sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O CONHECIMENTO INTUITIVO BERGSONIANO



O conhecimento intuitivo bergsoniano é uma forma de Gnose.
 A Intuição
 
Bergson é muito vago sobre o que entende por intuição( ? ). E isto é bem compreensível, visto que ele afirma que a intuição é inefável. Daí, as várias formulações brumosas do que seria a intuição.

“A intuição, sendo de si mesma evanescente,
pode e deve exprimir-se, ou antes, 
ser sugerida, em representações mais flexíveis
e mais fluidas que os conceitos ordinários” 
(J. Maritain, Op. cit.,p. 67).

Sendo a intuição incomunicável, inefável, ela “não pode ser traduzida em conceitos ou proposições. Somente metáforas sensíveis  podem sugerir a outrem o que percebemos, ajudando outros a fazerem o mesmo esforço metafísico”( J. Maritain, op. cit., p. 92).


O bergsonismo prefere metáforas
e comparações a conceitos, imagens a idéias.

Por exemplo, segundo Lydie Adolphe:
Intuição filosófica, seria expressão para designar” o conhecimento íntimo do espírito pelo espírito, subsidiariamente o conhecimento, pelo espírito, daquilo que há de essencial na matéria” e que está no fundo” [das coisas] (Bergson, La Pensée et le Mouvant, p. 244, apud Lydie Adolphe, op. cit. p. 139).

Para Bergson, a inteligência procura
conhecer o objeto, girando em torno dele, 
enquanto a intuição penetra no objeto 
(cfr. Bergson, La Pensée et le Mouvant, p. 202).
 
Para Bergson, a intuição resulta de uma experiência, pois “não há outra fonte de conhecimento, a não ser a experiência (Bergson, Deux Sources, p. 265 apud, Fr. Sébastien Tauzin, O.P., Bergson e São Tomaz,  Desclée de Brouwer, Rio de Janeiro, 1943, p. 70).

“Só a intuição é capaz 
de atingir imediatamente 
na sua totalidade concreta, o real”
  (Padre Diamantino Martins, S. J., 
Bergson,  Livraria Tavares Martins, Porto 1946, p.107).

Contra o que ele considera a falsa ciência do intelecto, Bergson opõe o conhecimento intuitivo da duração, do impulso vital causador da mudança perpétua. Só a intuição nos permitiria aceder ao verdadeiro conhecimento, não racional, não conceitual, não intelectual, do perpétuo mudar. Desse modo,
Bergson opõe conhecimento intuitivo a conhecimento intelectual.
“Julgo que um dos sinais aparentes mais característicos do bergsonismo, encontra-sena oposição entre inteligência e intuição(...)” (J. Maritain, op. cit., p. XIX).
“Mas, de fato, a noção bergsoniana da duração e a da intuição são estritamente correlativas, elas não podem subsistir uma sem a outra” (...)” (J. Maritain, op. cit., p. XIX).


“A intuição bergsoniana 
se caracteriza essencialmente por oposição 
ao conhecimento intelectual.

“O conhecimento intelectual é abstrato, universal, e se serve do raciocínio ou do discurso. O conhecimento intuitivo requerido pelo bergsonismo será experimental, singular; excludente do raciocínio e do discurso, ao menos no que propriamente o constitui”. A intuição, nos diz Bergson, transcende a inteligência e a razão, é uma simpatia de todo o nosso ser com o real pela qual nós no comunicamos  plena e absolutamente com ele, se bem que de modo fugidio, e por assim dizer evanescente” (J. Maritain, op. cit., p.123).

O conhecimento intuitivo seria como que uma iluminação fulgurante, mas, momentânea, que nos uniria ao objeto conhecido, determinando uma como que fusão do sujeito conhecedor com o objeto conhecido.

Só a intuição, oposta à inteligência, seria capaz de captar a realidade ”graças a um processo sui generis de conhecimento, graças a um contacto imediato, a uma coincidência absoluta com o real, isto é a intuição” (Cfr. J. Maritain, op. cit., p.124).
 
A “Metafísica” decorrente da idéia de duração e vir a ser exigiria uma “experiência integral”  do mudar para produzir o conhecimento do fluxo universal (Cfr. J. Maritain, op. cit., p.123).
  “Onde se deve, pois buscar o conhecimento pleno da realidade, da Metafísica verdadeira? Na direção do instinto, na direção da simpatia” (Padre Diamandino Martins, S.J.,  Bergson, a Intuição como Método da Metafísica, Livraria Tavares Martins, Porto, 1946, p. 54).
 
O conhecimento intuitivo do mudar proposto por Bergson é um conhecimento não intelectivo, mas experimental, místico, que é de fato uma gnose, no sentido literal desta palavra.

“Só podemos conhecer a duração graças à intuição; mas com ela conhecemo-la diretamente e como algo íntimo. A intuição distingue-se por características que se contrapõem às características da inteligência. Órgão do homo sapiens, a intuição não está ao serviço da prática; seu objeto é o fluente, o orgânico, o que está em marcha; só ela pode captar a duração. Enquanto a inteligência analisa, decompõe, para preparar a ação, a intuição é uma simples visão, que não decompõe nem compõe, mas vive a realidade da duração. Não se adquire facilmente a intuição; tão habituados estamos ao uso da inteligência que se torna necessária uma viragem íntima violenta, contrária a nossas inclinações naturais, para podermos exercitar a intuição, e só em momentos favoráveis e fugazes somos capazes de o fazer”. (J. M. Bochenski, Henri Bergson, Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. in A Filosofia Contemporânea Ocidental, Herder, São Paulo, 1968).
 
e)  Intuição é flash iluminante evanescente inefável
A intuição daria um conhecimento fulgurante, mas fugaz do real. Seria como que um “flash” de luz, que permitia unir o sujeito conhecedor com o objeto do conhecimento, pela união das “almas”, que, como vimos, estão em tudo e que constituem uma só alma.
 

f) Intuição identifica sujeito e objeto causando a Imanência

Essa identificação do sujeito com o objeto constituiria o princípio de imanência, tão querido dos modernistas, e que foi condenado na encíclica Pascendi.

É o que explica o Padre Macdowell:
“Reduzida à sua expressão mais simples, a idéia de imanência implica apenas que a realidade só nos é acessível enquanto presente à consciência. Seria evidentemente impossível, para o sujeito sair de si mesmo para considerar-se o ente fora da própria consciência. Daí se segue que a conformidade entre o conteúdo imanente do pensar e o seu objeto não é obtida nem reconhecida através da comparação entre um e outro”(Padre J. A. Macdowell, S.J., A Gênese da Ontologia Fundamental de Martin Heidegger, Editora Herder, São Paulo, Edusp, 1970, p. 51).

Portanto, o princípio de imanência identificaria o sujeito com o objeto, permitindo o verdadeiro conhecimento. Desse modo, Deus e Mundo, como objetos do conhecimento, só nos seriam conhecidos pela identificação do eu com Deus e com o mundo. Deus se tornaria assim imanente ao homem. Daí o panteísmo ou a gnose da modernidade e do modernismo.
 
A intuição daria o conhecimento verdadeiro,
superior ao da abstração intelectiva:

“Caracteriza-se a intuição como supra intelectual. Para além do conceito, e mesmo virando contra ele a direção do pensamento, além e acima de tudo o que a atividade da inteligência humana comporta inevitavelmente de abstrato e de propriamente racional, um conhecimento imediato, uma intuição do real, que é espírito, é “o instrumento específico” da filosofia. A intuição alcança o espírito”. (Carta de Bergson a M. Chevalier). Em outros termos, uma captação direta e supra conceitual da natureza do espírito; uma percepção imediata e concreta do universo metafísico, por mais esvaescente que se a declare, ´por mais contrária à inclinação natural da inteligência, é o único órgão proporcionado do conhecimento filosófico, enquanto este se eleva acima da matéria”.(J. Maritain, op. cit., pp.  XXVI – XVII).

Porém, bem nota Maritain que a intuição bergsoniana, negando que a inteligência seja capaz de, pela abstração captar o real, ela é, de fato, infra intelectual:
“De outro lado, não adianta que se nos apresente a intuição bergsoniana como “supra intelectual”, ou como “ultra-intelectual” , é preciso reconhecer que, de fato na realidade, ela só pode ser infra-intelectual” ”(J. Maritain, op. cit., p. XVII).
 
Como bem nota Maritain, Bergson mutila a inteligência.**
“Sendo a atitude da inteligência exclusivamente prática, a filosofia não pode utilizar senão a intuição. Os conhecimentos, obtidos por este meio, não podem ser expressos em idéias claras e precisas, nem tampouco são possíveis as demonstrações

A única coisa que o filósofo pode fazer é ajudar os outros a experimentarem uma intuição semelhante à dele. Assim se explica a riqueza de imagens sugestivas que as obras de Bergson oferecem”. (J. M. Bochenski, Henri Bergson, Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. in A Filosofia Contemporânea Ocidental, Herder, São Paulo, 1968).
 
Para se ter a intuição, seria necessário um esforço imenso, a fim de contrariar e de anular o processo normal, intelectual, do conhecer humano.
Frei Tauzin aponta qual seria o método para se obter a experiência da intuição.

Seria preciso:

    eliminar toda memória (lembranças, recordações) assim como todos os  afetos;
    não fazer distinções e classificações;
    tentar quebrar os quadros da linguagem; “rejeitar expressões verbais” Padre Diamantino Martins, S. J., Bergson,  Livraria Tavares Martins, Porto, 1946, p.121)
    combater a noção de estabilidade das coisas;
    procurar unir o ver com o querer, isto é procurar conhecer pelo amor;

O conhecimento por intuição assim obtido será momentâneo e evanescente. Seria como um flash, extremamente luminoso, mas passageiro, fugidio, evanescente, inefável, e, por isso mesmo, incomunicável. Na realidade, a intuição bergsoniana é uma verdadeira experiência do tipo místico. (Cfr. Fr. Sébastien Tauzin, O.P., Bergson e São Tomaz, Desclée de Brouwer, Rio de Janeiro, 1943, pp. 71-72).
 
Quem tivesse um flash, uma intuição, poderia dizer: “Quem viu, viu. Quem não viu, não viu”, pois o que se capta no tal flash intuitivo seria incomunicável.
 
Também Lydie Adolphe relaciona a intuição bergsoniana com a mística unificadora do sujeito com o objeto do conhecimento ou do amor, isto é, ao princípio de imanência:

“Cremos que é nesse sentido que é preciso compreender a intuição bergsoniana. A intuição deve coincidir em seu ritmo com todos os demais anéis da cadeia [do mudar], com todas as durações respectivas dos seres. Há assim como que uma comunhão, uma “relação”, no sentido místico da palavra, entre o sujeito e o objeto, independentemente do espaço e do tempo. Esta coincidência é comunhão, endosmose, derramamento mutuo, transmutação insuspeitada, de um modo geral, troca. Como definir de outro modo a ação?”(Lydie Adolphe , op. cit. p. 178).

Há, sim,  uma palavra que define bem esse derramamento mútuo do sujeito no objeto e deste no sujeito: Kenosis.

É na doutrina eslavófila e gnóstica imanentista da Kenosis que se dá essa fusão do conhecedor no conhecido, por intuição, de modo que um se identifique com o outro, esvaziando-se nele. Sendo um no outro.


A intuição bergsoniana é kenótica 
sem que ele use esse termo. E a Kenosis é 
um conceito imanentista da Gnose romântica 
dos místicos eslavófilos.

Que a intuição de Bergson, sob forma de filosofia é uma Gnose que busca fazer conhecer que somos algo que desprendeu do todo original, e que, para salvar-nos, temos que conhecer isso, e buscar retornar à união primeva com o todo em perpetua evolução é fácil de entender nestas palavras de Bergson:
“A filosofia não pode ser senão um esforço para fundir-se de novo no todo. A inteligência, se reabsorvendo em seu princípio, reviverá ao avesso sua própria gênese” (Bergson, L´Évolution Créatrice, p. 209. apud Lydie Adolphe, op. cit. p. 182).

E isso é claramente Gnose e imanentismo.
 
Se a intuição produz uma união do sujeito com o objeto, então um caminho para alcançar a intuição seria a simpatia, que já é uma certa forma de união no sentir com o outro. “Simpatia é, portanto, caminho da intuição do exterior”  (Fr. Sébastien Tauzin, O.P., Bergson e São Tomaz,  Desclée de Brouwer, Rio de Janeiro, 1943, p. 82).
“A intuição” seria “a coincidência vivida, sentida do sujeito e do objeto” (J. Maritain, op. cit., p. 13).


“A intuição do sr. Bergson é 
uma identificação vivida do espírito 
e da coisa em seu ser real 
(e não em seu ser intencional,

que o sr. Bergson não poderia admitir).bem que supra –intelectual  na intenção do sr. Bergson, ela se reduz na realidade à ordem sensível pois que ela é uma experiência da própria materialidade da coisa(...) Com uma tal intuição nós não damos luz às coisas, nós vamos buscar nas coisas um contato que nos transforme nelas. Nós não possuímos as coisas, somos possuídos por elas, nós não intelectualizamos a matéria, mas materializamos o espírito” (J. Maritain, op. cit., p. 64).

Seria, de fato, uma intuição cega.
 
g) Intuição, “Mergulho” e Simpatia
 
Desse modo a intuição seria uma imersão nossa nas coisas, um “mergulho” nas coisas para que nos identificássemos com elas e, por elas, ao todo universal, ao absoluto.

O próprio Maritain alude à similitude que tem a intuição simpática bergsoniana com as experiências místicas da Gnose e das seitas teosóficas:
“(...) enfim, a uma parte do misticismo natural que aparentaria esta intuição ao êxtase de Plotino, e com as diversas imitações que as seitas gnósticas ou teosóficas tentaram da verdadeira contemplação” (J. Maritain, op. cit., p. 65).
 
Seria a simpatia que abriria caminho para a intuição, a qual seria um como que mergulho no  objeto intuído:    

“Donde se segue que um absoluto 
só pode ser atingido numa intuição,
isto é, na ‘simpatia pela qual  nos transportamos 
ao interior dum objeto, para coincidir com aquilo 
que ele tem de único,e conseqüentemente de inexprimível” 
(Bergson,
Introduction à la Métaphysique, p. 205 , 
apud Padre Diamantino Martins, S. J., Bergson, 
Livraria Tavares Martins, Porto, 1946, p.107).

Essa idéia da identificação plena do sujeito com o objeto através do “mergulho” da intuição levou Maritain a fazer os seguintes comentários:

A doutrina de Bergson “opõe então sua intuição à idéia, ao conceito, ao conhecimento abstrato; e à razão e ao conhecimento discursivo. Ela  não vê que, suprimindo do conhecimento a idéia, isto é, a similitude subjetiva do objeto, formada no sujeito conforme o modo de ser do sujeito, ela se condena a fazer de seu conhecimento intuitivo uma identificação do objeto e do sujeito, conforme o modo de ser do objeto; de modo que para ter, nesse sentido, a intuição da vida vegetativa ou da matéria, seria preciso que de um certo modo o filósofo se tornasse, ele mesmo, materialmente, vegetal ou mineral. A intuição bergsoniana, deste ponto de vista, só pode nos aparecer como uma tentativa de fazer violência ao espírito para absorvê-lo na materialidade das coisas” (Jacques Maritain, La Philosophie Bergsonienne,Librarie P. Téqui, Paris, 1948, p. 133).
 
E ainda :
 
“Deixemos agora de lado a lógica e o raciocínio, e tentemos captar o real, não mais por uma idéia, e graças ao conhecimento intelectual, mas diretamente em si mesmo, graças a uma espécie de simpatia vivida que nos faz coincidir com ele, ou antes, para chamar as coisas por seu nome, por uma dilatação de percepção, e graças a um esforço de nossa alma toda para nos transformar no objeto, para enganá-lo, [pour le jouer], para entrar nele”( J. Maritain, op. cit., p. 91).

Intuindo um rubi, o homem unindo-se a ele se “rubinizaria”; intuindo uma safira, ele se safirizaria, intuindo o mar, ele se identificaria com ele, etc... Intuindo Deus...

“A intuição não é uma visão de algo,
mas contato, é bem uma simpatia 
‘ pela qual se daria um transporte ao interior 
de um objeto para coincidir com aquilo que ele tem de único,
e, por conseqüência de inexprimível” 
Bergson,
La Pensée et le Mouvant, 
p. 205, apud Lydie Adolphe, op. cit. p. 163).
 
 Alguns pretendem que este modo de conhecimento intuitivo, pelo qual se daria um “mergulho” no outro, é relacionado como conhecimento por conaturalidade de que falam Aristóteles e São Tomás. Ora, o conhecimento por conaturalidade dar-se-ia, segundo Aristóteles e São Tomás quando alguém, possuindo uma certa virtude, embora sem ter a ciência dela,  teria um certo conhecimento de quem atua de acordo com essa mesma virtude.
 
Bergson não diz isto.

Bergson julga que, por meio da intuição haveria uma coincidência do intuidor com o intuído, que se tornariam um só e o mesmo absoluto.
Daí, escrever Frei Tauzin:
“Se conhecer é ser, conhecer o outro é ser o outro” (Frei Sébastien Tauzin,  O.P., Bergson e São Tomaz,  Desclée de Brouwer, Rio de Janeiro, 1943, p. 272).
 

h) Supervalorização da Imaginação

Outro meio auxiliar para alcançar a intuição seria a imaginação:
, p. 202, apud Padre Diamantino Martins, S. J., Bergson,  Livraria Tavares Martins, Porto, 1946, p.105).
“Se falamos dum movimento absoluto, é, diz Bergson, porque atribuímos ao móvel ‘um interior e como que estados de alma ”e neles nos inserimos“ por um esforço de imaginação” (Bergson, Introduction à la Métaphysique. La Pensée et le Mouvant
 
É interessante notar como a intuição bergsoniana influiu na Arte Moderna, especialmente no Surrealismo, pois disse Bergson que ela exige ação violenta que rasgue o véu da figuração simbólica que recobre a realidade. Ela exigiria um olhar ‘naif’ [ingênuo] para alcançar uma outra realidade superior àquela que vemos (Cfr.Lydie Adolphe, op. cit., p. 165).

i) Nova Moral “Aberta” contra a Moral  “Fechada”
A filosofia do devir de Bergson deu origem a uma nova Moral.
“Segundo Bergson, há duas espécies de moral, a moral fechada e a moral aberta. A moral fechada deriva dos fenômenos mais gerais da vida; consiste numa pressão exercida pela sociedade, e as ações que lhe correspondem são levadas a cabo de modo automático, instintivamente. Só em casos excepcionais se trava luta entre o eu individual e o social. 

A moral fechada é impessoal e triplamente fechada: visa a conservação dos costumes sociais, faz coincidir quase inteiramente o individual com o social, de sorte que a alma se move constantemente dentro do mesmo círculo, e, por último, é sempre função de um grupo limitado e nunca pode ser válida para a humanidade inteira, porque a coesão social, da qual é função, repousa em grande parte na necessidade de autodefesa”
 
“A par desta moral fechada, que obriga absolutamente, existe a moral aberta. Esta aparece encarnada em personalidades. eminentes, em santos e heróis, e não é moral social, mas humana e pessoal. Não consiste numa pressão, mas num apelo; não é fixa, mas essencialmente progressiva e criadora. É aberta no sentido que abarca a vida inteira no amor, proporciona até o sentimento da liberdade e coincide com o próprio princípio da vida. Procede de uma emoção profunda que, do mesmo modo que o sentimento provocado pela música, carece de objeto”. (J. M. Bochenski, Henri Bergson, Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. in A Filosofia Contemporânea Ocidental, Herder, São Paulo, 1968).
 
j) Fanáticos Propagadores de Metáforas.

Por fim, seria conveniente mostrar que o bergsonismo, afirmando que o único conhecimento possível é o intuitivo –que seria inefável e incomunicável—se condena a não poder ser  transmitido. Bergson na podia ter discípulos mas só repetidores. É o que nota Maritain:

“ Uma filosofia anti intelectualista não poderia formar discípulos em sentido próprio, porque discípulo é aquele cuja inteligência, posta em ato por uma doutrina recebida, a pensa de novo por sua própria conta; somente as idéias se comunicam, as impressões, sensações e simpatias intuitivas só podem ser individuais. 

O bergsonismo, portanto,  só pode ter propagadores mais ou menos fiéis à “corrente de pensamento” de seu mestre, e que repetem, mais ou menos bem, as metáforas que aprenderam” (Jacques Maritain, La Philosophie Bergsonienne,Librarie P. Téqui, Paris, 1948, p. 300).


                   Resumindo.
As características da teoria do conhecimento
do gnóstico  Bergson são:

    O Conhecimento é Inefável.
    A Inteligência é contrária à Intuição
    A Inteligência é Enganadora ( uma ferramenta apenas)
    A Intuição não engana
    Intuição é Flash Iluminante, Evanescente e Inefável
    A Intuição, identificando sujeito e objeto, causa a Imanência.
    Intuição, “Mergulho” e Simpatia.
    Supervalorização da Imaginação
    Nova Moral “Aberta” contra a Moral  “Fechada”
    Fanáticos Propagadores de Metáforas. ( ? )

** Para Bergson,  
a inteligência é apenas uma ferramenta 
de análise e construção
Fonte:
A Religião do Concílio Vaticano II
MONTFORT
http://www.montfort.org.br/
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

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