“Com efeito,
as grandes descobertas teóricas
desses últimos anos levaram os físicos a supor
uma espécie de fusão entre a onda e o corpúsculo
- diríamos, entre a substância e o movimento.
Um pensador profundo,
vindo das matemáticas para a filosofia,
vera’ um pedaço de ferro como uma “continuidade melódica”.
Henri Bérgson-
Filósofo, Nobel de Literatura.
Henri Bergson (Google) seguiu a teoria do evolucionismo universal de Herbert Spencer. O progresso universal, segundo Spencer, não se restringe ao Homem, mas a todo o universo.
Bergson seguiu Spencer também no conceito de “duração da consciência finita ou infinita” que este último defendeu, sendo que o primeiro a transformou no conceito de “duração real”.
A influência do evolucionismo, como generalização da teoria biológica da evolução de Lamarck e Darwin, é claríssima e assumida tanto em Spencer como em Bergson; porém, esse evolucionismo é transferido para uma teoria espiritualista, em ambos os casos. A teoria de Bergson ― como a de Spencer ―, face à filosofia quântica contemporânea, está praticamente toda posta em causa, se bem que existam alguns conceitos que são “aproveitáveis” no sentido de (na minha opinião) de terem uma validade racional consentânea com as mais recentes descobertas da ciência.
Desde logo, Bergson, como bom judeu e como praticamente todos os judeus que se dedicaram à filosofia [com a excepção de Maimónides], tem uma visão panteísta do universo. E quando Bergson defende a ideia de que ao místico é possível conseguir a visão do incognoscível [Deus] sem ter que postular uma religião em especial, revela o carácter gnóstico da sua filosofia.
O panteísmo, o Talmude e a Cabala estão intimamente ligados, assim como estes estão intimamente ligados ao gnosticismo e à maçonaria ― não só o gnosticismo cristão mas o gnosticismo entendido em termos gerais, como uma complexidade de influências.
Bergson parte do princípio de que a consciência [o espírito] é finita. O que Bergson fez foi trazer a ciência para a religião (através do evolucionismo espiritualista), enquanto que Spencer trouxe a religião para a ciência (através do evolucionismo naturalista). Parece uma contradição, mas o evolucionismo naturalista de Spencer apela à religião como complemento da teoria evolucionista, enquanto que Bergson faz o percurso inverso. No caso de Spencer, a religião é o limite da ciência; no caso de Bergson, a ciência é o limite da religião.
Porém, existem aspectos da teoria de Bergson que têm uma actualidade reconhecida. Desde logo, a ideia corroborada pela mecânica quântica segundo a qual o determinismo não existe na natureza senão como condição prévia de existência (a única coisa pré-determinada é o ser). Tudo o mais são possibilidades ou probabilidades.
Neste sentido, a determinação do futuro é impossível tendo como base uma relação causal, senão em termos das leis gerais da Física [Spencer] aplicadas ao macrocosmos ― e mesmo aqui, as leis da Física clássica podem ser anuladas por via da aplicação do princípio do “caminho da acção mínima” (ver no Google, least action principle). não sei até que ponto é que Bergson foi influenciado pelos físicos quânticos da década de 20 do século passado, mas a verdade é que em tudo a ideia de Bergson sobre o não-determinismo coincide com a filosofia quântica (que se baseia na mecânica quântica).
Segundo Bergson, a “duração real” é o tempo da consciência. A duração real é parcialmente o “tempo subjectivo”, embora Bergson fosse mais longe na definição das consequências da “duração real”.
Bergson separa a ideia de “consciência” da ideia de “objectos espaciais”, assim como a filosofia quântica separa a “consciência” da “função ondulatória quântica” vulgar. Contudo, na filosofia quântica a “consciência” é uma propriedade do Além espaço-tempo [John Wheeler], enquanto que em Bergson a “consciência” se situa dentro do espaço-tempo na medida em que Bergson define o tempo como a corrente da mudança que acontece através da evolução da “consciência”.
Na minha opinião, sem ter consciência disso porque no tempo em que ele viveu ainda não se conhecia este conceito, Bergson confunde “função ondulatória quântica” (FOQ) com “consciência”; o fluxo da mudança [ou tempo] é determinado pela FOQ que actua e define o espaço-tempo, enquanto que a “consciência” actua sobre a FOQ e é independente desta ― e portanto, a “consciência” é independente do espaço-tempo embora actue no espaço-tempo.
Portanto, existe uma confusão primordial em Bergson acerca da essência da consciência: por um lado, ele não transfere a consciência para o plano da consideração espacial e dos objectos físicos; por outro lado, Bergson situa a “consciência” no espaço-tempo ― ela existe em função do espaço-tempo na medida em que a evolução da “consciência” determina a corrente de mudança do devir [tempo]. Por isso é que Bergson admite a finitude da consciência no mesmo plano da finitude de uma substância viva (que processa energia, guarda informação e reproduz-se).
Bergson defende a ideia de que o objecto existe independentemente da consciência. Mais uma vez, Bergson refere-se exclusivamente à consciência humana e não em termos de um conceito universal de Consciência (com maiúscula) que é perfilhada pela filosofia quântica. Segundo a quântica, a consciência não é uma característica exclusivamente humana no sentido físico do conceito, isto é, a a exclusividade da consciência ligada a um corpo físico.
Segundo a filosofia quântica, a observação de um função ondulatória quântica define o seu estado de onda ou de partícula, e neste sentido, a filosofia quântica diz exactamente o oposto do que Bergson diz: a “Consciência” (com maiúscula), se é verdade que ela não define os objectos conforme a nossa condição de humanos os vêem, define ― através da observação consciente ― as “partículas elementares longevas” (PEL: electrões, neutrões, protões, etc) a partir das ondas quânticas, e são os PEL que constituem toda a matéria existente que nos aparece, no macrocosmos, como os objectos identificáveis e distintos entre si.
Bergson volta a contradizer-se com a ideia de “impulso vital” que atribui à “consciência” que, segundo ele, pertence ao espaço-tempo e que interage com a matéria. Se Bergson coincide com a filosofia quântica quando define o “impulso vital” como a substância formativa da matéria (dá a forma à matéria que é constituída pela “função ondulatória quântica”), acaba por se contradizer quando atribui à “consciência” as características da própria matéria que aquela molda, nomeadamente a finitude temporal.
Contudo, Bergson apresenta algumas ideias originais e positivas no que se refere à inteligência, intuição e instinto. Não cabe aqui agora falar nisso porque só este tema dava um outro postal.
Trata-se da ideia segundo a qual toda a evolução e em todo o universo é sinónimo de progresso através da evolução. Mesmo quando, aparentemente, parece existir um retrocesso, este é uma manifestação de progresso, isto é, a involução é apenas aparente.
Para conseguir com que a sua teoria tivesse alguma consistência, Spencer teve que conceber o Finito como uma derivação do Infinito, transformando o valor infinito num conceito religioso. Outra característica de Spencer é que procurou conciliar a religião e a ciência, coisa que Bergson também tentou fazer embora de forma diferente.
Bergson seguiu Spencer também no conceito de “duração da consciência finita ou infinita” que este último defendeu, sendo que o primeiro a transformou no conceito de “duração real”.
Desde logo, Bergson, como bom judeu e como praticamente todos os judeus que se dedicaram à filosofia [com a excepção de Maimónides], tem uma visão panteísta do universo. E quando Bergson defende a ideia de que ao místico é possível conseguir a visão do incognoscível [Deus] sem ter que postular uma religião em especial, revela o carácter gnóstico da sua filosofia.
O panteísmo, o Talmude e a Cabala estão intimamente ligados, assim como estes estão intimamente ligados ao gnosticismo e à maçonaria ― não só o gnosticismo cristão mas o gnosticismo entendido em termos gerais, como uma complexidade de influências.
Bergson parte do princípio de que a consciência [o espírito] é finita. O que Bergson fez foi trazer a ciência para a religião (através do evolucionismo espiritualista), enquanto que Spencer trouxe a religião para a ciência (através do evolucionismo naturalista). Parece uma contradição, mas o evolucionismo naturalista de Spencer apela à religião como complemento da teoria evolucionista, enquanto que Bergson faz o percurso inverso. No caso de Spencer, a religião é o limite da ciência; no caso de Bergson, a ciência é o limite da religião.
Porém, existem aspectos da teoria de Bergson que têm uma actualidade reconhecida. Desde logo, a ideia corroborada pela mecânica quântica segundo a qual o determinismo não existe na natureza senão como condição prévia de existência (a única coisa pré-determinada é o ser). Tudo o mais são possibilidades ou probabilidades.
Neste sentido, a determinação do futuro é impossível tendo como base uma relação causal, senão em termos das leis gerais da Física [Spencer] aplicadas ao macrocosmos ― e mesmo aqui, as leis da Física clássica podem ser anuladas por via da aplicação do princípio do “caminho da acção mínima” (ver no Google, least action principle). não sei até que ponto é que Bergson foi influenciado pelos físicos quânticos da década de 20 do século passado, mas a verdade é que em tudo a ideia de Bergson sobre o não-determinismo coincide com a filosofia quântica (que se baseia na mecânica quântica).
Segundo Bergson, a “duração real” é o tempo da consciência. A duração real é parcialmente o “tempo subjectivo”, embora Bergson fosse mais longe na definição das consequências da “duração real”.
Bergson separa a ideia de “consciência” da ideia de “objectos espaciais”, assim como a filosofia quântica separa a “consciência” da “função ondulatória quântica” vulgar. Contudo, na filosofia quântica a “consciência” é uma propriedade do Além espaço-tempo [John Wheeler], enquanto que em Bergson a “consciência” se situa dentro do espaço-tempo na medida em que Bergson define o tempo como a corrente da mudança que acontece através da evolução da “consciência”.
Na minha opinião, sem ter consciência disso porque no tempo em que ele viveu ainda não se conhecia este conceito, Bergson confunde “função ondulatória quântica” (FOQ) com “consciência”; o fluxo da mudança [ou tempo] é determinado pela FOQ que actua e define o espaço-tempo, enquanto que a “consciência” actua sobre a FOQ e é independente desta ― e portanto, a “consciência” é independente do espaço-tempo embora actue no espaço-tempo.
Portanto, existe uma confusão primordial em Bergson acerca da essência da consciência: por um lado, ele não transfere a consciência para o plano da consideração espacial e dos objectos físicos; por outro lado, Bergson situa a “consciência” no espaço-tempo ― ela existe em função do espaço-tempo na medida em que a evolução da “consciência” determina a corrente de mudança do devir [tempo]. Por isso é que Bergson admite a finitude da consciência no mesmo plano da finitude de uma substância viva (que processa energia, guarda informação e reproduz-se).
Bergson defende a ideia de que o objecto existe independentemente da consciência. Mais uma vez, Bergson refere-se exclusivamente à consciência humana e não em termos de um conceito universal de Consciência (com maiúscula) que é perfilhada pela filosofia quântica. Segundo a quântica, a consciência não é uma característica exclusivamente humana no sentido físico do conceito, isto é, a a exclusividade da consciência ligada a um corpo físico.
Segundo a filosofia quântica, a observação de um função ondulatória quântica define o seu estado de onda ou de partícula, e neste sentido, a filosofia quântica diz exactamente o oposto do que Bergson diz: a “Consciência” (com maiúscula), se é verdade que ela não define os objectos conforme a nossa condição de humanos os vêem, define ― através da observação consciente ― as “partículas elementares longevas” (PEL: electrões, neutrões, protões, etc) a partir das ondas quânticas, e são os PEL que constituem toda a matéria existente que nos aparece, no macrocosmos, como os objectos identificáveis e distintos entre si.
Bergson volta a contradizer-se com a ideia de “impulso vital” que atribui à “consciência” que, segundo ele, pertence ao espaço-tempo e que interage com a matéria. Se Bergson coincide com a filosofia quântica quando define o “impulso vital” como a substância formativa da matéria (dá a forma à matéria que é constituída pela “função ondulatória quântica”), acaba por se contradizer quando atribui à “consciência” as características da própria matéria que aquela molda, nomeadamente a finitude temporal.
Contudo, Bergson apresenta algumas ideias originais e positivas no que se refere à inteligência, intuição e instinto. Não cabe aqui agora falar nisso porque só este tema dava um outro postal.
Amor
Fonte
Perspectivas
http://espectivas.wordpress.com/2009/07/16/henri-bergson/
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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