Baruch Habá, Gilad!!! -c/tradução
Mísica hebraica, cantada por diversos cantores
israelenses para Gilad Shalit...10'
Martin Buber
"No princípio era o Verbo" (João).
"No princípio era a ação" (Goethe).
"No princípio é a relação" (Buber).
"No princípio era a ação" (Goethe).
"No princípio é a relação" (Buber).
Martin Buber (Viena, 8 de Fevereiro de 1878 - Jerusalém, 13 de Junho de 1965) era filósofo, escritor e pedagogo, de inspiração sionista. Tinha educação poliglota: em casa aprendeu ídiche e alemão, na escola hebraico, francês e polaco. Sua formação universitária se deu em Viena.
Ideologia
Buber identifica um itinerário de crescimento no sentido de a pessoa atingir a autenticidade e o destino humano.
Sua opinião era de que não há
existência sem comunicação e diálogo e que objetos não existem sem a inteiração.
Acreditamos que a partir de Buber não houve
mais preocupação em saber se a vida vale ou não a pena de ser vivida; o
importante é saber o que fazer com a resposta, se afirmativa.
A ontologia de Martin Buber
O ponto de partida de Buber também é a existência no
sentido que tem para Tillich. Ou seja, o homem no seu aqui/agora buscando
transcender a ameaça do não-ser por meio de uma potência divina. O
fundamento da existência para Buber está na relação dialógica. Numa relação
entre um Eu e Tu que se manifesta pela palavra, que, longe de ser mera
representante de outros objetos, é o espaço ontológico da relação mais ampla
entre o homem e o divino. Buber identifica na palavra o locus
privilegiado em que o ser do homem se torna efetivo e atualizado. A
palavra, neste sentido, não é conceito abstrato, mas experiência
existencial em que o ser se instaura como revelação.
Dentro desse escopo, Buber distingue duas
palavras-princípio que traduzem duas atitudes bastante distintas do homem diante
do mundo ou do ser. A primeira é a palavra-princípio Eu-Tu, e a segunda,
a palavra-princípio Eu-Isso. A primeira diz respeito a uma atitude essencial do
homem, um encontro, uma relação com um outro presente e direta em que se
confirma a existência de ambos e o sentido maior desta existência (atitude
ontológica). A segunda atitude se dirige ao mundo, à experiência prática
no mundo como objetos passíveis de serem conhecidos objetivamente (atitude
cognoscitiva).
Embora Buber reconheça a primazia da relação Eu-Tu
como reveladora da existência do humano, isso não significa que a atitude
Eu-Isso seja negativa ou inferior. Ela é também uma atitude fundamental, pois
devido a ela o homem pode conhecer, interferir na realidade e constituir-se
enquanto homem. É também uma atitude autenticamente humana. Em si ela não é um
mal. Ela só se transforma em um malefício quando se torna absoluta para o homem,
quando o homem é tomado por ela e pauta seus valores por seus ditames. Ao
converter-se aos valores do Isso, o homem perde sua humanidade, seu fundamento
ontológico de onde brota a vitalidade de sua existência. A esse respeito, diz
Buber: "Se o homem não pode viver sem o Isso, não se pode esquecer que aquele
que vive só com o Isso não é homem".
O Eu, segundo Buber, é relacional e não uma
realidade em si. O Eu se define em relação a um Tu ou a um isso. Assim, para
Buber, não existe um "eu" enquanto substância, um eu engendrado pelo
cartesianismo. Essa dualidade é fundamental para o homem para se explicitar sua
divisão, o paradoxo de ser finito e infinito ao mesmo tempo.
O reino do Tu não se reduz a coisas, a entes. Não se
experencia o Tu. O Tu é totalidade, é horizonte sem limites. A este respeito diz
Buber: "Eu não experencio o homem a quem digo TU. Somente quando saio daí
posso experenciá-lo novamente. A experiência é distanciamento do TU"
(1979:10). Buber enfatiza que o encontro com Tu dá-se por graça e não por meio
de uma procura e na imediatez do instante sem qualquer mediação conceitual. Na
relação Eu-Isso, ao contrário, o Eu que vive na experiência, cercado de
"conteúdos", só conhece o passado, que é o mundo dos objetos. Embora reconheça
que o homem não pode deixar de viver na objetividade do Eu-Isso, Buber destaca
que o que é verdadeiramente essencial só pode se dar no eterno presente do
Eu-Tu.
Ao enfatizar a importância do diálogo, do poder da
palavra como aparição da graça do Tu, Buber está trazendo à baila uma questão
essencial para o homem contemporâneo. Nossa época é caracterizada por aquilo que
ele chamou de o eclipse de Deus (título de um de seus livros), ou seja, é
aquele período em que Tillich afirma ser predominante a angústia espiritual que
leva ao sentimento de vacuidade e insignificação tão próprios do mundo em que
vivemos. O homem moderno ciente da certeza da razão, do seu poder demiúrgico, da
força dos instrumentos lógico-matemáticos que construiu para dominar a natureza,
não vendo nenhum sustentáculo que pudesse comprovar a existência divina,
decretou a morte de Deus e revestiu-se de poderes de um super-homem.
Na perspectiva buberiana, no face-a-face com outro
homem, na força atualizante do diálogo, há uma comunhão entre Deus, o homem e o
mundo. Ao enfatizar o caráter presentificante, indivisível, total e gratuito do
encontro homem-mundo-Deus, Buber rompe com as concepções imanentistas e
transcendentalistas, realistas e idealistas que determinam a existência humana,
visto que o fundamental é romper com o encanto da separação de um mundo que nos
revela duplo. Essencialmente isso só é possível na aceitação do convite para o
diálogo eternizante que o Tu eterno por meio do Tu nos dirige.
Intersubjetividade
O homem possui a capacidade de
inter-relacionamento com seu semelhante, ou seja, a intersubjetividade.
Intersubjetividade é a relação entre
sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto. Intersubjetividade, é umas das áreas
que envolve a vida do homem, e por isso precisa ser refletida e analisada pela
filosofia, em especial pela Antropologia Filosófica.
O relacionamento, segundo o filósofo
Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e denomina-se relacionamento Eu-Tu.
A inter-relação segundo Martin Buber,
envolve o diálogo, o encontro e a responsabilidade, entre dois sujeitos e/ou a
relação que existe entre o sujeito e o objeto.
Para Martin Buber, mais significativa e mais
importante do que uma reflexão sistemática é a meditação sobre a experiência
concreta existencial. O pensamento está inteiramente alicerçado sobre a
experiência; a reflexão parte da experiência, devendo reencontrar-se com ela. O
pensamento não pode estar alienado daquilo que o circunda. Buber é homem de
ação. Sua ação humana, social, política é permeada pela sua reflexão filosófica.
Seu apego ao plano especulativo, à idéia, não traduz uma fuga da emaranhado
turbilhão dos fatos, mas uma profunda confiança na idéia como orientação para a
ação - um instrumento para a compreensão da experiência concreta e de sua
subseqüente transformação significadora. Aliás, Buber considera esta orientação,
esta projeção à ação, à praxis, como princípio constitutivo da idéia, do
pensamento.
Para Buber, a relação, como princípio dialógico, é o
feito primitivo, pronto dinâmico que dá organicidade à compreensão do mundo e do
ser, e em última análise da existência humana.
Buber apresenta duas tendências de explicação do fenômeno humano ou da condição humana. De um lado, o que chamou de individualismo, e de outro, o colectivismo. Ambos resultam e são manifestações de um mesmo estado do homem: a situação de privação de uma pátria cósmica e social, causando um sentimento de angústia cósmica e vital e de disposição existencial de solidão. O homem se sente exposto, atirado na natureza como uma criança rejeitada e, enquanto indivíduo, isolado no meio do mundo dos homens.
Quanto ao individualismo, o homem corre o risco de
afirmar esta situação - ele aceita este estado de exposição de isolamento, pois
este representa seu ser-indivíduo. A saída do estado de desespero com que é
ameaçado pelo isolamento é feita pela glorificação deste estado.
O coletivismo se baseia, de certo modo, no fracasso
do individualismo. No coletivismo o homem esquiva-se do isolamento
"enquadrando-se" numa "das composições massivas de grupo de nossa época".
"Quanto mais essa composição é massiva, menores são as lacunas, ela é mais
eficaz e a pessoa pode sentir-se libertada da privação de uma pátria, são suas
duas formas: social e cósmica".
A proposta buberiana apresenta-se com uma ruptura da
alternativa: individualismo versus coletivismo. Instruído pelas insuficiências
destas duas soluções, ele repousa a sua proposta sobre a noção chave de, entre"
(Zwischen).
Como o fato fundamental, (primitivo) da existência
humana não é, nem o indivíduo enquanto tal, nem o "todos-juntos", mas é o
homem-com-o-homem, é, a partir daí, que deve ser construído o autêntico
"terceiro caminho".
O indivíduo é um fato da existência somente se
entrar em relação com outros indivíduos; e o "todos-juntos" pode-se tornar um
fato da existência humana quando constituir em unidades vivas de relação. Na
relação o homem vê o outro em sua alteridade, ela implica a ultrapassagem do
domínio particular de cada um, para que se possa estabelecer uma comunicação
numa "esfera" que lhe seja comum. É esta a esfera do entre. O "entre" não é uma
construção auxiliar - é o "lugar" e o suporte daquilo que se passa entre os
seres humanos. A relação (Beziehung) não se situa em regiões interiores do
indivíduo, ou dentro do mundo que engloba esses indivíduos, determinando-os. A
relação é essencialmente a saída, a projeção de um homem em direção do outro.
"Além do subjetivo, aquém do objetivo, sobre a estreita aresta onde se encontram o EU e o TU estende-se o reino do ENTRE" (idem 167).
O Eclipse do Humano e a Força da Palavra:
Martin
Buber
e a Questão Antropológica
Este estudo procura mostrar a preocupação de Martin Buber quanto ao grande enigma que vem desafiando a curiosidade questionadora do homem no transcurso de sua história: a questão de sua existência. A interrogação sobre o ser do homem, sobre sua natureza, sobre o seu sentido pode ser considerada como o princípio iluminador das diferentes interrogações de Buber. A sua mensagem antropológica, revelada como verdadeiro projeto de esperança no humano, representa um marco essencial na atual preocupação pela sorte do homem das Ciências Humanas e da Filosofia. Esta mensagem é atuante porque provoca; o seu vigor gera novas reflexões. Para Buber, a experiência vivida de presença ativa ao mundo, aos outros, à cultura, à história iluminou e gerou suas reflexões. Sua existência foi a manifestação concreta de suas reflexões - foi a revelação de um compromisso com a história que ele fez sua.
A interrogação de Buber sobre o sentido do Homem faz
crescer, no pensamento atual, uma recordação nostálgica do humano, do
"simplesmente" humano. Sua voz ecoa numa época em que paulatinamente e
inexoravelmente se deixa tomar por um esquecimento sistemático daquilo que é
mais característico no homem: sua humanidade.
Somos levados a rever as perspectivas da existência.
Acreditamos que a partir de Buber não houve mais preocupação em saber se a vida
vale ou não a pena de ser vivida; o importante é saber o que fazer com a
resposta, se afirmativa. A nostalgia do humano provoca uma conversão à questão,
e não uma simples volta a um saudosismo romântico. A afirmação do humano não é
simples tarefa intelectual, mas um projeto de vida é uma exigência de fato. Este
projeto do "questionar" envolve o risco supremo da própria situação humana da
reflexão.
Veremos de que forma Buber caracteriza o
"autoconhecimento" como sendo ato vital. Em seguida, como Buber apresentou a sua
tentativa de aproximação da questão enigmática. Como ouvintes de sua mensagem,
não deixaremos de perguntar até que ponto ela é realmente o desvelamento do
homem, a superação do eclipse. As vezes, a força da palavra reside exatamente no
reconhecimento de limitações. Cabe muito bem aqui, aquilo que foi dito por
Aldous Huxley: "As palavras são ao mesmo tempo indispensáveis e fatais. Tratadas
como hipóteses de trabalho, as proposições sobre o mundo são instrumentos por
meio dos quais somos capacitados progressivamente a entender o mundo. Tratadas
como verdades absolutas, como dogmas que devem ser engolidos, como ídolos que
devem ser adorados, as proposições sobre o mundo torcem nossa visão da realidade
e nos conduzem a todo tipo de conduta imprópria". (Os Demônios da Loucura, pág.
308.)
l - A AMBIGUIDADE DA QUESTÃO
A interrogação sobre o sentido da existência humana
nos coloca numa situação muito particular que se aproxima da situação
apresentada pelo que poder-se-ia chamar de o "círculo da questão". Em realidade,
neste círculo, o sujeito e o objeto se identificam. O homem coloca a questão do
sentido de sua existência e, ao mesmo tempo, é ele próprio o conteúdo desta
interrogação. Este "objeto" da interrogação - o homem - só pode ser abordado e
concebido através do instrumental teórico e conceitual elaborado pelo "sujeito"
- o próprio homem. E mais, esta elaboração conceitual está de algum modo
determinada pela própria situação do sujeito questionador e é exatamente esta
situação existencial que se transforma no "objeto" a ser estudado.
Por esta razão, a "questão" do sentido da existência
humana se apresenta como ambígua e enigmática, exigindo, de nossa parte, uma
postura peculiar. A história do pensamento humano apresenta inúmeras tomadas de
posição frente a esta "questão". De certo modo, a questão expressa-se de uma só
maneira - quem é o homem ? . As respostas são cada vez únicas. Na verdade, não
deixa de ser desconcertante o fato de tal questão ter recebido, no decurso dos
tempos, tantas respostas que, até o momento, não satisfizeram plenamente as
expectativas do homem.
Aparentemente o homem ainda não morreu - isto
significa que ele ainda se esforça por encarar a questão e tentar responder. A
sentença da Esfinge ainda o angustia: sem dúvida, passamos por uma época que
está abalando o homem, provocando nele o impulso em enfrentar o desafio.
A questão pode ser considerada como forma de
antecipação que aguarda o seu preenchimento. Sendo forma, ela não teria ainda
conteúdo. Porém, enquanto é antecipadora, pois trata-se de uma orientação em
direção a um conteúdo que deveria colocar um termo à expectativa que ela
constitui, a questão não possui uma forma pura, no sentido da lógica formal, mas
uma forma indicadora, reclamando, de algum modo, o conteúdo apropriado; neste
sentido, ela tem em si mesma, enquanto questão, um conteúdo. (Cf. Ladrière, Vie
Sociale et Destinée, pág. 130).
O conteúdo esperado (a resposta) não representa
simplesmente a explicitação de um conteúdo da antecipação. Este representa,
antes de mais nada, a demarcação do espaço onde poderá surgir a resposta. A
própria questão estabelece o âmbito onde se inscreverá a "resposta". É, neste
sentido, que a questão encerra uma pre-compreensão da realidade por ela
abordada.
A questão encerra em seu seio uma compreensão
previa, uma pré-compreensão que orienta, dirige, encaminha a resposta. Esta
pré-compreensão comporta alguns elementos que são essenciais ao entendimento da
questão como sendo princípio de orientação e não como princípio objetivo de
dedução.
Em primeiro lugar, a existência do homem não pode ser considerada como um dado; ela não se reduz a puras manifestações objetivas ou à sua realidade biológica ou a comportamentos observáveis. O homem é um projeto inacabado - tese já muito conhecida; a sua existência é um contínuo "fazendo-se"; ela está, de certo modo, suspensa. É por esta razão que o homem se representa a si próprio como enigma a ser desvendado. O enigma, longe de ser uma barreira, é um estímulo, uma provocação. O homem, então, é interpelado a descobrir, sem cessar, sua fisionomia: a pôr-se constantemente à prova. É exatamente esta procura que define a tarefa primordial da reflexão como recuperação do sentido. Entendemos, então, que as "respostas" à questão, ou mesmo as posições tomadas diante da questão, não são meras deduções a partir de uma essência dada "a priori". Se algo permanece nas questões, as "respostas" não são uma estéril retomada ou reprodução do mesmo.
Em segundo lugar, por ser inacabado, o ser do homem
comporta uma exigência de realização. Trata-se de uma exigência formal, uma vez
que não há indicação de como poderá ser concretamente satisfeita (Cf. Ladrière,
op. cit. pág. 130). Finalmente, tal exigência não é puramente uma procura
contingente; ao contrário, ela reveste a forma da universalidade.
O desconhecido provoca em nós um estranhamento e o
aparecimento de perguntas. Com efeito, ninguém jamais questionará o inequívoco
ou o que corresponde a significados cotidianos. O que está em primeiro piano ou
o que é evidente e claro elimina qualquer pergunta. Porém, alguma coisa que não
seja clara e evidente deve, a fim de tornar-se objeto de pergunta, dizer-nos
respeito de algum modo e, assim, "apresentar-se"; caso contrário, não nos
despertaria interesse. O que não nos interessa, o que não nos atrai a atenção,
não pode tornar-se objeto de pergunta.
As perguntas surgem quando precisamos esclarecer
algo, por ser-nos intolerável a incerteza. Ainda em sua Metafísica, Aristóteles
dizia: "Para aquele que deseja progredir, é muito útil a discussão apropriada
das dúvidas, pois o resultado posterior é a solução das dúvidas anteriormente
propostas; essa solução, no entanto, é impossível se não se conhecer o
encadeamento. Por isso, devem ser examinadas, antes, todas as dificuldades
(...), aquele que se propõe examinar sem discussão antecipada das dificuldades é
como o andarilho que não sabe para onde ir nem por quê (...). Pois o alvo só é
claro para aquele que iluminou antecipadamente as dúvidas, para o outro, não.
A questão sobre o sentido da existência não deixa o
homem indiferente. Em suma, a questão sobre existência é ambígua, exigente,
radical, envolvendo um caráter de antecipação. Além disso, ela deve ser
instruída pelo que se chama pré-compreensão de modo que o próprio questionar não
se revele como especulação estéril, mas esteja vinculado (porque radical) à
própria existência concreta do homem. Mais que uma tarefa intelectual, o homem
se defronta com a questão de sua existência como ato vital Lebensakt ).
2 - O CAMINHO DA QUESTÃO
Para Martin Buber, mais significativa e mais
importante do que uma reflexão sistemática é a meditação sobre a experiência
concreta existencial. O pensamento está inteiramente alicerçado sobre a
experiência; a reflexão parte da experiência, devendo reencontrar-se com ela. O
pensamento não pode estar alienado daquilo que o circunda. Buber é homem de
ação. Sua ação humana, social, política é permeada pela sua reflexão filosófica.
Seu apego ao plano especulativo, à idéia, não traduz uma fuga da emaranhado
turbilhão dos fatos, mas uma profunda confiança na idéia como orientação para a
ação - um instrumento para a compreensão da experiência concreta e de sua
subseqüente transformação significadora. Aliás, Buber considera esta orientação,
esta projeção à ação, à praxis, como princípio constitutivo da idéia, do
pensamento.
Para Buber foi Kant que formulou, com mais precisão,
como deve apresentar-se a Antropologia. Na verdade , em sua "Lógica" Kant
formulou as três questões: O que posso saber? O que devo fazer? O que tenho o
direito de esperar? Nestas três questões está envolvida uma quarta: O que é o
homem? À primeira responde a metafísica; à segunda, a moral; à terceira, a
religião; e, finalmente, a antropologia vai fornecer uma resposta à quarta. É
esta a tarefa que a antropologia se atribui a si mesma, mas isso não
encontramos, pelo menos em sua integralidade, tratado na obra de Kant. Há neste,
sem dúvida, algumas considerações antropológicas sobre o conhecimento do homem,
sobre o egoísmo, sobre a imaginação, mas estranha o fato de que nenhuma de suas
reflexões correspondem às exigências de uma autêntica antropologia filosófica,
isto é, não corresponde à questão: ,Que é o homem"? em seu sentido integral.
Buber afirma em seguida que Heidegger se interessou
por esta estranha contradição, buscando a explicação no caráter indeterminado da
natureza humana, concentrando a problemática na finitude do homem. Para ele a
própria questão tornou-se problemática. Que posso eu saber? Implica uma
limitação, pois isso significa que existem outras coisas que não posso saber. O
mesmo acontece com outras questões. Quanto à quarta - O que é o homem? - trata
da finitude no próprio homem. E, como base da metafísica, ele coloca não a
antropologia, mas a antologia fundamental.
Mas, isto é o que diz Heidegger e não mais Kant.. A ênfase é colocada bem mais sobre o "saber" inserido na questão - Que saber? - do que propriamente sobre o "posso". E o essencial raso é que eu possua exclusivamente tal saber e que não possua outro. O mesmo se dirá a respeito das duas outras questões. O sentido propriamente dito da quarta questão é reconduzido às três outras: O que é afinal este ser que pode conhecer, que deve "fazer" e que pode "esperar"? "Mas isso significa também que, a finitude provinda do fato de que não se possa conhecer mais que isso, está inseparavelmente ligada à participação com o infinito, participação dada pelo fato de que há uma possibilidade de saber" (idem pág. 14). Na medida em que se reconhece a finitude do homem, deve-se reconhecer, ao mesmo tempo, a sua participação com o infinito. Ambas, finitude a infinitude, não são duas qualidades justapostas mas perfazem a dualidade do processo que permite reconhecer o sentido profundo da natureza humana.
"0 finito dá feitio
humano ao homem,
e o infinito também o faz; ele, o homem, participa de ambos".
(pág. 15).
3 - CARACTERÍSTICAS DA QUESTÃO E O
AUTOCONHECIMENTO
O conhecimento filosófico do homem é,
essencialmente, exame de si mesmo. E para que o homem possa examinar a si mesmo
é necessário que aquele que faz antropologia (o filósofo) faça uma auto-análise
enquanto pessoa. E aquilo que constitui a viga mestra e o núcleo do conhecimento
filosófico é o caráter de individuação que está na base da diversidade infinita
das pessoas. É ao redor daquilo que o filósofo descobre, quando se examina, que
deverá organizar e cristalizar tudo aquilo que encontra quando analisa o homem
da história e o homem contemporâneo, os dois sexos, os indianos ou os chineses,
os vagabundos e os potentados, os fracos de espírito e os gênios para assim
tornar-se autenticamente uma Antropologia Filosófica (Cfr. Das Problem des
Menschen, pág. 19 - 20)
Para ilustrar o sentido do conhecimento, Buber utiliza não a imagem do espetáculo em que se contempla de fora, um objeto, mas a imagem da iniciação em que o iniciado participa diretamente na "dança" e penetra na realidade que busca conhecer.
O autoconhecimento é comparado, por Buber, a um ato
vital, deixando entender que tal exame de si tem como finalidade atingir uma
dimensão única que é a totalidade. Este ato vital denota o caráter de exigência
interna do próprio questionamento. Ele é um ato vital na medida em que está em
jogo a própria existência do homem questionador. Nesta tarefa são abandonados
modelos teóricos, teorias e preconceitos de ordem filosófica ou outra qualquer.
Tal afirmação pode indicar que este questionar, o autoconhecimento, inaugura o
próprio filosofar.
O conhecimento de si não significa "posse" de si.
"Enquanto alguém se possui, enquanto se "Possui" como a um objeto, apreende-se,
experiencia-se o que é o homem como uma coisa entre coisas". (idem)
Hava Nagila c/legenda
Tradicional mísica hebraica
composta a cerca de 100 anos por um rabino 3'
Atualmente, segundo Buber, a problemática do homem
atingiu um estado de maturidade muito significativa, uma vez que o homem é
tratado como um problema filosófico independente. Trata-se de um marco na
História do espírito humano, caracterizado por uma crise de amadurecimento. Esta
nova situação do estudo filosófico sobre o homem é basicamente determinada por
dois fatores principais. Primeiro, um fator de ordem sociológica: o declínio
progressivo e inexorável das antigas formas orgânicas de vida comunitária, como,
por exemplo, a família, a aldeia, a comunidade. A época caracterizada pela
"Hauslosigkeit" (falta de moradia), deixou o homem mergulhado nas profundezas
melancólicas de sua solidão. O mundo de Aristóteles veio dar ao homem uma
segurança cosmológica. O homem da época moderna, privado novamente desta
segurança uma vez que sua moradia foi de novo abalada profundamente, viu
apresentar-se diante de si nova segurança sociológica, possibilitando-lhe íntimo
vínculo com seus semelhantes.
Buber apresenta duas tendências de explicação do
fenômeno humano ou da condição humana. De um lado, o que chamou de
individualismo, e de outro, o coletivismo. Ambos resultam e são
manifestações de um mesmo estado do homem: a situação de privação de uma pátria
cósmica e social, causando um sentimento de angústia cósmica e vital e de
disposição existencial de solidão. O homem se sente exposto, atirado na natureza
como uma criança rejeitada e, enquanto indivíduo, isolado no meio do mundo dos
homens.
Quanto ao individualismo, o homem corre o risco de
afirmar esta situação - ele aceita este estado de exposição de isolamento, pois
este representa seu ser-indivíduo. A saída do estado de desespero com que é
ameaçado pelo isolamento é feita pela glorificação deste estado.
Para Buber, a solução individualista é imprópria já
que só abarca uma parte do homem. Assim, a sua fisionomia é deformada. Por outro
lado, a solução do coletivismo também é insuficiente uma vez que concebe o homem
como "parte". Assim, a sua fisionomia é mascarada.
Se, no coletivo o homem se sente seguro, no fundo o
isolamento do homem não é ultrapassado, o homem fica insensibilizado contra ele
próprio. O vínculo do homem com o "todo", com a multidão, não é uma relação
inter-humana autêntica. O homem se sente despersonalizado, isto é, isolado em
seu "si-mesmo".
O encontro possível do homem consigo mesmo só poderá
realizar-se no encontro do indivíduo com o outro. Só assim ele ultrapassa sua
solidão - quando reconhecer no outro, com sua alteridade, a si mesmo, homem.
Assim Buber resume seu diagnóstico: "Apesar de todas
as tentativas de revivificação, o tempo do individualismo passou. O coletivismo,
pelo contrário, está no apogeu de seu desenvolvimento, mesmo se já alguns sinais
isolados indicam que as rédeas vão-se soltando. Neste ponto, o único meio para
escapar é a revolta da pessoa para a libertação das relações". (Das Problem...
pág. 163). Buber sempre depositou profunda esperança no humano, ele é um
pensador otimista. "Vejo subir no horizonte, com a lentidão de todos os
processos que compõe a verdadeira história do homem, um grande descontentamento
que não se parece com nenhum dos que se conhecem até agora. Não haverá mais
insurreições, como no passado, contra um reinado de certa tendência para levar
ao triunfo outras tendências: insurgir-se-á por amor da autenticidade, na
realização contra a maneira falsa de realizar uma grande aspiração, a aspiração
à comunidade" (idem, pág. 163).
Buber denomina este novo surgimento de "terceira
via". Trata-se de atos de vida. Não é, pois, tarefa restrita a um puro
conhecimento intelectual ou a uma solução simplesmente ao nível teórico. Para
Buber, não existe conhecimento senão vinculado à vida. Neste particular, ele
enfatiza claramente a necessidade do engajamento total do homem. Este deve
aspirar à sabedoria e não simplesmente ao saber. "A vida e o pensamento
encontram-se dentro da mesma problemática" (idem, pág. 163).
A proposta buberiana apresenta-se com uma ruptura da alternativa: individualismo versus coletivismo. Instruído pelas insuficiências destas duas soluções, ele repousa a sua proposta sobre a noção chave de, entre" (Zwischen).
Como o fato fundamental, (primitivo) da existência
humana não é, nem o indivíduo enquanto tal, nem o "todos-juntos", mas é o
homem-com-o-homem, é, a partir daí, que deve ser construído o autêntico
"terceiro caminho".
A força da palavra se revelará claramente através de
sua dupla dimensão: a palavra crítica, questionadora e a palavra criadora e
transformadora. Por esta palavra emergirá o sentido do homem no mundo e na
história.
“Eclipse da luz do céu, eclipse de Deus – tal é,
para dizer verdade, o caráter da hora histórica que o mundo atravessa”5, nos diz
Martin Buber, um dos grandes pensadores espirituais do século passado. E
continua:
Um eclipse do Sol é algo que tem lugar entre o Sol e
nossos olhos, não no Sol mesmo. Por outra parte, a filosofia não nos considera
cegos ante Deus. A filosofia sustenta que carecemos na tualidade só da
orientação espiritual que pode possibilitar uma reaparição de ‘Deus e dos
deuses’, uma nova processão de imagens sublimes”6.
5 BUBER, M. Eclipse de Dios, p. 48.
Música Hebrew Hebraico Yvrit -3'
Aleluia!
Salud Somatica x salud Menta
Li-30 離 - Sol
Li-30 離 - Sol
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