbolo iconográfico do self) e trabalhou com o inconsciente coletivo sem auxílio.

Do mesmo modo, muitos outros homens altamente significativos para seu tempo chegaram a uma personalidade que nos parece completa, sozinhos, para o que é necessária uma ampla e intensa vivência interior.
Jung também chegou a se individualizar sozinho, mas através da psicoterapia junguiana, que ele mesmo descobriu, um método que foi experimentando consigo mesmo de forma totalmente intuitiva, sem que ninguém lhe tivesse ensinado.

A chave nesse processo é jamais ignorar os sentimentos, enfrentar as angústias, os medos e as dificuldades com coragem, buscando a raiz, a fonte de onde se originam tais problemas. Este processo de investigação interior pode se feito através de vários instrumentos como a terapia psicológica, que pode incluir a regressão psicológica à infância, (ou até mesmo à fase uterina), a consulta aos oráculos como forma de trazer à tona os conteúdos inconscientes, a meditação, processo pelo qual se realiza a conexão com o Eu Superior, aquela dimensão do ser que transcende o ego, que tudo sabe e compreende, pois é onde reside a sabedoria divina em nós.

Apesar de doloroso, o processo de individuação, é o que nos libertará de uma vida massificada, totalmente dominada pelo ego, em que seguimos o pensamento da maioria sem qualquer escolha pessoal. A tomada de consciência é essencial, mas não é tudo, ela nos torna mais responsáveis por nós mesmos e por nossos atos, e a partir daí cabe a cada um decidir se vai ou não aceitar essa responsabilidade.

Atingir o self, não significa chegar à perfeição, mas sim ter uma visão realista de si mesmo, e o entendimento de que o progresso interior é algo a ser trabalhado durante toda a vida, pois novos desafios surgirão o tempo todo durante nossa existência.
Porém, uma personalidade integrada enfrentará esses desafios com muito mais coragem, discernimento, equilíbrio e serenidade.


                                                      Li-Sol-30
Lição da Luz
 Fontes:
http://larharmonia.org.br/pdf/txt_individuacao.pdf
 http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/conteudo.asp?id=3026

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