quinta-feira, 2 de junho de 2011

O VITALISMO DE HENRI BERGSON -



UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

O vitalismo de Henri Bergson

Para o conhecimento da arquitetura no pós-guerra, após o maio vermelho (1968), serão considerados os enfoques vitalistas. Na fase capitalista atual, vitalismo é um fenômeno internacional em visível luta pelas almas no campo do conhecimento arquitetônico. O influente filósofo francês Henri Bergson (1859-1941), um de seus principais teóricos, apresenta esta filosofia idealista e antiintelectualista contra o positivismo e o materialismo mecanicista.4

O vitalismo destitui do pensamento conceptual a capacidade de alcançar a essência da realidade e eleva a intuição à condição de órgão cognitivo capaz de captar (só ele) o espírito, a liberdade e o movimento. Segundo Bergson, a verda-deira realidade, o tempo real, a duração, distinto(a) do movimento como proprie-dade da matéria, pode ser captado(a) apenas pela intuição. A inteligência não capta a vida em sua unidade, em seu criativo desenrolar, nem a consciência em sua furtiva origem. A inteligência capta plenamente só o mundo dos corpos sólidos e do espaço. É, em si, simples meio de serviço à vida. Comunica em si imagens momentâneas de uma realidade dinâmica e mutável. Isto representa duração ou tempo psicologicamente vivenciado em contradição a tempo matemático, astronômico, construção auxiliar das ciências naturais entendida como dimensão do espaço.

Para Bergson, a duração é a real realidade, as coisas em si. Para captar a realidade espiritual em sua pureza, necessita-se de elemento cognitivo distinto da inteligência, a intuição, forma mais desenvolta do instinto. Independente-mente do conceito, o instinto capta o livre impulso da vida nas formas existenciais e na vida espiritual. Deste impulso de vida em que tudo é intensidade e em que tudo penetra tudo deriva uma longa seqüência de condições discursivas, fragmentadas, espacializadas, que vão até o mundo da matéria e do espaço homogêneo, ao ponto final da deterioração da energia espiritual.

A esse enfoque Bergson soma a interpretação da relação alma e cérebro. Despreza a teoria da psicofísica e abarca um dualismo peculiar que vê no cérebro a continuação da alma sob forma de órgão, para realizar atos e a expressão pantomímica da vida espiritual. Retrocede da experiência à intuição, da fisiologia ao vitalismo, encaminha-se ao sobrenatural como força motriz do universo.

No livro Duração e Simultaneidade, Bergson resume as idéias de suas obras anteriores. Entende duração como continuidade da vida interior do homem. O tempo do mundo exterior forma certa participação sentida, vivida, do mundo material, nesta duração eterna. Distinguindo-se do idealismo tradicional e do materialismo dialético, declara que a realidade não é a matéria, nem a idéia, mas a duração. A duração não lhe é simplesmente real: apresenta-se como encarnação da realidade, reduz-se a ela. Como para Bergson a duração é subjetiva, imanente à consciência, o resultado de toda a teoria consiste em subjetivar a realidade. Contemporâneo de Einstein, em Duração e Simultaneidade contrapôs-se à teoria da relatividade. Rechaçou-a:

        A essência da teoria da relatividade 
baseia-se em pôr num mesmo plano 
a visão real e as visões virtuais.5

Deu-se o inevitável choque entre Bergson e Einstein, na Sociedade Francesa de Filosofia (1922). Na presença de Einstein, Bergson expôs seu conceito de duração -- compreendida em seu limite como certo tempo universal - e sustentou que não existe antagonismo entre tal critério e a concepção relativista de tempo. Einstein replicou breve e energicamente, manifestando não compartilhar das idéias de Bergson sobre o tempo.6 Jean Becquerel, Louis de Broglie e outros físicos posicionaram-se contra a doutrina idealista de Bergson, que relaciona tempo exclusivamente a natureza viva e nega sua existência na natureza inerte. Não é o que afirma a ciência. A geologia moderna parte da determinação do tempo geológico absoluto para avaliar as idades dos minerais.

No enfoque sociológico, Bergson justifica a exploração e a agressão militar, defende dominação e submissão de classe como estado natural da sociedade e que democracia com princípios de liberdade e igualdade é antinatural. Guerras seriam conseqüências de inelutável lei da natureza, o que explicou ser aceito por teóricos do nazismo alemão e do fascismo italiano. Sobreviveu incólume à ocupação nazista da França, enquanto se fuzilavam pensadores como George Politzer, por propagar idéias avessas ao nacional-socialismo.7

Teóricos idealistas da arquitetura invocam Bergson, em favor de uma arquiteturologia que não seja molestada pelos reflexos de suas contradições sociais. Faz-se da intuição conceito místico, sob o pretexto de que a consciência é às vezes capaz de encontrar repentinamente a solução para um problema. Se a consciência "adivinha" por intuição a verdade, deve-o à experiência vivenciada, a conhecimentos adquiridos precedentemente, não à intuição concebida como conhecimento especial, inato, que não decorre da vivência e exclui a atividade lógica da consciência.

Uma coisa é admitir a intuição como exclusivamente pessoal, reconhe-cível sem questionamentos; quem assim pensa evita crítica e ensinamento. Outra é querer pensar só em termos de conceitos e habilidades profissionais; não se desviar para esses extremos implica considerar o desenvolvimento histórico do conhecimento a respeito. As teorias sobre o inconsciente seguiram etapas lógicas sucessivas, que a partir de concepções idealistas se encontram hoje intimamente ligadas à teoria moderna dos princípios de organização funcional e dos mecanismos da atividade cerebral. O inconsciente é atualmente estudado como o domínio de processos cerebrais e de reações psicológicas pelos quais o organismo humano responde a sinais, sem se generalizar que toda reação ou fase de reação seja apreendida pela consciência.

Estuda-se noutro plano o inconsciente, do ponto de vista das relações que se estabelecem em diferentes condições entre ele e as atividades da consciência. Em ambos os planos conhecem-se melhor os mecanismos e os limites das influências exercidas pela regulação não consciente sobre a dinâmica das funções psicológicas e fisiológicas e sobre o comportamento. O enfoque materialista-dialético do problema é reconhecer a consciência como de natureza social; decorre do trabalho e é historicamente determinada. Com base nesse princípio, a teoria psicológica da consciência (vista como o conhecimento de qualquer coisa que como objeto se opõe ao sujeito que dela toma conhecimento) facilita o estudo ulterior das manifestações não conscientes do psiquismo e da atividade nervosa superior.8

Aos trabalhadores da arquitetura importa cuidar da capacidade sensorial de vivenciar o espaço arquitetônico e tornar o homem mais aberto à captação de sinalizações e significados espaciais. Para trabalhadores da arquitetura que confiam no materialismo dialético, é natural incluir toda a materialidade e a dinâmica social no conceito de espaço, muito mais rico e complexo que o dos que vêem o objeto da arquitetura limitado a lugares a serem usados, continentes à espera de conteúdo social abstrato, não objetivado.

Não se amplia a capacidade de compreender a arquitetura simplesmente lançando o olhar para ela, mas sim pela experiência. A experiência arquitetônica constitui um ativo processo humano que implica ser receptivo, captar e demonstrar a espacialidade da ação recíproca entre vida e cenário de vida. Exige adestrar-se na comunicação (a si, a outrém) do vivenciamento dessa espacialidade.

O modo como se experimenta a arquitetura varia de indivíduo para indivíduo, além de oscilar porque sucede em circunstâncias díspares. Rompem-se as limitações do enfoque individual e individualista da arquitetura, relacionando-o a experiências individuais, a caracterização na sociedade, a qualidades como integrantes de segmentos e classes sociais e a categorias de totalidade da compreensão do real: cultura, história, democracia etc. 

A história proporciona instrumentos coletivos sob formas socialmente organizadas de produção da consciência coletiva. Só inserindo experiência individual nas formas socialmente organizadas se avança e se produz uma arquitetura que expresse decrescentemente os conflitos antagônicos da sociedade capitalista; que em grau crescente aponte para uma sociedade justa e melhor.9

A luta prática por uma sociedade melhor impõe correspondência no plano das idéias. Voltado para o irracionalismo, Bergson foi dócil ao avanço do emprego do braço armado do capitalismo em favor da propriedade privada, do melhor fluxo da concentração de capital e da concretização de mais-valia. Da análise da atuação do Estado Capitalista contra os progressistas se esclareceu o verdadeiro conteúdo e se encerrou o caráter abstrato da filosofia. Quanto a isso, a produção filosófica de Bergson não favoreceu as luzes, a liberdade, a auto-determinação dos povos.
Fonte:
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

http://vsites.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/edicao2000/liberalismo/liberalismo.htm


Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.

Sejam abençoados todos os seres.

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