sexta-feira, 7 de março de 2014

O QUE É E PARA QUE SERVE A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL...



PROGRAMA VIDA INTELIGENTE - O QUE É E PARA QUE SERVE A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 

A Psicologia Transpessoal é a única abordagem psicológica que considera e
inclui no seu corpo teórico o conceito de espiritualidade. Ela integra
em seu escopo teórico a noção de energia" "alma", "espírito", "prana",
"ki", ou seja, o entendimento que existe algo além do corpo e da mente. 

A psicologia transpessoal reconcilia práticas de tradições milenares da
humanidade unindo-as às mais recentes descobertas da física quântica, da
neurociência, da biologia e demais ciências, com o objetivo de aplicar
esses conhecimentos à vida pessoal e profissional do indivíduo. Tem por
objetivo, através de sua teoria e suas técnicas, desenvolver a natureza
mais profunda do ser humano, propiciando condições para sua
auto-realização interior, sua saúde física, emocional e espiritual,
buscando a expansão da consciência (salto quântico), objetivo maior da
existência humana. 

Nossa convidada é Eneida Lima de Oliveira, Psicóloga
 

MPH -- Master Practicioner Hypnosis, especialista em Psicologia
Transpessoal; Pioneira da Transpessoal em SC e no Brasil. Sua
trajetória: Coordenadora do Primeiro Curso de Pós Graduação em
Psicologia Transpessoal do Brasil (em parceria com a Alubrat --
Associação Luso-Brasileira de Psicologia Transpessoal); Coordenadora do
Curso de Formação em Hipnose Clínica (IBHA -- Instituto Brasileiro de
Hipnose Aplicada -- RJ); Coordenadora do Curso de Formação em Terapias
da Consciência (Centro de Difusão de Estudos da Consciência -- SP);
Formação em Psicanálise e Psicodrama; Mentora, Coordenadora e Docente
de oito Cursos de Especialização em Psicologia Transpessoal; Escritora
com livros publicados pela Editora Cultrix/Pensamento. Psicoterapeuta de
adultos e grupos, atuando em terapia há mais de 25 anos. Seu contato é
www.izen.com.br.



 Psicologia Transpessoal


Não apenas é o homem parte da natureza - e esta é parte sua - como deve ser minimamente isomórfico (semelhante a) com ela para nela ser viável. Ela o gerou. Sua comunhão com aquilo que o transcende não precisa ser definida, portanto, como não-natural ou sobrenatural. Pode ser vista como uma experiência 'biológica'.
- Abraham Maslow

O Que é e Como Surgiu a Psicologia Transpessoal
Foi em meados da década de sessenta, durante o rápido desenvolvimento e aceitação dos pressupostos básicos da psicologia humanista, com Maslow e Rogers, que alguns psicólogos e psiquiatras começaram a discutir quais os limites e características a que seria possível chegar o potencial da consciência humana. Muitos pesquisadores achavam que a visão da psique dada pela Psicanálise e pelo Behaviorismo eram, no mínimo, bastante simplificadas e reducionistas, não explicando uma grande gama de fenômenos mentais que escapavam - e muito - do campo de alcance de tais teorias. E a Psiquiatria dava ainda menos clareza sobre uma ampla gama de estados de consciência claramente chocantes e, ao mesmo tempo, fascinantes, que não podiam se restringir unicamente à história orgânico-biográfica de alguns pacientes.

A grande maioria dos teóricos da personalidade toma por fundamento básico a consciência em estado de vigília, ou consciência normal, como sendo a única possibilidade saudável de nível de percepção cognitiva. As características básicas desta consciência normal, segundo Fadiman & Frager, é que a pessoa sabe "quem é", tem perfeita noção de si mesma como uma individualidade, e seu sentido de identidade é estável. Ou seja, a pessoa tem uma ideia clara de ser uma individualidade diferenciada do meio que a cerca. Estudos vários sobre a imagem corporal e do sentido do ego concluem que qualquer desvio desses limites é um grave sintoma psicopatológico. Só que tal conclusão começou a ser seriamente questionada com vários relatos e pesquisas sérias realizadas em várias partes do mundo.

Às vezes, experiências correlacionadas com um declínio de uma psicopatologia e com a restauração da saúde psíquica podem muito bem expor experiências subjetivas que ultrapassam e muito os chamados limites normais do ego. William James já o havia notado em fins do século passado. O resultado de muitas destas pesquisas, muitas delas envolvendo psiquiatras e psicólogos famosos, levantou uma séria questão: seria possível que algumas das distinções que mantemos entre nós mesmos e o resto do mundo sejam arbitrárias e/ou culturalmente condicionadas? Talvez a consciência humana seja um vasto campo ou espectro, semelhante ao espectro eletromagnético, onde cada "frequência" expressaria um modo de percepção, muito mais que um conjunto firme de traços ou características rigidamente definidas de expressão, já que em certas experiências - algumas delas envolvendo psicodélicos ou drogas psicoativas - a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma continuidade com sua identidade do ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências no mundo convencional.

Vejamos esta descrição, feita por Stanislav Grof, de experiências correlacionadas com o declínio de uma patologia de Fadiman & Frager, 1986, página 168):

"No estado de consciência 'normal' ou usual, o indivíduo se experimenta existindo dentro dos limites de seu corpo físico (a imagem corporal), e sua percepção do meio ambiente é restringida pela extensão, fisicamente determinada, de seus órgãos de percepção externa; tanto a percepção interna quanto à percepção do meio ambiente estão confinadas dentro dos limites do espaço e do tempo (numa aceitação cultural das premissas do paradigma cartesiano, próprio da visão de mundo ocidental nos últimos 300 anos). Em experiências psicodélicas (área explorada por Grof em fins dos anos 50, na Tchecoslováquia, e nos anos 60 nos EUA) de cunho transpessoais, uma ou várias destas limitações parecem ser transcendidas (este fenômeno também se encontra, de modo esporádico, nas várias terapias psicológicas, tendo recebido nomes como "Experiências Oceânicas" em Freud, "Experiências Culminantes" em Maslow, "Consciência Cósmica", em Weil, "Experiência Mística", etc). Em alguns casos, o sujeito experiência um afrouxamento de seus limites usuais de ego e sua consciência e autopercepção parecem expandir-se para incluir e abranger outros indivíduos e elementos do mundo externo.

 Em outros casos, ele continua experienciando sua própria identidade, mas numa percepção de tempo diferente, num lugar diferente ou em um diferente contexto. Ainda em outros casos, o indivíduo pode experienciar uma completa perda de sua própria identidade egóica e uma total identificação com a consciência de uma 'outra' entidade. Finalmente (em similaridade com o que experiência o místico), numa categoria bastante ampla destas experiências psicodélicas transpessoais (experiências arquetípicas, união com Deus, etc.), a consciência do sujeito parece abranger elementos que não têm nenhuma continuidade com a sua identidade de ego usual e que não podem ser considerados simples derivativos de suas experiências do mundo tridimensional".

São, pois, estas experiências culminantes 
que são o foco central da Psicologia Transpessoal.
Muitos renomados psicólogos humanísticos e alguns psiquiatras insatisfeitos com a abordagem excessivamente mecanicista e biomédica de sua disciplina mostraram crescente interesse por áreas de estudo antes negligenciadas, e por tópicos de psicologia próximas a estes estados-alterados de consciência, como, por exemplo, as experiências místicas, ou de consciência de transe.

As tendências isoladas começaram a se unir graças aos trabalhos de Abraham Maslow e Anthony Sutich, o que acabou por consolidar a chamada Quarta Força em Psicologia (esta classificação é feita com base em características próprias de cada escola, não pelo contexto histórico. Assim, a Primeira seria o Behaviorismo, a Segunda a Psicanálise e a Terceira o Humanismo). Foi assim que nasceu a Psicologia Transpessoal, como disciplina autônoma, no final dos anos sessenta, mas as tendências desse movimento já existiam há muito tempo. Por exemplo, Carl Gustav Jung, Roberto Assagioli e o próprio Maslow já haviam lançado as bases para o movimento transpessoal (Grof, 1988). Outros psicólogos, como Carl Rogers, acabaram, na evolução de seu trabalho e de sua prática clínica, por se encontrarem com dimensões transcendentes trazidos à tona por clientes e grupos terapêuticos.

Carl Gustav Jung pode ser considerado o mentor máximo e o primeiro psicólogo transpessoal. As diferenças entre a Psicanálise Freudiana e as teorias de Jung são muito bem representativas das diferenças entre uma psicoterapia mecanicista e biomédica e uma mais humana e holística. Ainda que Freud e muitos dos seus discípulos tenham ido muito a fundo nas suas revisões da psicologia ocidental, atingindo os limites do paradigma cartesiano em Psicologia, apenas Jung questionou radicalmente seus fundamentos filosóficos: a visão de mundo de Descartes e Newton. Jung salientou, de modo convincente, aspectos não racionais e não lineares da psique, que inclui o misterioso, o criativo e o espiritual como meios válidos, ou formas holísticas-intuitivas de conhecimento.

Jung via a psique como uma interação complementar entre elementos conscientes e inconscientes, com uma constante troca de informação e fluidez entre ambos. O inconsciente não seria um mero depósito psicobiológico de tendências instintivas reprimidas. Ele seria um princípio ativo inteligente, que, em seu estrato mais profundo, ligaria o indivíduo a toda a humanidade, à natureza e ao cosmos. Ele não seria governado apenas pelo determinismo histórico, como postulado por Freud, mas também por uma ânsia evolutiva com uma função projetiva e teleológica.

Estudando a dinâmica do inconsciente, Jung descobriu as unidades funcionais que chamou de complexos e, como tais, foram adotadas por Freud. Os complexos são constelações de elementos psíquicos - ideias, opiniões, atitudes e convicções - associados com sensações diversas e que se juntam ao redor de um tema nuclear. Partindo de áreas biograficamente determinadas do inconsciente, Jung chegou aos padrões de criação dos mitos, lendas e símbolos universais, aos quais ele deu o nome de arquétipos e que expressam, de forma simbólica, conteúdos psíquicos de significação emocional universal, como o processo de maturação psíquica e outros.

Jung não acreditava que o ser humano fosse uma mera máquina biológica. O conceito de máquina é extremamente antropomórfico para ser um conceito natural. Além disso, ele reconhecia que o processo de maturação psíquica pode, em certos casos, transcender e muito os estreitos limites do ego e do inconsciente individual. Por isso ele é considerado o primeiro representante da orientação transpessoal em psicologia.

Pela sutil e cuidadosa análise de seus próprios sonhos, tal como antes fizera Freud, bem como dos sonhos de seus pacientes e dos delírios de pacientes psicóticos, Jung descobriu que os sonhos têm, algumas vezes, imagens e motivos que se repetem e que podem ser encontrados não só nas diversas partes do mundo, como também em deferentes períodos da história. Assim, ele chegou à conclusão de que, além do inconsciente individual, há um inconsciente coletivo ou racial, comum a toda a humanidade, manifestação da criatividade universal. As únicas fontes de informação sobre os aspectos coletivos do inconsciente seriam o estudo das religiões comparadas e da mitologia universal. Para Freud, os mitos podem ser interpretados em termos de problemas e conflitos característicos da infância e sua universalidade reflete o conjunto da experiência humana compartilhada culturalmente.

Jung rejeitou tal explicação reducionista. Ele havia observado que os enredos mitológicos universais ocorriam em indivíduos que não tinham, de maneira alguma, qualquer conhecimento deles. Isso lhe sugeriu que haveria elementos estruturais formadores de mitos na psique inconsciente. Tais elementos originariam tanto a fantasia viva e os sonhos pessoais quanto à mitologia dos povos. Assim, os sonhos podem ser encarados como mitos individuais e os mitos, como sonhos coletivos. De qualquer modo, estas matrizes primárias são como a expressão instintual do potencial psíquico que cada indivíduo terá de, em seu crescimento, desenvolver.

Freud sempre demonstrou durante toda a sua vida um apaixonante interesse por religião e espiritualidade, mas como expressão de recalques do desenvolvimento psicossexual do homem expresso na forma da cultura religiosa. Ele acreditava que era possível uma compreensão do processo irracional conflitivo, que viria das fases do desenvolvimento psicossexual, responsável pelo surgimento da religião. Jung, ao contrário, dispunha-se a aceitar o irracional e o paradoxal como válidos em si mesmos. Ele estava convicto da realidade da dimensão espiritual no esquema universal das coisas. Sua suposição básica era que o elemento espiritual é uma parte orgânica integral da psique.

A verdadeira espiritualidade, ou a sua busca, é um aspecto pulsional do inconsciente coletivo, independente do condicionamento da infância e da vida do indivíduo, do ponto de vista cultural e educacional. Assim, se a análise e a auto-exploração alcançam suficiente profundidade, os elementos espirituais emergem espontaneamante na consciência. A maior contribuição de Jung para a psicoterapia é seu reconhecimento das dimensões espirituais da psique e suas descobertas nos campos transpessoais.

O que faz de Jung um gênio na psicologia moderna é sua ampla visão, que vai bem além de sua época, e o seu método científico. O enfoque de Freud era estritamente histórico e determinístico, bem ao gosto do paradigma cartesiano-newtonino; ele se interessava em encontrar explicações lineares-racionais para todos os fenômenos psíquicos, seguindo uma gênese histórico-biográfica. Jung estava convencido de que a causalidade linear não era o único princípio mandatário na natureza. Ele criou um termo, sincronicidade, para designar um princípio de ligação entre eventos de forma NÃO-causal, o que explicaria as chamadas coincidências significativas de eventos separados no tempo e/ou no espaço.

Também se interessava intensamente pelo desenvolvimento da Física Moderna e mantinha estreito contato com seus representantes mais proeminentes. Foi Einstein que, durante um encontro pessoal, encorajou Jung a perseguir o conceito de sincronicidade, e Wolfgang Pauli, um dos fundadores da teoria quântica, publicou um ensaio conjunto com Jung sobre sincronicidade, bem como escreveu um estudo sobre os arquétipos na obra do físico Johannes Kepler. Não deixa de ser tremendamente irônico o fato de que, embora Freud se orgulhasse de a Psicanálise ser atrelada ao mecanicismo newtoniano e de que os psicanalistas serem "mecanicistas incorrigíveis", ter sido a psicologia "esotérica" de Jung a que tenha exercido maior impacto entre os gênios da ciência moderna.

Mas o que tem a ver Física e Psicologia? Bem, os Físicos modernos têm muito a dizer sobre a importância da consciência na definição do que seja realidade. Eles, juntamente com os místicos genuínos, parecem estar cada vez mais próximos uns dos outros em suas tentativas para descrever o que seja o universo (ver os excelentes livros de Fritjof Capra e de Lawrence Leshan). Os resultados das experiências transpessoais sugerem que a natureza da gênese da consciência podem ser mais realisticamente descritas por místicos e físicos modernos do que pela mais estável e aceita linha psicológica acadêmica.

Muitos autores (Abraham Maslow, Pierre Weil, Stanislav Grof, Ken Wilber, Walsh, Vaughan entre outros) oferecem a evidência de que os assim chamados "estados alterados" são não só naturais, como também são necessários para o bem-estar e a saúde do indivíduo, após atingir um certo grau de desenvolvimento cognitivo e ter atendido as necessidades básicas mais urgentes. Maslow acredita que, a menos que tenhamos oportunidade de mudarmos nosso estado de consciência, podem se desenvolver sintomas emocionais graves se impedirmos o afloramento dos níveis transcendentes da personalidade. Da mesma forma como existe uma pulsão para a experiência sexual, também parece haver uma pulsão para o desenvolvimento de níveis de percepção.

Roberto Assagioli
Outro autor de importância para o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal é Roberto Assagioli. Ele é o criador da psicossíntese, que é um tipo de resposta ao método fragmentar da psicanálise, onde está claro a responsabilidade do indivíduo no processo do próprio crescimento, que é um impulso constante em todos as pessoas, apesar de relativamente tênue, embora poucas se dêem à chance de se desenvolverem plenamente.

A cartografia de Assagioli sobre a personalidade humana tem muito em comum com o modelo junguiano da psique, uma vez que inclui os campos espirituais e os elementos coletivos da psique. Ele se constitui de sete constituintes dinâmicos: o inconsciente inferior orienta as atividades psicológicas básicas, como as pulsões sexuais e os complexos emocionais. O inconsciente médio seria algo como o subconsciente. O campo superconsciente é o local dos sentimentos e aptidões superiores, onde se localizam a intuição e a inspiração. O campo da consciência inclui os pensamentos e sentimentos analisáveis. O ponto central da psique é o self. Todos esses componentes são anexados ao inconsciente coletivo.

O processo terapêutico fundamental da psicossíntese envolve quatro estágios consecutivos. Primeiro, o cliente toma conhecimento dos vários elementos (didaticamente falando) de sua personalidade, o que inclui seu ego ideal e o seu ego real, com todos os defeitos que a pessoa gostaria de suprimir. Depois que estiver bem familiarizado com eles, ele terá que começar a se desidentificar com esses elementos (conhecer-se a si mesmo e perceber que suas várias características são apenas características, não o fundamento do ser, ou self). Depois que a pessoa descobre seu centro psicológico unificador, é possível a realização total da psicossíntese, caracterizada pela culminância do processo de auto-realização pela integração dos componentes da personalidade à volta do novo centro, o self.

Abraham Maslow

Foi Abraham Maslow quem primeiro formulou, explicitamente, os princípios da psicologia transpessoal como uma abordagem diferenciada. Uma de suas mais importantes contribuições é seu estudo sobre pessoas que vivenciaram, espontaneamente, as chamadas experiências místicas de "pico". Na psicoterapia tradicional, experiências místicas de qualquer tipo são sempre taxadas como sérias psicopatologias. Em seu muito bem-feito estudo, Maslow demonstrou que as pessoas que tiveram experiências espontâneas de "pico" beneficiavam-se delas e mostravam uma claríssima tendência para a auto-realização, que é o objetivo da psicoterapia humanística. Ele julgou estas experiências como supernormais em vez de subnormais. A partir desse fato, ele erigiu os fundamentos da nova psicologia.

Um outro aspecto importante do trabalho de Maslow é a análise das necessidades humanas e sua revisão geral da teoria dos instintos. Ele descobriu que as maiores necessidades representam um aspecto importante e autêntico das estrutura da personalidade humana e não pode ser reduzido a uma mera derivação de instintos básicos (a idéia de instinto sugere uma busca da ligação do comportamento humano dentro das diretrizes da ciência mecanicista convencional). Segundo ele, as maiores necessidades têm um papel importante na doença e na saúde mental. Valores superiores (metavalores) e os impulsos para alcançá-los (meta motivações) são intrínsecos à natureza humana, possuindo uma fundamentação tão biológica quanto à pulsão sexual, por exemplo.

Eis as palavras de Maslow anunciando o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal (Maslow, 1968, página 12):

"Devo também dizer que considero a Psicologia Humanística, ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Força ainda "mais elevada", transpessoal, transumana, centrada mais na ecologia universal do que nas necessidades interesses restritos ao ego, indo além da identidade, da individuação e congêneres... Necessitamos de algo "maior do que somos", que seja respeitado por nós mesmos e a que nos entreguemos num novo sentido, naturalista, empírico, não-eclesiástico, talvez como Thoreau e Whitman, William James e John Dewey fizeram".

Carl Rogers
Apesar de não ser incluído, pela maioria dos autores, como um psicólogo transpessoal, mas como um dos mais significativos psicólogos humanistas, não escapou a Carl Rogers as chamadas dimensões transcendentes ou espirituais que freqüentemente emergiam no contexto terapêutico, especialmente em termos de Terapia de Grupo, na qual Rogers foi grande pioneiro. E foi exatamente a partir do revolucionário trabalho com Grandes Grupos e em Workshorps, na última fase de sua formulação teórica, que a temática transpessoal começa a se delinear nos escritos do criador da Abordagem Centrada na Pessoa, e nos escritos de seus principais colaboradores. John K. Wood, por exemplo, escreveu o seguinte comentário (Rogers, 1983b) sobre as ocorrências transpessoais que costumam ocorrer em Grandes Grupos:

Frequentemente as pessoas compartilham e falam de sonhos sem interpretação ou comentário. Sonhos comuns muitas vezes ocorrem. Algumas pessoas reportam "experiências místicas" (...). As mesmas ideias e mitos [imagens arquetípicas] freqüentemente emergem de várias pessoas ao mesmo tempo. (Rogers, 1983b, p. 34)

O próprio Rogers se refere muitas vezes em suas últimas obras às percepções transpessoais e fenômenos congêneres de estados sutis de consciência, e estabelece que estes são eventos observáveis e inerentes ao trabalho bem sucedido com Grandes Grupos e Workshops:

O outro aspecto importante do processo de formação de [Grandes Grupos] com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a estrema sabedoria do grupo, a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação de que existe "algo mais", parecem exigir tais termos (Rogers, 1983a, p. 62).

Tenho a certeza de que este tipo de fenômeno transcendente às vezes é vivido em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloquente: "Acho que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos uns pelos outros. Senti o poder de força vital que anima cada um de nós, não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais do 'eu' e do 'você' - foi como uma experiência de meditação, quando me sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais ampla, universal. (Rogers, 1983a, pp. 47-48)

De certa forma, Rogers parecia estar indicando que a ACP por ele elaborada, junto com seus colaboradores, estaria se desenvolvendo a ponto de incluir as dimensões transpessoais em seu arcabouço teórico, mas a sua morte o impediu de levar adiante seus insights:

Tenho a certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual ou mística (Rogers, 1983a, p. 53).

Características de uma nova Psicologia
A nova psicologia que surge, apoiada numa concepção holística e sistêmica, considera o organismo humano como um todo integrado que envolve padrões físicos, mentais, sociais e espirituais. Assim, a base conceitual da Psicologia dever ser compatível tanto com a da Biologia quanto da Sociologia, Antropologia e Filosofia. No modelo acadêmico moderno, a estrutura voltada à especialização do conhecimento tornou muito difícil a comunicação entre as disciplinas, e entre biólogos e psicólogos o entendimento era muito sofrido. E pior era a comunicação, cheia de medos e ressentimentos, entre psicólogos e médicos. Mas a abordagem sistêmica fornece um terreno propício para a compreensão das manifestações psicossomática do organismo na saúde e na doença, permitindo um intercâmbio, desde que se queira, entre biomédicos e psicólogos.

O foco central da psicologia está tendendo a se transferir das estruturas psicológicas para os processos relacionais subjacentes. A psique humana é vista como um sistema dinâmico que envolve uma variedade de fenômenos ligados à auto-atualização e crescimento contínuos. Assim, a psique teria um tipo de inteligência intrínseca que a habilita a envolver-se a tal ponto com o meio, que este processo pode levar não só a uma doença, mas também ao processo de cura e crescimento, como a concepção de autotranscendência da teoria dos sistemas.

O Espectro da Consciência

Um dos sistemas didáticos, em psicologia, que procura integrar os diferentes insights das várias escolas psicoterapêuticas do ocidente entre si, e estas com as várias abordagens orientais, é a Psicologia do Espectro, proposta por Ken Wilber, como um modelo da compreensão transpessoal das diferenças entre psicoterapias. Nele, cada uma das diferentes escolas é vista como uma faixa que se dedica a um aspecto específico do total a que se pode apresentar a consciência humana. Cada uma dessas escolas aponta para um estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso de identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego até à suprema identidade com todo o universo, que é o nível extremo da consciência transpessoal. Este espectro pode ser entendido a partir de quatro níveis: o do ego, o biossocial, o existencial e o transpessoal.

No nível do ego, a pessoa não se identifica, a rigor, com o seu organismo, mas com uma representação mental, ou com um conceito do mesmo, como uma auto-imagem construída, ou egóica. É, pois, um problema de identificação com um modelo que a pessoa aceita, num investimento, como sendo seu "eu". Existe - para ela - um "eu" que é diferente e independente de tudo e de todos. A pessoa não se interessa muito em cultivar relações interpessoas sem que haja uma vantagem específica para o ego, e muito menos se preocupa com aspectos ecológicos ou sociais.

O nível biossocial já envolve a consciência e a preocupação com o nível e com os aspectos do ambiente social da pessoa. A influência preponderante é a de padrões culturais e sociais. A pessoa sente como fazendo parte - e tendo alguma responsabilidade - pelo seu meio-ambiente social e natural.

O Nível Existencial é o nível do organismo total, caracterizado por um senso de identidade corpo/mente auto-organizador. É o nível dos ideais humanistas e do pensamento mais sofisticado, em termos de filosofia de vida. Emoção e razão estão mais ou menos associadas para o crescimento e o desenvolvimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam razoavelmente propícios. Quando não, ainda assim a pessoa luta para se auto-atualizar e a ajudar seus semelhantes. Alto grau de desenvolvimento moral é freqüentemente associado a este estágio.

O nível transpessoal é o nível da expansão da consciência para além das fronteiras do ego, correspondendo a um senso de identidade mais amplo. Elas podem envolver percepções do meio ambiente, onde tudo está, de uma forma sutil, mas muito presente, ligado - de forma NÃO LINEAR - a tudo. É o nível do inconsciente coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados, tal como descritos por Jung e seguidores. É também neste nível de percepção que podem - mas não necessariamente ocorrem ou são regra geral próprias de uma percepção transpessoal - surgir, como eventos secundários, certos fenômenos parapsicológicos, como telepatia, precognição ou - o que não tipifica um fenômeno parapsicológico, mas sim psicológico - lembranças de vidas passadas. É uma forma extremamente sofisticada e não ordinária de consciência em que a pessoa não aceita mais a crença uma separação rígida entre ela e todo o universo, a não ser como uma forma de atuar praticamente sobre o meio em que vive com outras pessoas. Essa forma de consciência transcende,e muito, o raciocínio lógico convencional, e aproxima-se das assim chamadas experiências místicas. E é este estado que é objeto mais íntimo de estudo da Psicologia Transpessoal.

Enfim, para terminar, é preciso definir o relacionamento entre a prática da psicologia transpessoal e os enfoques tradicionais de psicoterapia. O que caracteriza um terapeuta transpessoal não é o seu conteúdo, mas o contexto. O conteúdo é determinado pela relação terapêutica em si, entre cliente e terapeuta, como bem o estabeleceu Carl Rogers. Um terapeuta transpessoal lida com os problemas que emergem durante o processo terapêutico, incluindo acontecimentos mundanos, fatos biográficos e problemas existenciais. O que realmente define a orientação transpessoal é um modelo da psique humana que reconhece a importância das dimensões espirituais e o potencial para a evolução da consciência. O terapeuta transpessoal deve ser consciente do espectro total e deve sempre acompanhar o cliente a novos campos experiências, quando há oportunidade, não importando qual o nível que o processo terapêutico esteja focalizando.

Compilado por Maria de Fátima Estimado Corga – Psicóloga - CRP 13521/06, Terapeuta do Instituto Luz

Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Mestrando em Sociologia – PPGS - UFPB

        De uma forma mais ou menos resumida, pode-se definir a Psicologia Transpessoal como uma abordagem que tem como principal objetivo tratar o homem como um ser integral, ou seja, um ente complexo que engloba aspectos...
  • biológicos,
  • mentais,
  • sociais,
  • ecológicos
  • e, muito em especial, espirituais, o que amplia grandemente o atual campo da pesquisa em psicologia.
          A Psicologia Transpessoal tenta compor um quadro abrangente das manifestações da percepção humana, apoiando-se tanto na ciência ocidental quanto nas várias tradições e concepções de homem de vários sistemas filosóficos, muitos dos quais de enorme interesse psicológico, não ocidentais. Isto implica na adoção, pelos principais teóricos transpessoais, de uma visão de homem que adota, ao lado de uma firme ênfase científica, baseada nos últimos progressos da ciência ocidental, notadamente na Física Moderna, as chamadas dimensões transcendentes e/ou espirituais da psiqué (Maslow, 1964, 1968, 1969; Fadiman & Frager, 1986; Grof, 1988).

          Foi em meados da década de sessenta, basicamente nos Estados Unidos, quando vários fatores levaram a Psicologia Humanista a se assentar definitivamente como uma nova abordagem igualmente válida ante às visões de homem do Behaviorismo e da Psicanálise, que alguns psicólogos e psiquiatras - muitos dos quais haviam participado do desenvolvimento e delineação da Psicologia Humanista – encontraram uma área e um clima intelectual propício para o estudo de uma série de fenômenos psicológicos que, até então,...
  • eram negligenciados nos meios mais tradicionais,
  • ou entendidos como sintomas de sérios desajustes emocionais.
        Entre estes estavam os chamados estados não ordinários de consciência, com fortes características espirituais, que algumas pessoas apresentavam,...
  • quer ocorressem espontaneamente,
  • quer surgissem num contexto psicoterapêutico,
  • quer ocorressem como a resultante de usos de substâncias várias, como drogas, etc.
        Alguns destes, até então considerados, estados “anômalos” de consciência traziam uma tal corrente de dados que, simplesmente, não se encaixavam adequadamente em nenhuma teoria da personalidade vigente, com a brilhante exceção das teorias de Carl Gustav Jung e Roberto Assagioli, que, à época, eram muito pouco aceitas, conhecidas ou adequadamente divulgadas. De tal forma cresceu o número de observações a respeito destes fenômenos que muitos renomados pesquisadores, dentre os quais se destacaram Abraham Maslow, Antony Sutich e Stanislav Grof, empreenderam a tarefa de dar corpo ao que parecia ser o surgimento de uma nova abordagem, ou uma nova Força em Psicologia, no dizer de Maslow, em uma nova área de estudo e avaliação do que parecia ser, em muitos casos, amostras de fascinantes e bem documentadas experiências de extensão ou expansão da percepção e da identidade de sujeitos, indo muito além do que consideramos “os limites de nossa pele”, ou de nosso ego:
  • uma dimensão Transpessoal de consciência.
          Segundo Stanislav Grof (Grof, 1988), esta nova força surgia principalmente dentro do círculo interno da Psicologia Humanística, porém, esta, que considerava o auto-crescimento e a auto-atualização os limites de desenvolvimento humano, acabava por restringir, em parte, os novos insights que surgiam diretamente das pesquisas realizadas pelos psicólogos e psiquiatras.:
  • “(...) A nova ênfase residia no reconhecimento da espiritualidade e das necessidades transcendentais como aspectos intrínsecos da natureza humana e no direito de cada indivíduo escolher ou mudar seu caminho. Muitos renomados psicólogos humanistas mostraram crescente interesse por várias áreas, antes negligenciadas, e por tópicos de psicologia como...
    • experiências místicas,
    • transcendência,
    • êxtase,
    • consciência cósmica,
    • teoria e prática da meditação
    • ou sinergia inter-espécie e interidividual” (Grof, 1988, p. 138).
          De fato, esta tendência de desenvolvimento de uma psicologia além do ego era tão clara, que Maslow chegou a escrever:
  • “Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Força ainda mais elevada, transpessoal, trans-humana, centrada mais no cosmos que nas necessidades e interesses humanos, indo além da identidade, da individuação e quejandos (...)” (Maslow, 1968, p. 12)
     
          A proposta desta Quarta Força foi logo divulgada em seminários, artigos e correspondências entre vários integrantes da psicologia humanística e que logo encontrou destacados defensores que, espontaneamente, formaram um comitê para a organização de uma revista dedicada ao tema do que eles chamavam, à esta época, de Psicologia Trans-Humanística. Das várias discussões destes membros, que incluíam além de Sutich e Maslow, nomes como James Fadiman, Michel Murphy, Miles Vich e, logo depois, Viktor Frankl e Stanislav Grof, surgiu e foi adotado o título Psicologia Transpessoal como sendo o mais característico para os objetivos desta nova Força. Logo depois, em 1969, é lançado o primeiro número do Journal of Transpersonal Psychology.

          A temática da espiritualidade, ou da dimensão espiritual do homem, pois, caracteriza a Psicologia Transpessoal como a primeira corrente contemporânea de Psicologia, em grande parte apoiada nas pesquisas pioneiras de Jung, a se dedicar de forma sistemática às dimensões subjetivas perceptuais que eram, até então, ignoradas, negadas ou reduzidas a características ou sintomas de psicopatologia na área da sexualidade, pela Psicanálise, por exemplo. O termo “espiritual” - fonte de estranhas reações por parte de muitos psicólogos -, que foi tomado de empréstimo à Religião e à Filosofia, é usado na falta de um outro termo técnico apropriado. Como disse o próprio Maslow,...
  • “(...) é quase impossível falar em ‘vida espiritual’ 
  • (frase desagradável para um cientista, em particular para os psicólogos) sem usar o vocabulário da religião tradicional. Simplesmente não existe uma outra linguagem satisfatória. Uma excursão pelos léxicos poderia demonstrá-lo com rapidez” (Maslow, 1964, p.4). 
  •  
        O fato é que a Psicologia Transpessoal toma como fundamento o conceito de “auto-transcendência”, que vai além do conceito fudamental próprio da Psicologia Humanista, de “auto-realização”, embora o primeiro, na maior parte das vezes, só se manifeste após um desenvolvimento satisfatório do segundo. Maslow, especialmente, com a sua teoria das necessidades, deixa claro que as necessidades últimas, mais sutis e, acima de tudo, mais plenamente superiores – a que ele chamou de metanecessidades -, só surgiriam – mais uma vez como padrão geral, mas não como uma regra fixa – quando as necessidades mais básicas (fisiológicas, de segurança, de amor e pertinência, de estima e de auto-atualização) estivessem razoavelmente atendidas. Assim, dentro da abordagem da Psicoterapia Transpessoal, a capacidade humana para a “auto-transcendência” – que Maslow demonstrou magnificamente ocorrer em muitas das mais famosas pessoas auto-realizadas que ele estudou – é uma etapa reconhecida e estimulada para o desenvolvimento saudável e integral do homem.

           O estudo da Consciência_Humana, e das suas várias manifestações em termos de percepção, fora abandonado por um longo tempo pela Psicologia desde que a objetividade e o positivismo do Behaviorismo – em todos os pontos, muito próximos da metodologia das ciências naturais – superou as propostas de William James – que é igualmente considerado um dos precursores da Psicologia Transpessoal – e dos gestaltistas alemães. Freud, por sua vez, embora tenha deixado uma teoria que vai muito além da visão mecanicista estrita dos behavioristas mais radicais e tenha atingido insights realmente geniais sobre muitos dos mistérios que cercam a mente_humana, criou uma teoria da personalidade que está muito próxima de uma descrição “hidráulica” do comportamento humano, sujeito à ações determinadas pela dinâmica de forças inconscientes sobre o qual a pessoa, enquanto ego consciente, tem pouco ou nenhum controle direto. Sendo assim, como nos fala Joseph Hart, ...
  •         “o behaviorismo e a psicanálise podem ser colocadas juntos já que estes enfoques concordam basicamente em ver o homem como um reagente; quando muito, um reagente adaptável, flexível. O psicólogo humanista, por sua vez, desenvolve seus postulados e procedimentos a partir da convicção de que o homem é um ator; na sua melhor condição, um ator criativo e auto-realizador” (Hart, 1970, p. 580).
  •          Ou seja, com o Humanismo, com sua ênfase na experiência consciente, o estudo da consciência começou a ser resgatado (na verdade, ele sempre esteve presente, nas escolas européias, mais existencialistas). Já a concepção Transpessoal admite claramente que existem outros estados de consciência que vão além dos estados tradicionais de sono, sono profundo, vigília, delírio e outros. Ela admite que existem estados supra-conscientes “cuja promoção da saúde e crescimento superariam em muito as do estado normal de vigília e as derivadas da análise das faixas infra-conscientes descobertas por Freud” (Boainain Júnior, 1996, p. 30).
        Agora vejamos o que nos diz ainda Hart, um dos precursores da Abordagem Transpessoal dentro da Abordagem Centrada no Cliente, de Rogers:
  • “Agora consideremos as posições do homem que atingiu insigths transcendentes, radicalmente diferentes. Embora a maioria dos ‘místicos’ não negue o limitado valor das ideias de homem como um reator ou ator – pois que o homem se comporta assim em determinados níveis -, eles defendem que o homem plenamente realizado vai além tanto da reação quanto da ação para fundir-se com algo muito maior, com o mundo, numa forma, podemos dizer, ecológica. Na visão espiritual do místico, o homem é potencialmente um agente receptor ou transmissor de uma consciência mais elevada, da qual ele faz parte. Conforme o contexto em que a visão mística é descrita, este estado de transcendência fala do homem como um veículo de Deus, uma expressão da consciência cósmica, ou um ponto imerso no absoluto” (Hart, 1970, p. 580).
     
           Talvez o impacto destas palavras de Hart possam ser melhor “digeridas” se nos voltarmos para outras disciplinas e vermos que esta ideia de um “algo transcendente” é a mesma que está presente na Ecologia Profunda (Capra, 1986, 1997) e na Teoria Geral dos Sistemas, de von Bertalanffy e de Gregory Bateson, ou seja, na ciência de vanguarda. É igualmente presente em várias proposições da Física Moderna, em especial no Teorema de Bell (Capra, 1986; Grof, 1988) e na Teoria da Ordem implicada, de David Bohm (Bohm, 1992). O caso seria, pois, de entendermos o ser humano numa concepção holística e sistêmica, onde ele é, ao mesmo tempo, autônomo em alguns níveis e, ao mesmo tempo, parte integrante de outros níveis, mais elevados e sutis, como, por exemplo, a sociedade e a biosfera. Esta mesma concepção holística está presente nestas palavras de Andras Angyal, escritas em 1956:
  •         “Visto sob este ponto de vista [ o desenvolvimento integral do self ], o ser humano parece lutar basicamente para afirmar e expandir sua autodeterminação. É um ser autônomo, uma entidade que cresce por si mesma e que se faz valer de modo ativo, ao invés de reagir passivamente como um corpo físico aos impactos do mundo que o rodeia. Essa tendência fundamental expressa-se na luta da pessoa para consolidar e desenvolver seu autogoverno, em outras palavras, para exercer sua liberdade e organizar os itens relevantes de seu mundo a partir do centro de governo autônomo que é o seu self. Esta tendência – que chamei de ‘propensão para autonomia crescente’ – expressa-se na espontaneidade, na auto-afirmação, no esforço pela liberdade e pelo domínio de si.

            “Vista sob outra perspectiva, a vida humana revela um padrão básico bastante diferente do acima descrito. Sob este ponto de vista, a pessoa parece buscar um lugar para si numa unidade maior, da qual ela se esforça para tornar-se parte. Na primeira tendência nós a vemos lutando pela centralização em seu mundo, tentando moldar e organizar os objetos e eventos de seu mundo, trazê-los para sua própria jurisdição e controle. Na segunda tendência, pelo contrário, a pessoa parece entregar-se voluntariamente à busca de um lar para si e tornar-se UMA PARTE ORGâNICA DE ALGO QUE CONCEBE COMO MAIOR DO QUE ELA (sic). A unidade supra-individual da qual a pessoa se sente parte, ou deseja tornar-se parte, será formulada de diferentes formas, de acordo com sua formação cultural e com compreensão pessoal” (Fadiman & Frager, 1986. pp. 283-284).

           Estes dois níveis, o da auto-atualização e o da auto-transcendência, aparentemente antagônicos são, na verdade, expressões de uma dualidade que forma uma unidade dinâmica e complementar. Aliás, estes níveis parecem se repetir como uma constante na natureza. A própria Física Quântica admite paradoxos semelhantes, e até ainda mais estranhos, como é o caso do princípio da complementaridade onda-partícula de entes atômicos, de Bohr. E é exatamente na área da Física Moderna que surge um grande apoio e incentivo para o desenvolvimento da Psicologia Transpessoal (Capra, 1986; Grof, 1988; Walsh & Vaughan, 1991). Desde que Albert Einstein publicou seus artigos sobre a Teoria da Relatividade, em 1905, e que os estudos das características atômicas tomaram vulto, nos anos vinte, que o quadro do mundo físico vem passando por uma mudança de entendimento tão radical que os próprios fundamentos clássicos da ciência foram abalados. Passamos a perceber que a realidade atômica é tão paradoxal, exigindo uma nova forma de entender a natureza, que os teóricos mais importantes passaram a questionar amplamente os pressupostos mais fundamentais das ciências e filosofias do Ocidente, principalmente os que forma estabelecidos a partir de Bacon, Descartes e Newton (Capra, 1986; Grof, 1988; Walsh & Vaughan, 1991). As descrições tradicionais da realidade física tendiam a projetar um mundo mecânico, atomístico, linear, rigidamente causal e não-relativo. Embora esta visão de mundo ainda se mostrem como um modelo útil, dentro de limites bem definidos, atualmente esta visão mecânica de mundo vem sendo complementado por modelos mais sofisticados, que reconhecem uma realidade física holística, interligada, dinâmica, relativista e, em certa medida, “orgânica”, e que é inseparável da consciência do observador.

           Embora nossa percepção e interpretação da realidade ainda tenham por parâmetros as ideias newtonianas de um universo mecanicista – ideia que é perpetuada pela educação formal -, essas grandes descobertas em Física Teórica têm trazido uma luz extremamente benéfica à filosofia da ciência e à Psicologia. O físico brasileiro Mário Schenberg declarou que “a Física e a Psicologia são aspectos diferentes de uma mesma realidade, vista sob ângulos diferentes” (Guimarães, 1996, p. 36), e que o trabalho de Carl Gustav Jung – um dos precursores mais importantes da Psicologia Transpessoal – tem influenciado a muitos físicos teóricos.


           Grof considera Jung o primeiro real psicólogo moderno (Grof, 1988, p. 138), pois ele desafiou a essência básica da maioria dos pontos fundamentais da visão de mundo da psicologia ocidental:
  • a visão de mundo linear e rigidamente causal, emprestada da física clássica, de Newton e Descartes, aplicadas à Psicologia.
           Jung via a psique como parte atuante do organismo e, portanto, extremamente sábia e criativa, com uma interação complementar entre seus elementos, inclusive entre o_consciente_e_o_inconsciente. Para ele, a concepção do inconsciente como um mero depósito psicobiológico de tendências pulsionais ou instintivas rejeitadas ou reprimidas era mais uma tentativa de acomodar um modelo conceitual de inconsciente aos parâmetros de uma concepção de mundo mecanicista do que uma descrição acurada, ou plenamente psicológica, do mesmo. Ele o via como tendo um importante papel no crescimento integral do organismo, englobando até mesmo o pequeno ponto do ego consciente, de forma sábia. Ou seja, o inconsciente era parte integrante e ativa do organismo, e este, em sua globalidade, teria um “racionalismo” próprio, mais profundo, com (lembrando Pascal) as “suas razões que a própria razão desconhece”. Em sua estrutura mais profunda, ele ligaria o indivíduo a toda a humanidade, à natureza e a todo o universo, como se fosse um tipo sofisticado de holograma. E mais, o inconsciente não seria apenas governado pelo determinismo histórico, mas – e nisto Jung era antecipadamente um psicólogo humanista – também teria uma função projetiva e teleológica (Hall & Lindzey, 1984; Capra, 1986; Grof, 1988). (Ver: Subconsciente)
  • Jung não imaginava o ser humano como se fosse uma máquina biológica. Reconhecia que o processo de individuação [ maturação integral ] dos humanos pode transcender os estreitos limites do ego e do inconsciente pessoal e ligar-se ao Self, que é proporcional à humanidade toda e ao cosmos inteiro. Jung pode ser, então, considerado o primeiro representante da orientação transpessoal em Psicologia” (Grof, 1988, p. 139).
           é interessante observar que foi Jung o primeiro a usar a palavra Transpessoal (Hall & Lindzey, 1984), e seus conceitos de sincronicidade e arquétipo têm não só chamado a atenção de físicos teóricos, como Einstein, Pauli, Bohm e outros, como a de psicólogos como Carl e Natalie Rogers, John K. Wood, Stanislav Grof e Pierre Weil (Boainain Júnior, 1996; Grof, 1988; Weill, 1978). Foi o próprio Einstein quem encorajou Jung a se aprofundar no conceito de sincronicidade, e Wolfgang Pauli publicou um artigo conjunto com Jung sobre sincronicidade e sobre os arquétipos na obra do físico Johannes Kepler (Grof, 1988, p. 146).

           Segundo Walsh e Vaughan, “nos níveis mais fundamentais e sensíveis da ciência moderna, o quadro emergente da realidade lembra o quadro mais fundamental que as disciplinas da consciência revelam” (Walsh &Vaughan, 1991, p. 26). Isto posto, já não nos parece mais concebível que a Psicologia Transpessoal ainda seja vista com desconfiança por parte de muitos psicólogos brasileiros. Suas sólidas bases teóricas e conceituais, amparada num leque transdisciplinar riquíssimo, a tem posto na vanguarda da pesquisa da consciência. Nos Estados Unidos e Europa já existem instituições oficiais de pesquisa na área, com cursos a nível de Mestrado e Doutorado. A Associação Americana de Psicologia Transpessoal tem em suas fileiras nomes mundialmente reconhecidos, como Daniel Goleman e Ken Wilber. No Brasil, nomes como Pierre Weil, Roberto Crema, Márcia Tabone e Eliana Bertolucci se inscrevem definitivamente na história do movimento transpessoal nacional, bem como a Associação Transpessoal da América do Sul – ATAS – e a Associação Luso-Brasileira de Transpessoal.

           Vários dos fenômenos transpessoais são largamente descritos na literatura junguiana e humanista, este última, principalmente, nos últimos 25 anos, devido ao trabalho com Grandes Grupos (Rogers, 1983; Boianain Júnior, 1996), e na literatura psiquiátrica não faltam relatos que apontam para os níveis de transcendência da consciência a partir de certos dados clínicos com o uso de medicamentos (Grof, 1988), e o acompanhamento com pacientes graves ou em estado terminal revelam dimensões de percepção transcendente que escapam ao enquadramento nas teorias da personalidade vigentes. O estudo e pesquisas clínicas, na área médica, com biofeedeback e com a hipnose revelam sólidos argumentos para algumas das proposições básicas da Psicologia Transpessoal (Fadiman & Frager, 1986; Grof, 1988), e os estudos de antropologia cultural e da religião demonstram que os chamados fenômenos_místicos, ou de êxtase, são encontrados em todos os povos em todos os períodos da história, com semelhanças desconcertantes em termos de conteúdo e relato (Jung, 1986; Grof, 1988; Gaarder, 1995).

           Neste ponto é conveniente lembrar que “a atitude da psiquiatria e da psicologia tradicionais sobre religião e misticismo é determinada pela orientação mecanicista e materialista da ciência ocidental. Num universo em que a matéria [ tal como é concebida na visão clássica de mundo ] tem primazia, e a vida e consciência são seus produtos acidentais, não pode haver um reconhecimento genuíno da dimensão espiritual da existência” (Grof, 1988, p. 242). É ainda Grof quem nos explica que sendo a Psiquiatria clássica e a Psicologia acadêmica tradicional governadas por uma visão mecanicista de mundo, são incapazes de fazer, por questão de referenciais teóricos básicos, qualquer distinção significativa entre crendices e superficialidades supersticiosas das grandes correntes filosóficas das maiores tradições religiosas da humanidade (Grof, 1988). Dessa maneira, estas disciplinas, em suas ramificações mais tradicionais, inclinam-se a descartar qualquer forma de espiritualidade como elementos não científicos, mesmo que sejam extremamente refinados e tenham uma importância fundamental na vida de bilhões de seres humanos. No contexto da Psiquiatria tradicional, e da Psicanálise ortodoxa, “a espiritualidade é equiparada a superstições primitivas, falta de cultura ou psicopatologia clínica” (Grof, 1988, p. 242). O entendimento psicanalítico e psiquiátrico – que se baseia na psicanálise - sobre tais questões é muito conhecido:
  •          “(...) as origens da religião provêm de conflitos irresolutos da infância e da meninice:
    • o conceito de deidade reflete a imagem infantil das figuras parentais;
    • a atitude de seus seguidores é sinal de imaturidade e dependência infantil;
    • as atividades rituais indicam uma luta com impulsos psicossexuais ameaçadores, comparável à de um neurótico compulsivo.
    “Algumas experiências espirituais diretas são encaradas como grosseiras distorções psicóticas da realidade e indicativas de sério processo patológico ou doença mental. Entre elas encontram-se sensações de unidade cósmica (...), visões de luzes de beleza sobrenatural, memórias de encarnações passadas ou encontros com personagens arquetípicos. Até a publicação da pesquisa de Maslow [ sobre as experiências de transcendência de pessoas consideradas as mais saudáveis ], a psicologia acadêmica não reconhecia nenhuma outra maneira de interpretar tais fenômenos. As teorias de Jung e Assagioli, apontando na mesma direção, distanciavam-se muito da corrente principal da psicologia acadêmica para que pudessem causar um impacto sério”

    “(...) Os grandes xamãs de várias tradições aborígines foram descritos como esquizofrênicos ou epilépticos e alguns dos mais importantes santos, profetas e mestres religiosos receberam diversos rótulos psiquiátricos. (...). Esses critérios psiquiátricos são aplicados sem distinção, rotineiramente, mesmo a grandes mestres das religiões como Buda e Jesus (...)” (Grof, 1988, pp. 242-243).
  •      
           Naturalmente, embora o estudo da consciência, em geral, em todas as suas manifestações, interesse à Psicologia Transpessoal, seu foco de interesse principal reside nestes “estranhos” estados espirituais de percepção e consciência, entendidas como potencialmente saudáveis pela abordagem transpessoal. Aliás, William James, ainda no século passado, já dizia isso. Autores como Lawrence LeShan, Fritjof Capra, Pierre Weil, Hernani Guimarães Andrade e muitos outros endossam esta perspectiva. O estranho relacionamento de espaço, tempo e consciência parecem ter atingido quadros conceituais análogos nas descrições de físicos modernos e místicos (Capra, 1985; Fadiman & Frager, 1986).
        As mais recentes pesquisas sobre a consciência ...
  • “sugerem que a natureza e a gênese da consciência
    podem ser mais realisticamente descritas por místicos e físicos modernos
     do que pela mais estável concepção utilizada dentro da psicologia contemporânea”
    (Fadiman & Frager, 1986, p. 168).
           A. Weil sugere fortes evidências “de que os assim chamados ‘estados alterados’ são não só naturais como também necessários para o bem-estar e a saúde continuada da pessoa. Ele acredita que a menos que tenhamos oportunidade de mudar nosso estado de consciência, podem desenvolver-se sintomas emocionais graves. Ele vê o impulso para alterar a percepção consciente – tal como expressa no uso de exagerado de drogas, bebedeiras públicas, práticas religiosas, o ligar-se a alguma coisa dos adolescentes e a dança em êxtase – como reflexo de um impulso fisiológico inato que se origina da estrutura do cérebro. Da mesma forma que sabemos que há um impulso para a experiência sexual, pode haver um impulso equivalente para a mudança de níveis de percepção” (Fadiman & Frager, 1986, p. 169). Maslow fala o mesmo, com respeito às metamotivações.

           De um modo geral, a gama de possibilidades de manifestação da consciência humana pode ser entendida como em um espectro de padrões mais ou menos definidos, cujas características marcantes parecem ter sido convenientemente estudas, cada um em sua especificidade, pelas várias escolas (aparentemente antagônicas) da personalidade, quer ocidentais, quer orientais.

           Um dos sistemas didáticos, em psicologia, que procura integrar os diferentes insights das várias escolas psicoterapêuticas do ocidente entre si, e estas com as várias abordagens orientais, é a Psicologia do Espectro, proposta por Ken Wilber (Wilber, 1990), como um modelo da compreensão transpessoal das diferenças entre psicoterapias. Nele, cada uma das diferentes escolas é vista como uma faixa que se dedica a um aspecto específico do total a que se pode apresentar a consciência humana. Cada uma dessas escolas aponta para um estado de consciência que se caracteriza por possuir um diferente senso de identidade, indo da pequena identidade restrita ao ego até à suprema identidade com todo o universo, que é o nível extremo da consciência transpessoal. Este espectro pode ser entendido, a grosso modo, a partir de quatro níveis:
  • o do ego,
  • o biossocial,
  • o existencial
  • e o transpessoal.
           No nível do ego, a pessoa não se identifica, a rigor, com o seu organismo, mas com uma representação mental, ou com um conceito restrito do mesmo, como uma auto-imagem construída. É , pois, um problema de identificação com um modelo que a pessoa aceita, num investimento intelectual e emocional, como sendo seu "eu". Existe - para ela – um "eu" egóico que é diferente e independente de tudo e de todos. A pessoa não se interessa muito em cultivar relações interpessoais sem que haja alguma vantagem específica para o ego, e muito menos se preocupa ou leva em consideração aspectos ecológicos ou sociais.

           O nível biossocial já envolve a consciência e a preocupação com o nível e com os aspectos do ambiente social da pessoa. A influência preponderante é a de padrões culturais e sociais. A pessoa sente como fazendo parte - e tendo alguma responsabilidade - pelo seu meio-ambiente social e natural. É nesta área que os alguns dos estágios de desenvolvimento moral, tal como estudado por Kohlberg, atinge seu maior patamar em alguns indivíduos.

          O nível existencial é o nível do organismo total, caracterizado por um senso de identidade corpo/mente auto-organizador. É o nível dos ideais humanistas e do despertar ecológico, e do pensamento mais sofisticado, em termos de filosofia de vida. Emoção e razão estão mais ou menos associadas para o crescimento e o desenvolvimento das potencialidades do homem, desde que os meios sejam razoavelmente propícios. Quando não, ainda assim a pessoa luta para se auto-atualizar e a ajudar_seus_semelhantes. Um alto grau de desenvolvimento de consciência moral altruística é normalmente associado a alguns indivíduos mais destacados associados a este estágio.

           O nível transpessoal é o nível da expansão da consciência para além das fronteiras do ego, correspondendo a um senso de indentidade mais amplo. Ele pode envolver percepções do meio ambiente, onde tudo está - de uma forma sutil, mas muito presente - ligado - de forma não necessariamente linear - a tudo. É o nível do inconsciente coletivo e dos fenômenos que lhe estão associados, tal como descritos por Jung e seguidores. É uma forma extremamente sofisticada e não ordinária de consciência em que a pessoa não aceita mais a crença numa separação rígida entre ela e todo o universo, a não ser como um modelo e uma forma de atuar, de forma prática, sobre o meio em que vive com outras pessoas. Essa forma de consciência transcende, e muito, o raciocínio lógico convencional, e aproxima-se das assim chamadas experiências místicas. É este um pico de percepção em que, num sentido ecológico, nos fala Arne Ness:
  • “O cuidado flui naturalmente se o ‘eu’ é ampliado ou aprofundado de modo que a proteção da Natureza livre seja sentida e concebida como proteção de nós mesmos ... Assim como não precisamos de nenhuma moralidade vinda de um nível intelectual para nos fazermos respirar, do mesmo modo se o seu ‘Eu’, no sentido mais amplo desta palavra, abraça um outro ser, você não precisa de advertências morais ou linearmente intelectuais para demonstrar cuidado e afeição... você o faz por si mesmo, sem sentir nenhuma pressão moral para fazê-lo... Se a realidade é experimentada pelo Eu ecológico, nosso comportamento, de maneira natural e bela, segue espontaneamente as normas da ética ambientalista" (Capra, 1997, p.29).
           é este estado de consciência holística que é objeto mais íntimo e aprofundado de estudo da Psicologia Transpessoal. E não é sem sentido que alguns pensadores, particularmente o filósofo Warwick Fox, tenha cunhado o termo “Ecologia Transpessoal” para expressar uma conexão profunda entre a psicologia e a consciência ecológica (Capra, 1997).

           Como dissemos anteriormente, a psicoterapia transpessoal propriamente dita, baseada na concepção de homem holístico próprio da Psicologia Transpessoal, visa – como na Psicologia Humanista – facilitar o crescimento humano, em todas as suas potencialidades, e, indo mais além, ajudar a expandir a consciência para além dos limites estabelecidos na maioria dos modelos ocidentais mais tradicionais de saúde mental (Walsh & Vaughan, 1991), desde que o cliente esteja caminhando para estas áreas transcendentes de percepção da realidade. Como a Psicologia Transpessoal surgiu do desenvolvimento da Psicologia Humanista e, posteriormente, atraiu a atenção de psicólogos e psiquiatras de linha junguiana, muitas das técnicas próprias de ambas as abordagens são largamente utilizadas na psicoterapia transpessoal. Além disso, como o estudo Transpessoal inclui várias correntes filosóficas orientais, o terapeuta transpessoal habilitado pode, igualmente, usar exercícios próprios de tradições orientais, como a Yoga, a meditação e outros, que têm sua contrapartida ocidental em teorias neo-reichianas ou outras de orientação psico-corporal.

           Como o objetivo básico é ajudar o cliente a obter níveis ótimos de saúde e bem-estar mental, atingindo-se mesmo certos patamares perceptuais que excedem o que costuma ser aceito como normal, pode-se definir algumas metas básicas a serem trabalhadas no ambiente clínico:
  • A primeira, e a mais fundamental, “é desenvolver a capacidade de assumir a responsabilidade por si mesmo no mundo e nos relacionamentos pessoais” (Walsh & Vaughan, 1991, p. 204). Isso pode se construir à medida que a pessoa entende que é capaz de experienciar toda uma gama de emoções de modo maduro ao mesmo tempo que começa a estar menos apegada com rotulações sociais ou comportamentos que se restringem à determinadas situações, sem identificar-se com estas ou acreditar que elas são medidas valorativas do “Eu”, ou self, que é muito mais profundo que a pequena janela do ego.
  • Uma outra meta “é a de possibilitar a cada pessoa o atendimento adequado de necessidades físicas, emocionais, mentais e espirituais, segundo as preferências e predisposições individuais.
         Assim, não se pode esperar que um mesmo caminho seja apropriado a todas as pessoas. Na psicoterapia transpessoal, os impulsos direcionados ao crescimento espiritual são considerados básicos para a humanização completa da pessoa. Supõe-se que,...
  • além das necessidades básicas de sobrevivência – de alimentação, abrigo e relacionamento -, 
  • devem ser atendidas necessidades de ordem superior, ligadas à auto-realização, para um pleno funcionamento em níveis ótimos de saúde (Walsh & Vaughan, 1991, p. 204).
           Estas metas são, em grande parte, similares aos objetivos psicoterapêuticos das abordagens humanistas (principalmente a rogeriana) e junguianas. Em todas, o terapeuta não cura uma enfermidade, mas ajuda o cliente a se capacitar para descobrir em si mesmo os recursos interiores que permitam ao organismo entrar, da forma mais livre possível, no fluxo natural de auto-cura e crescimento.

“O reconhecimento [ pelo cliente ] da natureza subjetiva das suas crenças [ e identificações mentais ] e o submetê-las a um exame mais acurado podem permitir ao cliente a saída de limitações e constrições da percepção auto-impostas. À medida que as identificações parciais com visões limitadas são descartadas ou transcendidas, o processo de cura de divisões psicológicas imaginárias, de reintegração de partes rejeitadas da psique, de resoluções de conflitos interiores pode ser acelerado” (Walsh & Vaughan, 1991, p. 205).

O conteúdo da terapia transpessoal, e o seu processo, é determinado pelo cliente e pelo material que ele traz, consistindo em todos os tipo de problemas, experiências e preocupações. O terapeuta não insiste na ocorrência dos níveis transpessoais, mas trabalha com o cliente dentro do enquadramento em que ele está em cada momento da terapia. Embora reconhecendo o valor terapêutico da experiência transpessoal, chegar a ela não é o alvo básico da terapia transpessoal em si. Elas podem ocorrer, e freqüentemente ocorrem até mesmo em outras abordagens, e ai está a vantagem do processo transpessoal, pois o terapeuta estará preparado para apoiar o cliente nestas dimensões estranhas e maravilhosas, cuja principal conseqüência é facilitar na desidentificação de papéis superficiais e de uma auto-imagem distorcida.

           é interessante observar que o contexto terapêutico transpessoal pode ser catalisado através do trabalho com Grandes Grupos. E foi exatamente ai que a temática transpessoal passou a ser percebida em abordagens várias, porém principalmente na Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers (Boainain Júnior, 1996, p. 105). Vejamos o que nos diz Rogers a este respeito:
  •         “Tenho a certeza que este tipo de fenômeno transcendente [ sincronicidade, telepatia, sentimentos de empatia extrema, apreensão da presença e ação de instâncias transpessoais específicas ] às vezes é vivido em alguns grupos com que tenho trabalhado, provocando mudanças na vida de alguns participantes. Um deles colocou de forma eloqüente: ‘Acho que vivi uma experiência espiritual profunda, senti que havia uma comunhão espiritual no grupo. Respiramos juntos, sentimos juntos, e até falamos uns pelos outros. Senti o poder da força vital que anima cada um de nós, não importa o que isso seja. Senti sua presença sem as barreiras usuais do eu e do você – foi como uma experiência de meditação, quando me sinto como um centro de consciência, como parte de uma consciência mais ampla, universal’ ” (Rogers, 1983, pp. 47-48).

            “O outro aspecto importante do processo de formação de comunidades [ Grande Grupos ] com que tenho tido contato é a sua transcendência e espiritualidade. Há alguns anos eu jamais empregaria estas palavras. Mas a extrema sabedoria do grupo, a presença de uma comunicação quase telepática, a sensação de que existe um ‘algo mais’, parecem exigir tais termos” (Rogers, 1983, p. 62).


            “Tenho certeza de que nossas experiências terapêuticas e grupais lidam com o transcendente, o indescritível, o espiritual. Sou levado a crer que eu, como muitos outros, tenho subestimado a importância da dimensão espiritual ou mística” (Rogers, 1983, p.53).


           Portanto, nos parece que, pelo menos em parte, já ocorre, através da ACP e da Psicologia Analítica Junguiana, no Brasil, um conjunto de psicoterapias de aspecto transpessoal. O que parece agora ser necessário é o reconhecimento que muitos dos eventos transcendentes que ocorrem nestas abordagens podem agora ser devidamente enquadrado num campo coerente e mais desenvolvido para a pesquisa e o estudo destes fenômenos em si. Este campo, ou abordagem, é a Psicologia Transpessoal.
Resumo:
  • Psicologia Transpessoal. – Abordagem que tem como principal objetivo ampliar o campo de pesquisa em psicologia para incluir certas áreas da experiência perceptual e do comportamento humano, que estão associadas a um grau máximo de saúde e de bem-estar subjetivos, com repercussões a níveis individuais e psicossociais.
  • Psicoterapia Transpessoal. - Trabalho terapêutico que objetiva facilitar o crescimento humano e a expandir – desde que atingido e sedimentado um estado psicológico favorável - os limites de compreensão da realidade para além dos limites aceitos pelos principais modelos teóricos ocidentais sobre saúde mental.
  • Origens. – Considerável gama de fenômenos clínicos envolvendo temas como expansão da percepção da consciência para além dos limites do ego passam a ser estudados a partir da década de 60. Fenômenos antes negligenciados como patológicos, passam a ser encarados como válidos. Desenvolvimento da Psicologia Humanista. Maslow, Sutich e Fadiman organizam a publicação do Journal of Transpersonal Psychology. Resgate das teorias de Carl Gustav Jung e Roberto Assagioli. Abertura aos sistemas psicológicos não-ocidentais, como Budismo e Taoísmo. Contribuições da Física Teórica sobre a percepção e da Antropologia ao estudo das várias manifestações culturais místicas.
  • O Estudo da Consciência Humana.- William James, Carl Jung, Carl Pribram, Stanilav Grof são alguns dos nomes mais conhecidos.
  • O Behaviorismo e a Psicanálise podem ser colocados em um mesmo nível em relação à visão de homem, já que seus enfoques concordam basicamente em que o ser humano é um reagente a estímulos ou a forças, quer de ordem externa (Behaviorismo), quer de ordem interna (Psicanálise), cujo controle é pouco ou nada exercido pela volição consciente. O Humanismo considera o homem como um ator criativo. O paradigma Transpessoal considera todas estas dimensões válidas dentro da gama de ação e complexidade do ser humano, mas também considera que existem, potencialmente, outros estados de consciência, alguns supra-conscientes, cuja promoção da saúde e do crescimento superariam a dos estados de vigília, sono, delírio e outros, e dos estados derivados da análise das faixas infra-conscientes descobertas por Freud.
  • Aspectos complementares do desenvolvimento humano.- Tendência à autonomia individual e tendência à integração sistêmica, psicossocial. Complementaridade entre o individual e o social.


    REFERêNCIAS BIBLIOGRáFICAS

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    Gaarder, J. (1995). O Mundo de Sofia. São Paulo, Companhia das Letras.
    Grof, S. (1988). Além do Cérebro. São Paulo, McGraw-Hill.

    Guimarães, C. (1996). Percepção e Consciência. João Pessoa, Persona.
    Hall, C.S. & Lindzey, G. (1984). Teorias da Personalidade. São Paulo, EPU.
    Hart, J. T. (1970). New Directions in Client Centered Therapy. Boston, Houghton Mifflin.
    Maslow, A. H. (1964). Religious, Values and Peak-Experiences. Columbus, Ohio State University Press.
    ______ (1968). Introdução à Psicologia do Ser. Rio de Janeiro, Eldorado.
    ______ (1969). Various Meaning of Transcendence. Journal of Transpersonal Psychology, pp. 57-66.
    ______ (1971). The Farther Reaches of Human Nature. New York, Viking Press.
    Rogers, C. R. (1983). Um Jeito de Ser. São Paulo, EPU.
    Walsh, R. N. & Vaughan, F. (Orgs.). (1991). Além do Ego: Dimensões Transpessoais em Psicologia. São Paulo, Editora Cultrix.
    Weil, P. (1978). A Consciência Cósmica: Uma Introdução à Psicologia Transpessoal. Petrópolis, Vozes.

http://yesod.sites.uol.com.br/cadernos/edicao1/psico.htm


       CURSO DE PSICOLOGIA TRANSPESSOAL
Tema: 
 VIOLÊNCIA E RELIGIÃO
Como reduzir a violência religiosa com a utilização da Psicologia Transpessoal
Trabalho apresentado ao Núcleo da Mente da Universidade Federal de Sergipe-Brasil
Introdução
       A história da humanidade tem demonstrado que a violência religiosa vem de tempos recuados em várias civilizações. As mais conhecidas estão assinaladas na Bíblia desde os hebreus e os cananitas quando o grande legislador Moisés procurou estabelecer este povo nas terras de Canaã, dando o início a uma civilização que vinha do antigo Egito da terra da escravidão.

        Em nome de Deus os reis do antigo Testamento fizeram muitas guerras dizimando, desta forma, civilizações inteiras até a chegada de Jesus que veio trazer um novo mandamento o Amor. Com ele Jesus veio, assim, despertar no homem como um extraordinário Psicólogo este sentimento superior alegando que o Reino de Deus está dentro de nós, servindo de base e ensino de um novo mandamento “Amar a Deus sobre as coisas e ao próximo como si mesmo”, afirmando, assim, que esta é a Lei e os profetas.
        Um novo ciclo de progresso teve início na Terra, pois, o Amor sendo um sentimento produzido por uma emoção superior despertaria, logo, no homem, a ideia da fraternidade universal e o sentimento de perdão pelas faltas alheias. Para melhor desenvolver este ciclo os Cristãos primitivos foram testados, mortos e crucificados nos circos romanos por testemunharem a excelência do Amor neste novo ideal de humanização do ser que foi oferecido aos pagãos do mundo iniciando, desta forma, a renovação de valores para o alcance da felicidade humana.
        
Desenvolvimento
       Do século IV ao século XIX, a humanidade teve muitos incidentes e guerras passando por enormes sofrimentos morais com a decadência do cristianismo ocidental. A partir deste período surgiram alguns pesquisadores da alma humana procurando descobrir as matrizes dos conflitos destacando a violência.  Para tanto e para solucionar os dramas humanos apresentaram uma nova Ciência que foi batizada com o nome de Psicologia, passando esta pelas seguintes fases:
  • Behaviorismo.
  • Psicanálise.
  • Humanista,
  • e, mais, recentemente, nasceu A Psicologia Transpessoal, esta última iniciada nos anos 60, do século passado,  que, na realidade, é a somação do conhecimento de todas as demais em um novo paradigma do homem integral com o estudo da psique (Self) mente e o corpo.
        Em breve histórico A Psicologia Científica/Behaviorismo surgiu em 1879, no laboratório da Universidade de Leipzig, chefiado por Willeim Wundt. Anteriormente, Gustav Fechner em 1835 escreveu Life after death, logo, depois, em 1869, surgiu a noção de inconsciente que foi popularizada pelo livro Philosophy of de Unconscious, de Von Hartmann, baseado em pesquisas do Filosofo Schopenhauer, que, por sua vez, apoiava-se no misticismo oriental, especialmente no Budismo e nos Upanichades. Em Paris, os efeitos terapêuticos da hipnose fizeram escola em Nancy, mas foi no hospital da Salpetriere a “a cidade dos loucos” com seus quase oito mil pacientes que a hipnose ganhou destaque nas mãos hábeis do mestre Charcot o mago da Salpetriere com seus gestos de prestidigitador dando ordens imperativas, fazendo aparecer e desaparecer, diante de um auditório estupefato, anestesias, cegueiras e paralisias. Freud – Pai da Psicanálise, em 1886, que já participava das pesquisas vem confirmar as experiências mediante um estudo do hipnotismocientificamente realizado... Charcot consegue elaborar uma espécie da teoria sintomatológica da histeria. A partir daí, Freud vai  investigar o fenômeno criando adotando a palavra grega Psique que significa alma. O tratamento psíquico significa, pois, o tratamento da alma”. 

  Uma pessoa poderia, assim, pensar que o sentido disso é: tratamento dos fenômenos mórbidos da vida da alma. Posteriormente, Carl Jung trouxe uma nova contribuição à Teoria Psicanalista Freudiana, mesmo discordando de alguns pontos do mestre de Viena, mas, conservou a descoberta do Inconsciente e a Energia Psíquica de Freud, laborando, assim, um novo conhecimento com a teoria dos Arquétipos. Depois destas experiências surge a Terceira força em Psicologia criada pelos idos de 1983, com Carl Rogers que acrescentou: “Estou aberto a fenômenos ainda mais misteriosos –...
        Estes fenômenos podem não corresponder às leis científicas conhecidas, mas, talvez estejamos no caminho da descoberta de uma nova ordem, regida por outros tipos de leis”. Em 1961 organizou-se nos Estados Unidos a Associação de Psicologia Humanista até o ano de 1868. No início deste ano durante uma discussão em que tomaram parte o Dr.Abraham H. Maslow, o Dr. Victor Frankl, o Dr. Stanislav Grof e o Dr. James Fadimam foi fnalmente criado o a palavra Transpessoal, isto é, a Psicologia Transpessoal ou a quarta força. Logo depois outros pesquisadores foram se incorporando à nova corrente Psicológica. No Brasil em 1978, surgiram os primeiros trabalhos nesta área. Em 1985, foi fundada pelo brasileiro Léo Matos, a Associação Brasileira de Psicologia Transpessoal. Citamos alguns membros do movimento inicial transpessoal brasileiro:
  • Gislaine D’Assunção (MG),
  • Vera Saldanha (SP),
  • Roberto Crema (DF),
  • Gerardo Campana (Al)
  • Lika Queiroz, André Peixinho (Ba)
  • Norma de Oliveira (SE), entre outros.
        Depois deste pequeno histórico sobre a Psicologia Transpessoal, retornemos a análise da violência na visão transpessoal.
        Desta forma passamos agora a estudar a violência não somente externamente, mas, especialmente, internamente, pois é no interior do homem que a mesma tem o seu nascedouro.
        A palavra violência exprime todo o pensamento, complementado ou não por palavras e ações que exterioriza em um sentimento contrário à lei do amor e caridade. No mundo atual acompanhamos, muitas vezes, com o requinte de detalhes as notícias e reportagens sobre os atos extremados do ser humano que tornam as pessoas mais insensíveis, e, ainda, levando-as a desconsiderar suas pequenas atitudes de violência, esquecendo-se, assim, de colocá-las no rol daquelas que devem sofrer o esforço da transformação no trabalho constante de auto-aprimoramento moral, emocional e espiritual.

       A propensão à violência é característica dos Espíritos vinculados ao planeta Terra, variando, apenas, quanto à intensidade e aos estímulos necessários para desencadear a ação violenta. Daí o “não julgueis” induzindo-nos pelo raciocínio, a buscarmos maior prudência ao julgar o próximo, porque sabemos se guardamos em nosso íntimo o mesmo grau de violência que condenamos, esperamos, muitas vezes, o momento certo para que as condições propícias em nós despertem essa emoção negativa.
        Com A Psicologia Transpessoal iniciada nos Estados Unidos por notáveis investigadores da alma humana como: Grof, Maslow, Was, Frankl, Fadiman, Wilber e muitos outros corajosos pioneiros que se preocuparam em ir além da personalidade, do ego, e dos padrões preestabelecidos, penetrando a sonda da investigação no inconsciente humano e descobrindo que o homem foi feito para o amor e a evolução, mudando, assim, os conceitos da vida material e emocional. Por esta razão o autoconhecimento foi sugerido como uma necessidade prioritária na programática existencial da criatura humana. Quem o posterga não se realiza satisfatoriamente, porque permanece perdido em um espaço escuro e ignorado dentro de si mesmo. Mesmo com as conquistas iniciais freudianas o homem não é somente matéria, mas, sim, um Espírito pensante e atuante no Universo carnal e espiritual.

       Assim, entendemos que o maior obstáculo ao progresso moral do ser humano vem do orgulho e do egoísmo causadores da violência. Ambos caracterizam o sentimento ainda muito imperfeito que aliado à ignorância das leis naturais e seus mecanismos de atuação, originam as ações contrárias a essas mesmas leis constituindo a violência. Essa ignorância, no entanto, não nos exime de culpa e responsabilidade pelos nossos atos uma vez que a lei_de_Deus está escrita na consciência de cada um de nós permitindo ao homem discernir sobre o_bem_e_o_mal, a causa e o efeito dos acertos e erros, a alegria ou o sofrimento decorrente das suas faltas.

        Na visão Psicológica Transpessoal devemos combater a nossa violência interior em todas as formas e intensidades, porque, com ela e através da Lei de sintonia contribuímos para a sua manutenção entre nós. Muitas vezes achamos que não fazemos mal a ninguém (pelo menos diretamente), apesar de fazermos mal a nós próprios diariamente, agredindo o nosso corpo com fumo, bebidas, remédios e alimentos inadequados, ferindo nosso campo emocional e psíquico com impaciência, irritação e pensamentos infelizes.

        Parece lógico supor que os atos de violência sejam mais fáceis de eliminar e que o conjunto desses atos favorece perigosamente o aumento gradativo da tendência de agir com violência. Logo, convém priorizar a eliminação das pequenas atitudes inconvenientes, bem como evitar que elas se transformem em hábitos o que dificultaria sua constatação e eliminação pelo seu portador.

        No decorrer dos anos a violência religiosa foi diminuindo desde a antiguidade passando pela idade média, ainda, lembrando dos grandes conflitos de católicos com os protestantes que dizimaram muitas vidas.  Atualmente, existem os focos de guerra no oriente entre Judeus e  Palestinos praticantes do Judaísmo e do Islamismo, que são chamados  e reconhecidos de fundamentalistas. É bem possível que o ataque das torres gêmeas em 2002, nos Estados Unidos, por fanáticos islâmicos, tenha um componente religioso, ou seja, a vingança do Deus Allah, dos muçulmanos, contra o chamado o império americano. Ainda, vemos nas nossas TVs, cenas dantescas dos homens-bombas com os suicídios e de seguidores fanáticos contra o povo israelense por questões político/religiosa, causada pela posse da terra que fora herdada por Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Josué e tantos outros continuadores do Judaísmo e do Islamismo, reconhecendo que estes povos tiveram uma única origem em seu líder Abraão e os seus seguidores que vivem na chamada Palestina.

        No dia que a Psicologia Transpessoal desabrochar na consciência daqueles e de outros povos mostrando que somos um ser Espiritual e que o mais importante não é o Reino da Terra mais, e acima de tudo, o Reino da Paz, no Eu interior do homem com a consciência de que somos um ser espiritual dotado de livre-arbítrio, lei de causa_e_efeito, significando mais para todos nós o bem que fazemos ao próximo, pois, que ele retorna. Na mesma proporção o mal que fazemos, também, tem o mesmo efeito que volta à consciência do homem.

        A Psicologia Transpessoal vai ao cerne da culpa e do remorso. Estuda a depressão de forma cientifica descobrindo os fatores causais no Espírito humano pelo mau uso do livre-arbítrio. Mostra-nos que as Psicoses não estão no Cérebro mais, especificamente, na Mente, muito embora, a Mente/Cérebro estão vinculados e funcionam pelas complexas redes neuronais. Estuda o homem na visão multidimensional.  Estuda a Síndrome de Pânico e as Fobias. O Transtorno Obsessivo-Compulsivo, e outros importantes assuntos dando a sua contribuição à Medicina Psicossomática. Assim vemos que muitos outros temas contribuem para a saúde e a felicidade humana.
Conclusão
       Todos devem trabalhar pela Paz interior e exterior. A exterior depende da interior. A Psicologia Transpessoal abrange todos esses ramos do conhecimento humano conscientizando o homem do seu e do futuro do Planeta. Com o tempo as guerras religiosas serão eliminadas totalmente e todos os tipos de violência irão lentamente de saparecendo da face da Terra como nos ensinou o Mestre de Nazareth recomndando-nos a vivenciar

A minha Paz vos deixo;
 a minha vos dou, não vô-la dou como o mundo a dá”. 

 O que mais tarde veio o Mahatma Gandhi ensinar-nos: 

Se um único homem atingir 
a mais alta expressão do amor 
este homem neutralizará o ódio de milhões”.

        Assim, cremos que nós os Psicoterapeutas Transpessoais que estão se formando aliados a tantos outros seres humanos construtores do progresso da Terra, também, serão construtores da nova Era da Paz na consciência do ser e no desabrochar do homem integral movido pelo Amor em uma nova vivência cósmica que significa a Plenitude.

Bibliografia:

A Bíblia AURINO Lima Ferreira – Apostila de Introdução à Psicologia Transpessoal. FRANCO Divaldo Pereira/Joanna de ângelis, O Homem Integral, Livraria Espírita Alvorada-Editora, 1ª. Edição, 1990, Salvador-Bahia-Brasil. OLIVEIRA Norma Alves, Psicanálise Transpessoal e Terapia de Vivências Passadas, 1ª Edição, 1990, Salvador-Bahia-Brasil. TABONE Márcia A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL à nova visão da Consciência em Psicologia e Educação, Editora Cultrix, São Paulo-Brasil.

João Cabral-Psicoterapeuta Transpessoal Website: www.ade-sergipe.com.br E-mail: jomcabral@brabec.com.br Aracaju-Sergipe-Brasil Em: 21.12.2006

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