Mozart - Piano Sonata No. 8 in A minor.K310 - 22min
A paciência para a psicologia – Entrevista
1- Para a psicologia o que é paciência?
A paciência, para a psicologia, tem o mesmo sentido que para o senso comum, ou seja, é a qualidade de quem é paciente e possui resignação. A palavra surge em meados do século
XIV a partir do antepositivo latim pass- também presente na origem de
diversas palavras como passar, passageiro e passado. Com isso, não há um
conceito específico da psicologia sobre a paciência. O termo é
utilizado igual ao que utilizamos no cotidiano.
2- Qual é o poder da paciência?
A paciência é uma virtude que traz em si uma série de benefícios para o indivíduo e para a sociedade.
Uma pessoa paciente é resignada, resiliente, o que significa que ela
consegue suportar uma contrariedade temporária sem reagir de forma
inadequada. Outra característica é que com a paciência é possível desenvolver habilidades a longo prazo,
já que é necessário ser paciente para ser especialista em qualquer
área, pois para ser especialista leva-se em torno de dez anos. Sem a
paciência, portanto, não há possibilidade de continuar e concluir uma
tarefa estipulada a longo prazo. Como diz Santo Agostinho: “a paciência é
companheira da sabedoria”.
- Veja também o texto – O poder da paciência
3- Como trabalhar a paciência em nossas esperas diárias (a de um casamento, gravidez, vestibular, etc)
Existem diversas técnicas da psicologia que auxiliam no desenvolvimento da paciência.
Dizendo de um modo
geral, a paciência estará presente no horizonte mental e emocional
quando a pessoa souber que aquele momento presente – embora
desagradável, ruim ou desinteressante para os próprios desejos –
passará, será passageiro, e logo a seguir virão momentos melhores, pois
todos os fenômenos são efêmeros e, necessariamente, passageiros.
A religião também
elaborou em sua história práticas que permitem adquirir mais paciência.
Nestas estão inclusas a meditação, os exercícios de Inácio de Loyola, as
orações, as missas. Assim como na psicologia, a ideia central para a
paciência – nestas práticas – é de que haverá um futuro melhor (o céu ou
paraíso como recompensa) com relação ao presente nem sempre do modo
como queremos.
4- Há como potencializar a paciência? Como seria?
Sim, existem diversas
técnicas. Nem sempre uma determinada técnica, entretanto, é adequada
para uma pessoa específica. Por exemplo, existe a técnica de olhar o
presente sub specie aeternitatis, do filósofo Baruch Spinoza que
consiste em ver o momento atual sob a perspectiva da eternidade. Com um
longo tempo a frente, qualquer coisa acaba se tornando insignificante e,
com isto, temos mais paciência.
- Saiba mais sobre esta técnica aqui – Mudar o significado – 12° forma
Com um longo espaço,
também, podemos desenvolver mais paciência. Uma pessoa que vê um
determinado acontecimento de uma grande distância – em seu foco mental –
como se estivesse do espaço observando um momento ruim na terra, com
certeza perceberá quão pequeno pode ser um evento irritante ou
desagradável e deste modo a paciência surge.
O que é importante
salientar é que as pessoas, embora tenham qualidades em comum, possuem
sua individualidade. E, por isso, a ajuda profissional de um psicólogo
ou psicóloga ajudará o indivíduo a encontrar a melhor técnica para
desenvolver a paciência e outras virtudes e capacidades.
5- Por que hoje as pessoas estão tão impacientes? O que as leva a isso?
As pessoas estão hoje
tão impacientes como no passado. Neste sentido, a alma ou psique humana
apresenta uma constância ao longo dos séculos. A diferença em relação
aos tempos atuais é que as concepções gerais indicam que tudo deve ser
feito de imediato. Não fazer algo ou não atingir um objetivo no curto ou
médio prazo é sinal de fraqueza, burrice, incapacidade. Com isto, é
criado um sentimento de que tudo tem que ser para já, para agora. Na
medida em que controlamos, cada um, uma pequena parte da realidade, ou
seja, não podemos mudar ou controlar tudo o que está ao nosso redor,
ansiedade, depressão tendem a aparecer, quando não aparece a impaciência
aliada a sentimentos de raiva, ódio ou tédio
6- A impaciência e a busca pelo imediato é uma característica humana desse século? Esse problema é contemporâneo?
Creio que sim. Com a
Revolução Industrial o tempo passou a ser contado em segundos. Isto é um
acontecimento sem precedentes. Com o tempo sendo contado em segundos,
depois em microsegundos, nanosegundos e com o advento da internet, na
qual uma pesquisa pode reverter respostas em 0,28 segundos, há realmente
uma tendência de aumentar a impaciência. Muitas pessoas acham que um
computador, tablet ou celular que demore alguns segundos para uma
determinada ação é algo inútil, então, o imediato, o instantâneo é cada
vez mais valorizado.
Com isto, a paciência de
fazer uma pesquisa como um mestrado ou doutorado que deve ser realizada
contando-se o tempo em alguns anos, torna-se algo inviável, por
exemplo.
7- A falta de paciência pode ser considerada uma doença?
Não necessariamente.
Cada virtude e cada vício possui uma determinada função. Para alguns, a
impaciência, a pressa, a inquietação poderia até ser pensada como uma
característica de personalidade positiva. Alguns trabalhos exigem este
perfil. Assim, em uma seleção de recursos humanos, se a empresa deseja
alguém rápido, ágil, acelerado, dificilmente a paciência, calma e a
tranquilidade serão valorizados. Nem sempre um vício é ruim, assim como
nem sempre uma virtude é boa. Há a necessidade de considerarmos a
situação para emitirmos um julgamento de valor.
De qualquer modo, a
impaciência não é uma doença mental. Mas com certeza pode ser incluída
na descrição de sintomas de diversas doenças como nos transtornos de
ansiedade.
8- A ansiedade e a irritação surgem a partir da falta de paciência?
A palavra ansiedade é
uma má tradução da palavra angst, em alemão, traduzida para o inglês
como anxiety na psicanálise de Freud. O sentido original é angústia,
que, em resumo, é um profundo conflito inconsciente que se expressa em
sentimentos como medo, temor, incapacidade de reação, etc. Neste
sentido, a falta de paciência não surge a partir da angústia. Se
tomarmos o termo ansiedade não em seu significado técnico, podemos dizer
sim que a falta de paciência está relacionada com a irritação e
ansiedade, se ansiedade for a vontade ou premência de que algo ocorra
logo.
9- Como os jovens são atingidos hoje por essa falta de paciência? O que fazer?
A diferença entre os
jovens e os adultos e idosos é que os primeiros já cresceram em um mundo
superacelerado com o surgimento das tecnologias da informática,
internet e telecomunicações. Evidentemente, não faz sentido lutar contra
este estado de coisas já que os benefícios são maiores que os
malefícios. Uma forma de contrabalancear é propor os antigos jogos e
brincadeiras, esportes, atividades lúdicas e artísticas para que o tempo
seja dividido entre as atividades ligadas às tecnologias e
comportamentos independentes destas.
10- Os homens são mais impacientes que as mulheres? De que forma os dois vêem essa questão?
Não é possível fazer uma comparação nestes termos. As diferenças são sempre individuais e não de gênero.
11- Como as pessoas podem trabalhar a impaciência e melhorar a vida.
Ao contrário do que pode
parecer a princípio, uma sensação corporal ou um determinado sentimento
possui uma existência realmente fugidia, de alguns segundos ou minutos.
Na medida em que podemos qualificar os sentimentos e sensações como
negativos, neutros ou positivos e, sabendo de sua característica de
efemeridade, podemos começar a entender os movimentos que ocorrem
internamente e externamente. Em outras palavras, se algo ruim acontece,
em pouco tempo, ele terá desaparecido para o nascimento de outro evento.
Sendo bom ou ruim ou indiferente, cada evento não é eterno, não dura
para sempre.
Podemos então passar a
considerar o momento presente em sua totalidade, independente de sua
qualidade emocional. Outra forma é observar o momento de uma perspectiva
distanciada, como se estivéssemos no espaço ou em um avião. Assim, tudo
fica pequeno e um acontecimento ruim fica bem menor. Ainda outra forma é
olhar sub specie aeternitatis, sob a perspectiva da eternidade. Se algo
ruim aconteceu – o que será isto daqui a cinco, dez anos?
O que será
isto na eternidade?
Curiosamente, o paciente
é aquele que tem paciência ou aquele que busca tratamento médico ou
psicológico, quando, na verdade, o paciente em busca de tratamento deve
ser justamente o seu oposto, o impaciente. Para alguns casos, portanto,
somente a terapia psicológica pode auxiliar no desenvolvimento da calma,
da tranquilidade, da paciência.
Entrevista concedida ao Jornal de Opinião,
da Rede Catedral, pelo Psicólogo Felipe de Souza
Fontes:
Licença padrão do YouTube
http://www.psicologiamsn.com/2012/11/
a-paciencia-para-a-psicologia-entrevista.html
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