W.A.Mozart -Piano Concerto No23 KV 488 -27m
Piano: Till Fellner
Hubert Soudant- Mozarteum Orchestre Salzburg -1998
Psicologia Analítica e Cultura
Alberto André Delpino de Mendonça
Instituto C.G. Jung Minas Gerais
É impossível compreendermos a contribuição cultural da psicologia  analítica sem antes examinarmos a trajetória científica e humana do seu  fundador, Carl Gustav Jung, ao longo de seus quase 86 anos de vida A  psicologia analítica teve muitos colaboradores além de Jung e continua  recebendo uma sólida contribuição científica de pesquisadores de todo o  mundo. Seria inexeqüível tentar abordar ou citar num texto como este os  nomes e contribuições de todos aqueles que ajudaram a construir ao lado  do mestre de Küsnacht o edifício da psicologia analítica. Diante disso,  restringir-me-ei a focalizar seu principal mentor ao longo de século XX.
Corre o último quarto do século XIX, naquela atmosfera própria de  um mundo que fatalmente eclodiria na Grande Guerra de 1914-1918. Há quem  diga que o século XIX ocidental só teria terminado historicamente após o  tratado de Versalhes. Nesse clima de incertezas e de grandes ousadias  nos vários campos do saber humano, Jung sedimenta as bases da sua  formação e do seu pensamento através de filósofos como Pitágoras,  Heráclito, Empédocles, Platão, Shopenhauer, Brentano, Hartmann,  Nieztsche, Kant, dentre outros. E também, de cientistas, pesquisadores,  poetas e artistas que iriam ajudá-lo a iniciar e mais tarde a construir,  enriquecer e solidificar a sua obra.
Em 1895, Jung inicia seus estudos de medicina na Universidade de  Basiléia, onde seu avô paterno fora reitor e, em 1900, ao término dessa  etapa, resolve dedicar-se à psiquiatria. Este passo será fundamental em  sua vida. Em 1902 torna-se o primeiro assistente do professor Eugen  Breuler, na época um dos psiquiatras mais conceituados da Europa que em  pouco tempo se destacará com a monografia sobre as esquizofrenias que o  transforma no monstro sagrado da psiquiatria ocidental contemporânea.
Entre 1903-1905 Jung desenvolve suas pesquisas sobre associações e  demonstra pela primeira vez, dentro de técnicas experimentais e de  laboratório, a existência de uma atividade inconsciente no psiquismo  humano. Durante o ano de 1906, o jovem livre-docente da Faculdade de  Medicina da Universidade de Zurique, encontrando respaldo científico nos  estudos de Freud às suas pesquisas clínicas e aos seus achados sobre  associações, busca apoio do mestre de Viena. O primeiro encontro pessoal  entre os dois ocorre em março de 1907.
Suas pesquisas sobre associações com a colaboração de Franz Riklin  e os trabalhos clínicos sobre a psicogênese na esquizofrenia, os quais  já haviam interessado a Freud, repercutem nos meios científicos e  despertam a curiosidade de acadêmicos e estudiosos. Suas atividades se  intensificam até 1912 quando amplia seu envolvimento com o movimento  psicanalítico, incluindo neste período sua viagem aos EEUU com o mestre  da psicanálise, em 1909. Nessa ocasião é convidado para conferências na  Clark University de Worcester, Massachusets. Já considerado o príncipe  herdeiro de Freud, no ano seguinte, torna-se presidente da recém-fundada  Sociedade Internacional de Psicanálise.
Em pouco tempo o prestígio do jovem cientista suíço se propaga,  não só na Europa como também nos EEUU. No mesmo ano da sua viagem à  América, é obrigado a deixar a clínica do Burghölzi, o grande hospital  em Zurique, por sobrecarga de trabalho. Além da clínica particular,  passa a dedicar-se com afinco ao estudo e pesquisa da mitologia, das  religiões e do folclore.
A publicação de Transformações e Símbolos da Libido enseja,  particularmente pelo capítulo denominado O Sacrifício, o rompimento com  Freud. A obra é uma espécie de pedra angular da psicologia analítica. O  encontro inicial de Freud e Jung não resiste à prova do tempo e passados  seis anos do casamento científico acontece o rompimento definitivo com  evidente desvantagem para o então jovem cientista suíço, uma vez que  passa por um período de isolamento e rejeição nos meios especializados,  como ele próprio confessaria. A partir de então, Jung entra numa fase de  introversão, denominada por ele de confronto com o inconsciente e que  ensejará a constituição de parte importante do material para o seu Livro  Vermelho.
Em 1919, Jung usa pela primeira vez o conceito de arquétipo. Nessa  época, já fim da primeira Grande Guerra, Jung serve como capitão-médico  nos campos de concentração ingleses. Finalmente, em 1920 inicia uma  série de viagens pela África e ao continente americano que no seu  conjunto só terminará em 1938, na Índia. Este afastamento do solo  europeu e do seu próprio ambiente cultural constitui, dentre outros  aspectos, uma tentativa de focalizar a partir de fora a avaliação de  outros povos no tocante à cultura europeia e propiciar à sua condição de  pesquisador um distanciamento crítico mais eficaz e mais isento de  preconceitos.
Não terá sido por acaso que o chefe Pueblo “Lago das Montanhas”, finalmente, diz ao visitante: ... 
”Veja  como os brancos têm um ar cruel.
 Têm lábios finos, nariz em ponta,
 os  rostos sulcados de rugas e deformados. 
Os olhos têm uma expressão fixa,
 estão sempre buscando algo.
 O que procuram?
 Os brancos sempre desejam  alguma coisa, 
estão sempre inquietos, e não conhecem repouso. 
Nós não  sabemos o que eles querem.
 Não os compreendemos e achamos que são  loucos”.
Com esses indígenas, Jung sedimenta a ideia de que toda cultura  necessita de mitos que a estruturem e sustentem: os Pueblos se julgavam  filhos do Sol e responsáveis pelo seu trajeto cotidiano. Sem eles tudo  seriam trevas. Esta certeza conferia-lhes a dignidade que necessitavam  para se manterem como um povo.
Na África, a viagem entre os Elgonís propicia ao pesquisador a  experiência viva da hora do nascimento do Sol como equivalente ao culto  egípcio a Osíris, onde este momento, o instante em que a luz se faz é  Deus. Para eles tudo que se estende ao sol é bom. A noite, em contraste  com o dia, é vista como “um novo mundo; o mundo obscuro, o mundo de  Ayik, do mal, do perigo e do medo. É ainda nessa época, que Jung  compreende que “... desde a origem, uma nostalgia de luz e um desejo  inesgotável de sair das trevas primitivas habitam a alma. A nostalgia da  luz é a nostalgia da consciência”.
Quanto à Índia, o aspecto central que sensibiliza o cientista,  dada a abordagem distinta conferida ao tema pelos indianos e pelo  cristianismo europeu, é a questão do bem e do mal. Evidentemente, que  sendo a Índia um manancial riquíssimo da cultura humana e uma fonte  contínua de novas respostas ao intelectualismo europeu, além da questão  do bem e do mal, ela acena como uma nova possibilidade de união de  opostos, como elemento complementar e compensador da cultura cristã  européia. Uma vez convencido destes fatos, a busca de interlocução entre  ocidente, Índia e oriente como um todo será uma constante na sua obra e  durante toda sua vida participará ativamente de eventos com este fim.  As conferências de Eranos são um testemunho disto. Jung participa delas  de 1933 até 1951, dez anos antes da sua morte. Entre 1934 e 1939 realiza  seus seminários em inglês sobre o Zaratustra de Nietzsche.
Mas é importante dar alguns passos atrás. Em 1922, um ano antes da  morte de sua mãe e da palestra de Richard Wilhelm sobre o I Ching em  Zurique, Jung adquire um terreno em Bollingen, no lago superior de  Zurique, e com a ajuda inicial de dois mestres de obra italianos executa  ao longo do tempo a construção da Torre. Em contraste com sua bela e  acolhedora casa de Küsnacht, local destinado à família, aos amigos e à  vida cotidiana, a nova construção se constitui em espaço de  aprofundamento interior e recolhimento.
A Torre manterá até o fim um  aspecto que Jung jamais deixou de considerar essencial na caminhada  humana: o da dimensão da busca das nossas raízes profundas e da dimensão  do mistério.
Em 1928 Jung se encontra com sinólogo Richard Wilhelm e toma  conhecimento do texto de O Segredo da Flor do Ouro. A partir de então,  interrompe suas experiências iniciadas em 1913 e se aprofunda nos textos  alquímicos, sobretudo, dos autores europeus.
Os títulos obtidos por Jung em vida na sua trajetória acadêmica e  profissional foram muitos. Contudo, segundo confessou, o momento supremo  da sua carreira acadêmica foi a sua nomeação para a cátedra de  psicologia médica na Universidade da Basiléia em 1944, a mesma onde seu  avô paterno havia sido reitor. Jung atribuiu inclusive a sua grave  doença, havida no mesmo ano e posterior à sua nomeação, à imensa carga  emocional que o fato representou para ele.
É a partir dos escritos e correspondências de Jung que nos  deparamos com uma quantidade significativa de temas que não se prendem a  questões específicas de psicologia, psicopatologia ou psiquiatria,  dentre eles os de cunho religioso. O escritor aborda estes temas na  condição de médico, pesquisador e psicólogo, procurando não se deixar  contaminar pela questão religiosa ou teológica propriamente dita. Isto  lhe valeu a animosidade e desconfiança de inúmeros teólogos e religiosos  que não admitiam a abordagem psicológica das religiões ou não  concordavam com seus achados, além do desprezo dos que o acusavam de  místico e não científico. Contudo, estes ataques não abalam suas  convicções e esses escritos e correspondências se manterão até o fim da  sua vida ao lado de outros temas, sejam científicos, artísticos,  pedagógicos, sociológicos, éticos.
Em 1948, é inaugurado o Instituto Carl Gustav Jung em Zurique, uma  vez que, a essa altura, o número de adeptos e colaboradores da  psicologia analítica já era considerável, tornando, assim, possível a  criação de um centro de formação de profissionais especializados na  área. O referido instituto torna-se, então, centro irradiador para a  formação de analistas em outros países do mundo.
Em 1953, é iniciada a edição inglesa das obras completas de Jung  (Collected Works, Bollingen Series, New York) e a partir da segunda  metade do século XX, outros institutos e associações se organizam em  vários países da Europa e fora dela. A International Association for  Analytical Psychology (IAAP) é fundada em 1955 e torna-se a instituição  credenciada para organizar e controlar, em nível ético, científico e  profissional, os grupos e sociedades de analistas devidamente  reconhecidos nos vários países e continentes, bem como para promover e  divulgar a psicologia analítica em todo o mundo.
Com a morte de Carl Gustav Jung, em 6 de junho de 1961, na sua  residência em Küsnacht, encerra-se a sua jornada terrena. Jung, desde o  início de sua trajetória, reconhecia que na base de toda questão do  psiquismo humano e da caminhada humana encontram-se as perguntas primordiais: o psiquismo busca um sentido, um fim? e, finalmente, a existência humana tem um sentido?
Para a primeira pergunta, responde-nos com o princípio de  individuação. Para a segunda, replica que sua “raison d’être’ (dele,  Jung) consistia no entendimento do ser indefinível que chamamos Deus”.  Quanto aos acréscimos à cultura pela psicologia analítica, estes  freqüentemente constituem novos paradigmas que também a transformam.  Inconsciente coletivo, arquétipos, complexos, tipos psicológicos,  introversão e extroversão, individuação, sincronicidade, são  contribuições ao pensamento humano de valor inestimável.
A abordagem de temas como símbolo, mito, folclore, religião, alquimia, libido, interpretações de sonhos, imaginação ativa, Eros e logos, masculino e feminino, as várias figuras arquetípicas, desenvolvimento da personalidade, esquizofrenia e outros distúrbios mentais, amor e casamento, fenômenos ocultos, UFO, arte e arte moderna, são questões amplamente abordadas pela psicologia analítica, bem como as questões e desafios da globalização e do movimento ecológico de alcance cultural inquestionável.
A abordagem de temas como símbolo, mito, folclore, religião, alquimia, libido, interpretações de sonhos, imaginação ativa, Eros e logos, masculino e feminino, as várias figuras arquetípicas, desenvolvimento da personalidade, esquizofrenia e outros distúrbios mentais, amor e casamento, fenômenos ocultos, UFO, arte e arte moderna, são questões amplamente abordadas pela psicologia analítica, bem como as questões e desafios da globalização e do movimento ecológico de alcance cultural inquestionável.
A psicologia analítica contou desde o início da sua formação com  colaboradores cujo número, ao longo do tempo, foi se avolumando. As  qualidades acadêmicas, científicas, culturais e humanas de muitos deles,  por si só, seriam suficientes para enaltecer e autorizar qualquer grupo  a que se filiassem. Contamos hoje com mais de meia centena de  sociedades que se organizam por todo o mundo, incluindo Oriente, América  do Norte, America do Sul, Austrália, África do Sul, Europa ocidental e  Leste europeu.
Ao lado destas sociedades, existem vários grupos em desenvolvimento em várias partes do planeta. A Associação Junguiana do Brasil encontra-se entre elas e é uma colaboradora e produtora de cultura eficaz e ativa, com amplo intercâmbio no plano nacional e internacional. Possui sete institutos distribuídos pelos estados do Rio Grande Sul, Paraná, São Paulo (Campinas e São Paulo), Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, todos promovendo cultura.
Ao lado destas sociedades, existem vários grupos em desenvolvimento em várias partes do planeta. A Associação Junguiana do Brasil encontra-se entre elas e é uma colaboradora e produtora de cultura eficaz e ativa, com amplo intercâmbio no plano nacional e internacional. Possui sete institutos distribuídos pelos estados do Rio Grande Sul, Paraná, São Paulo (Campinas e São Paulo), Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, todos promovendo cultura.
Carl Gustav Jung
Alberto André Delpino de Mendonça

Pablo Picasso
 
Li
 Fonte:
Associação Junguiana do Brasil
http://www.ajb.org.br/
Associação Junguiana do Brasil
http://www.ajb.org.br/
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres. 
Sejam abençoados todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.









 
 
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