terça-feira, 14 de maio de 2013

BERGSON -"ESTAMOS MERGULHADOS NUM CAOS DE LUZ- Aula : Claudio Ulpiano - 1995


 

Aula de 06/06/1995 –

 Bergson: percepção e memória – 

“estamos mergulhados num caos de luz”



Esta aula começa com o som baixo, porém aos 2 min e 30 s ele aumenta e vai assim até o final.
terça-feira, maio 18, 2010 @ 02:05 PM - postado por: Editoria


 
Henri-Louis Bergson

Aula de 01/02/1996 –

 Kant e Bergson – o transcendental e o assubjetivo

sábado, fevereiro 20, 2010 @ 05:02 AM
postado por: Editoria 
 
Lado A
[...]
(Pra não bater fundo, eu às vezes vou usar uma palavra de ajuda pra vocês; mas eu jogo a palavra de ajuda, depois eu retiro e coloco a palavra exata).
Século XVIII – a Filosofia estabelece a existência de dois tipos de enunciados de qualificação científica. Imediatamente, eu vou substituir a palavra ‘enunciado’ pela palavra JUÍZO . Existem dois juízos de qualificação científica. Esses dois juízos vão ser chamados um, de JUÍZO ANALÍTICO; e outro , de JUÍZO SINTÉTICO.


- Em que se difere o juízo analítico do juízo sintético ? Ou melhor, em que se assemelham o juízo sintético e o juízo analítico ?

Eles têm a mesma estrutura. O juízo analítico é constituído de um sujeito , o verbo ser na terceira pessoa do singular, e um predicado : “O Homem é bonito”. Então, todo juízo – necessariamente – é constituído desta maneira: um sujeito , o verbo na terceira pessoa do singular e um predicado . Quando você liga um verbo na terceira pessoa do singular a um sujeito - liga, por exemplo, ‘Alberto’ a ‘é’. O predicado, que vai se seguir a essas afirmações – ‘Alberto é’, ‘Guilherme é’, ‘A mesa é’, ‘O cachorro é’ – chama-se ANALÍTICO ou SINTÉTICO. Então, essa classificação – analítico e sintético - pertence aos predicados .

Um predicado é analítico - quando reproduz inteiramente o sujeito ,ainda que seja com outras palavras. O homem é um animal racional, por exemplo, é um juízo analítico - porque ‘homem’ e ‘animal racional’ querem dizer amesma coisa. Então, o juízo analítico é um juízo que ao ser produzido não descobre nenhuma verdade nova do sujeito. Ao produzir esse juízo, produz-se o que se chama JUÍZO DE RAZÃO – uma verdade de razão . Esse juízo é uma VERDADE DE RAZÃO, porque a razão é suficiente a si própria para compreendê-lo. A razão não precisa fazer nenhuma experiência para afirmar que ‘uma mesa é absolutamente idêntica a uma mesa’. Então, o juízo analítico é quando o conceito predicado reproduz o conceito sujeito - ainda que seja com palavras diferentes. (Entendeu G–?)

O exemplo mais clássico é ‘o homem é um animal racional’ (Tá?). Classicamente, isso é um juízo analítico. O juízo analítico e o sintético estão relacionados ao predicado. Quando o predicado reproduz o sujeito – aquele juízo é analítico. Quando o predicado não reproduzo sujeito , não é igual ao sujeito, quando o predicado é diferente do sujeito – aquele juízo é sintético. Por exemplo, ‘Alberto está sentado’, ‘Alberto está em pé’, ‘A água ferve a 100 graus’, ‘O café está quente’ – são juízos sintéticos. O juízo sintético é quando o predicado não pertence ao sujeito – ele é acrescentado ao sujeito. (É um pouco difícil entender isso aqui!)

Por exemplo, você pega ‘a idéia’; não, ‘a água’ – você pega a ‘ idéia de água’ e pega a ‘ idéia de homem’. Por exemplo: na idéia de ‘homem’ está contido ‘animal racional’ – porque é a mesma coisa: homem é a mesma coisa que animal racional . Mas na idéia de ‘água’ não está contido ‘ferve a 100 graus’. 

Então, quando se faz um juízo sintético, faz-se esse juízo a partir da experiência. Esse é o juízo propriamente científico . Ou seja: você observa a experiência: você observaque alguém pega o copo d’água, coloca o copo d’água no fogo, e ela ferve a 100 graus. Quando ela ferve, você faz a afirmação: “a águafervea 100 graus” – isso é um JUÍZO SINTÉTICO.
Então, o que marca a diferença do juízo sintético para o juízo analítico é que no juízo analítico o predicado é igual ao sujeito; no juízo sintético o predicado é diferente do sujeito.
(Sem questão? Tranqüilo? Vocês entenderam a diferença do juízo sintético e do juízo analítico?).

O juízo analítico é chamado de VERDADE DE RAZÃO. O que é uma verdade de razão ? Uma verdade de razão se assemelha à matemática, que trabalha com equações . Coloquem da seguinte maneira: 2 + 2 = 4. O sujeito é ‘ 2 + 2′ ; ‘ 4 ‘ é o predicado. O sujeito e o predicado são absolutamente iguais (Vocês entenderam?). Então, isso se chama verdade de razão .

VERDADE DE FATO é sinônimo de JUÍZO SINTÉTICO. Ou seja, o juízo sintético e a verdade de fato são a mesma coisa. O juízo sintético é quando você experimenta – porque o predicado não esta contido no sujeito.
Muito bem, então a filosofia estabelece a existência desses dois juízos: um juízo sintético e um juízo analítico . Em função da existência desses dois juízos, – o analítico e o sintético – vão aparecer duas tendências na Filosofia: uma tendência chamada racionalismo - que trabalha com o juízo analítico. E uma tendência chamada empirismo - que trabalha com o juízo sintético.
(Pronto! Isso me basta!).

Eu vou fazer uma deriva. E essa deriva se sustenta. Essa mudança não vai ser como a exposição do juízo analítico e do juízo sintético, porque quando eu fiz aquela exposição vocês eram como crianças na minha mão - dependentes de mim! A exposição que eu vou fazer agora não é a mesma coisa; porque agora - dentro do pensamento de vocês - vocês vão poder verificar se o que eu estou falando é [ou não] absolutamente correto.

O que estou dizendo é o seguinte - quando a gente faz uma exposição teórica, há determinados momentos em que o estudante, que a ouve, não sabe bem o que está acontecendo ali, e a única coisa que ele pode fazer é aceitar - cegamente - o que o professor está falando (como se deu nesse primeiro quadro da minha exposição). Agora, no segundo quadro, que eu vou fazer tudo depende de vocês compreenderem: se vocês não compreenderem, aquilo não passa!

Quer dizer: a primeira fase - juízo analítico e sintético - foi um processo informativo. Agora, já é um processo de pensamento . Vou começar a falar: é uma coisa difícil , mas ao mesmo tempo só compreendida - se vocês não compreenderem, não poderão aceitar.
A REALIDADE, em Filosofia, chama-se MUNDO DA EXPERIÊNCIA. Então, nós estamos mergulhados no mundo da experiência - e tudo o que acontece nele, tudo o que acontece no mundo da experiência, é CONTINGENTE. (Agora com as nomenclaturas já perfeitas!)

- O que quer dizer contingente? É aquilo que pode acontecer; ou pode não acontecer. Então, no mundo da experiência tudo é contingente. Sendo contingente, aquilo aconteceu - mas poderia não ter acontecido . Por exemplo: “Eu estou tomando café”. (Isto é? Contingente!) Agora apliquem da seguinte maneira: o mundo da experiência é governado pela contingência. (Isso é de uma importância, inclusive existencial, enorme! A gente saber que o mundo da experiência é governado pela contingência).
- O que quer dizer contingência? Que alguma coisa que aconteceu , poderia não ter acontecido. Vamos usar uma linguagem até apropriada para compreender: o mesmo peso pra acontecer; o mesmo peso pra não acontecer. (Certo?) É isso que se chama contingência .

Então, nós estamos mergulhados na contingência.. . e estar mergulhado na contingência é não poder-se prever o que vai acontecer daqui a cinco segundos. Contingência, então, quer dizer o quê? Quebra da possibilidade de previsão, porque nada está regido por um princípio de necessidade - aquilo pode acontecer ou não acontecer.

( Governaram bem o que eu disse de contingência?).
Então, a contingência é aquilo que ocorre no mundo da experiência ou no REAL. (O enunciado, agora, é um pouquinho mais complexo - mas fundamental! ) Além de tudo no mundo da experiência ser contingente, tudo no mundo da experiência é SINGULAR.

O que quer dizer singular? Singular quer dizer: é único e irrepetível . Por exemplo: ‘Eu vou beber este café’. Esse acontecimento foi contingente - e singular; quer dizer - único e irrepetível; ou seja; nunca mais isso vai acontecer. Nunca mais - pela eternidade do tempo - [esse acontecimento], eu tomando café dessa maneira com vocês,acontecerá outra vez. Jamais acontecerá outra vez!

Quando o Guilherme, por exemplo, está lá tocando a bateria dele: ele uma batida de uma maneira… jamais aquilo acontecerá outra vez da mesma maneira . Todos os acontecimentos dentro da natureza são singulares . Por isso é que nós - os homens - não nos cansamos dos beijos das mulheres. Porque são sempre…
Al.: Diferentes!

Cl: Singulares, diferentes - a singularidade de todas as coisas que acontecem na realidade! Então, de que é constituída a realidade? De contingências e singularidades .
Eu, agora, vou aplicar outro nome como sinônimo de experiência, de mundo da experiência, de realidade - eu vou passar a chamar também de a posteriori . A posteriori como sinônimo de real e mundo da experiência. Então, tudo aquilo que for a posteriori é… singular e contingente .

Então, antes de abandonar isso daqui… eu vou fazer uma experiência com vocês. Se por acaso eu acender um fósforo, e encostá-lo no meu dedo, esse acontecimento é… singular e o que mais? Singular e contingente . Então, eu acendi um fósforo e encostei no meu dedo. Depois , apaguei o fósforo. Agora, acendo outro fósforo e encosto-o no meu dedo. Esse outro fósforo, que eu encostei no meu dedo, é igual ao primeiro? Não. Cada um é singular e contingente . Então, a singularidade e a contingência são do mundo da experiência, da realidade - e do a posteriori (Certo?).

Agora, vai aparecer na Filosofia uma figura que começa por trazer uma dificuldade imensa , pois não pertence ao mundo da experiência. O mundo da experiência, eu creio que já esgotei! O que é o mundo da experiência? Contingência e… singularidade. Então…

( mundo da experiência = a posteriori : contingente e singular )
Agora eu vou falar do a priori . Se vocês quiserem sofisticar, tambémpodem usar propter quid - à maneira medieval – que é a mesma coisa. O a priori não pertence à experiência. Então, fica difícil, porque imediatamente alguém pode dizer: “Mas Claudio pode existir alguma coisa fora da experiência?”. Eu estou dizendo que pode: o a priori é fora da experiência. Ninguém tente compreender o que é o a priori ; aceitem o que estou dizendo: o a priori está fora da experiência. Estando fora da experiência, no a priori não há contingência; há necessidade : tudo no a priori é necessário. Então, o a priori … é necessário; e o a posteriori … é contingente. O a posteriori é… singular; e o a priori … universal. O a priori é universal e necessário ; e o a posteriori … contingente e singular.
(Foi compreendido, não é?)
Então, se nós estamos no mundo da experiência, nós encontramos… a contingência e a singularidade . Ainda que pareça um delírio – o a priori é o [campo] do necessário e do universal .

Então, nós agora vamos fazer uma definição. O a priori tem duas características: universal e necessário. O a posteriori tem duas características: contingente e singular. Então são as características do a priori e do a posteriori . A posteriori , sinônimo de campo da experiência ou realidade.
No século XVIII, um filósofo chamado Kant afirmou que a natureza - que é sinônimo de mundo da experiência – é constituída por dois pequeninos campos: um se chama física; o outro se chama psicologia . (Aí é muito fácil de entender:) O mundo é constituído de física e psicologia; (é a coisa mais fácil que existe!). Este copo, por exemplo, é físico; e o que eu estou falando ? É psicológico! Então, para Kant , o mundo é constituído de psicológico e físico . Mas o psicológico e o físico pertencem à experiência , pertencem à realidade , pertencem ao a posteriori . Logo, o psicológico e o físico são contingentes e singulares .

Até aí, o que Kant disse, não tem nada demais! Qualquer um tem a maior facilidade em concordar com o que estou dizendo: tudo que acontece com a nossa psicologia é… singular ; tudo que acontece no mundo físico é… contingente e singular . Por exemplo: ‘eu estou impressionado com a beleza da Natasha Kinski’. Isto é? Contingente e singular.

Se dentro de cinco minutos a Natasha Kinski aparecer, eu posso não estar mais impressionado com ela? Tranqüilamente , nada demais aconteceu  – porque tudo na psicologia e no mundo físico é contingente e singular. (Tá bem, G–, tá acompanhando?).

(Eu vou começar a introduzir novos conceitos, ouviu?).
Da mesma maneira que eu estou dizendo pra vocês – o Kant estabelece que o mundo da experiência é singular e contingente; o real , que é constituído de dois elementos – o psicológico e o físico – é contingente e singular. Agora, ao invés de chamar de a posteriori , realidade ou mundo da experiência - eu vou chamar de FORMA EMPÍRICA.
- O que constitui a forma empírica? A psicologia e a física; ambas , contingentes e singulares. Então, a partir daí, será que eu posso saber quando um homem vai matar uma mulher? Não, não posso! Por que não posso? Porque é… contingente e singular! 

O que implica em dizer que, mergulhando na contingência e na singularidade, desaparece a potência de previsão – desaparece a previsibilidade . O desaparecimento da previsibilidade é sinônimo do desaparecimento da ciência . A CIÊNCIA se constitui pelo processo da PREVISÃO. Então, se você tem um mundo constituído pela psicologia e pela física – a única coisa que interessa conhecer é a psicologia e a física, mais nada! E a psicologia e a física são contingentes e singulares, você não pode mais fazer previsões – a previsibilidade desaparece: acaba a ciência !

A questão do Kant, no século XVIII, é fazer com que a ciência retorne . Então ele vai constituir um campo chamado TRANSCENDENTAL. Quer dizer: o lado de cá é o empírico – que tem a psicologia e a física, contingência e singularidade. No transcendental está o a priori . E o a priori - é necessário e universal. Mas aqui cria um problema gravíssimo, porque o mundo é constituído de psicologia e física . Onde eu vou colocar esse transcendental? Em que lugar eu vou colocar esse transcendental? No céu? Um filósofo chamado Platão , na Grécia do século V a.C., colocou o transcendental no céu. O mundo das idéias platônicas é um transcendental – mas isso não é mais possível! Esse mundo platônico foi destruído - foi completamente destruído! Então, Kant coloca esse transcendental no mesmo lugar da psicologia. Ele diz que o transcendental… (ele não vai dizer exatamente assim; eu vou mudar um pouco a linguagem aqui.) Ao invés de falar psicologia e física… (mas isso é definitivo, é psicologia e física também) vocês podem chamar psicologia e física de subjetivo e objetivo - é absolutamente a mesma coisa! Então, psicologia é sinônimo de subjetivo; e física é sinônimo de objetivo . O subjetivo e o objetivo pertencem à forma empírica . Na ‘forma empírica’ reina o singular e a contingência (Tá certo?). Kant agora vai dizer que o transcendental…

- O transcendental só tem dois lugares para ocupar: Quais?
Alº.: subjetivo ou objetivo.
Kant vai dizer que o transcendental é subjetivo. A partir disso, o psicológico não vai ser mais sinônimo de subjetivo. Por quê? Porque o subjetivo tem dois campos: o transcendental e o psicológico .

(Ficou difícil aqui? Acho que ficou! Vamos ver outra vez…)
- Quais são os outros campos? Psicológico e físico . Subjetivo sinônimo de psicológico . Objetivo sinônimo de físico . Mas o Kant vai colocar o transcendental do lado do subjetivo . Na hora em que ele coloca o transcendental no subjetivo, o subjetivo [deixa de ser] sinônimo de psicológico – porque o subjetivo agora contém o transcendental e o psicológico . (Tá difícil G–?)

- Então , o subjetivo tem quantos componentes? Dois - o transcendental e o psicológico . No subjetivo, então, aparecem dois reinos – o reino do a priori - que é o transcendental; e o reino do a posteriori - que é o reino do psicológico.
O a priori pertence ao transcendental – e é necessário e universal . E o psicológico é contingente e singular . (Certo?)
A partir de Kant nasce uma nova figura na história do pensamento: o TRANSCENDENTAL.

(Dois pontos, perguntas… porque eu não preciso dizer mais nada aqui!)
Com Kant, está nascendo o TRANSCENDENTAL. Antes de Kant – o que existia? O subjetivo e o objetivo ; e o subjetivo era sinônimo de psicológico.
- Por que, depois de Kant, o psicológico deixou de ser sinônimo de subjetivo? Porque o subjetivo incluiu o transcendental.

Então, o transcendental ( e isso é fundamental!) nasce com Kant ; não precisa mais de nenhuma aula, vocês já sabem qual a diferença, o que – de novo – Kant introduziu! É preciso compreender, no entanto, por que, ao introduzir o transcendental, Kant não o colocou no objetivo. Ou seja: o transcendental não é uma figura do objetivo - o transcendental é uma figura do subjetivo . A diferença dessa posição para a posição do Platão é que o transcendental do Platão não é nem subjetivo nem objetivo – é o mundo das idéias .

O transcendental de Kant é subjetivo , mas não é psicológico. A subjetividade, então, passa a ser ocupada por dois domínios – o domínio do psicológico e o domínio do transcendental . A diferença do transcendental para o psicológico e para o físico é que o transcendental contém dentro dele o a priori .
O a priori é necessário e universal; e o psicológico, contingente e singular, assim como o físico.

(Está entendido aqui? Todo mundo compreendeu? Questões???)
A partir de Kant … nós conhecemos esse acontecimento extraordinário na história do pensamento – que foi a introdução do transcendental . Porque a grande questão de Kant é que ele estava diante do psicológico e do físico. E o psicológico e o físico – sendo ambos contingentes e singulares – a CIÊNCIA não poderia se constituir.

- O que quer dizer isso? O que quer dizer – ‘a ciência não poderia se constituir’? Porque qualquer acontecimento que se der em um mundo onde só o psicológico e o físico ; em um mundo onde só há contingência e singularidade - aquele acontecimento não [pode ser tomado como] índice para alguma coisa que venha depois. Porque, se eu boto meu dedo no fogo e meu dedo queima, por exemplo, isso não significa que em outro momento, se eu botar meu dedo no fogo, ele vá-se queimar outra vez. Por quê? [Porque a experiência é da ordem da] contingência e da singularidade. É esse o mundo com que Kant se depara. E o Kant quer salvar a ciência !Ele, então, constrói a idéia de transcendental – e essa construção veio pra ficar: a presença do transcendental é uma arquitetônica definitiva .

À diferença do empírico, que é contingente e singular, o que está no transcendental é necessário e universal .
Então, vamos começar agora a compreender essa questão: a melhor maneira que nós temos pra vocês compreenderem – e até se vocês quiserem fazer alguma pergunta seria excelente – é que o transcendental é onde o a priori está contido;e o a priori tem duas características: o necessário e universal. (Agora é um conceito novo, hein?) Numa definição: o a priori não deriva da experiência.
- O que quer dizer ‘o a priori não deriva da experiência’? Quer dizer que você pode fazer 150 milhões de experiências com o fogo queimando um dedo, que você não pode, a partir disso, chegar ao a priori . O a priori independe da experiência !

(Pronto. Agora, vou começar a explicar pra vocês:)
Eu pego um fósforo, acendo, boto meu dedo no fogo e o dedo queima. Imediatamente, eu produzo um enunciado. Esse enunciado, que eu produzo, necessariamente tem que ser contingente e singular . Então, como é que eu produzo o enunciado? ‘Este fósforo queimou este dedo’, ou, pra ser mais preciso, ‘este fósforo queimou este dedo, aqui, às sete horas da noite, no Rio de Janeiro’? Pronto: esse enunciado é singular e contingente!
(Agora vem uma dificuldade muito grande:)
O enunciado transcendental , o enunciado do a priori é aquilo que ULTRAPASSA a EXPERIÊNCIA. Por exemplo, se um cientista disser: ‘Este fósforo queimou este dedo no Rio de Janeiro às sete horas de 1995′ – é um enunciado singular e contingente. O cientista não quer esse enunciado; o enunciado que o cientista vai fazer é o seguinte: ‘ Sempre que. ..’ (Olhem a palavra que é colocada:) ‘SEMPRE que o fósforo aceso se encontra com o dedo, o dedo queima’.

- O que é que o cientista introduziu de novo aí? Ele introduziu a palavra SEMPRE. A palavra sempre não deriva da experiência. Atenção, pra vocês entenderem – porque isso é muito difícil. Que é o seguinte: há palavras  – como a palavra ’sempre’, a palavra ‘amanhã’, a palavra ‘todo’, ou a palavra ‘necessariamente’ que em qualquer momento que você acrescentar a um enunciado, por exemplo: ‘As estrelas [sempre] são de fogo’. Sempre que você acrescentar a um enunciado a palavra ’sempre’ ou a palavra ‘necessariamente’, etc., esse enunciado não pertence mais à experiência. Por quê? Porque ’sempre’ está para lá da experiência. Você não pode experimentar o que vem depois. Sempre que você acrescentar a um enunciado a palavra ‘todo’, a palavra ’sempre’, a palavra ‘necessariamente’ – isso já não pertence mais à experiência. Essas palavras são a priori e transcendentais . (Vocês conseguiram compreender?)

Quando você aplica a palavra ‘todo’, a palavra ‘necessariamente’, a palavra ’sempre’ a um determinado acontecimento do mundo, isso significa que você ultrapassou a experiência (Você conseguiu entender, G–?).
- Então, o que tem que ser feito para você constituir o campo científico? A produção de enunciados que ultrapassem a experiência. Esses enunciados que ultrapassam a experiência são aqueles que têm as partículas todo , sempre , necessariamente - e essas partículas são a priori .

- Por que são a priori ? Porque estão fora da experiência. Elas não se originam na experiência. Você não obtém essas palavras na experiência – porque você não pode experimentar eternamente se os fósforos vão queimar os dedos daqui a cinco anos. Você não pode experimentar isso! Então, quando um cientista produz um enunciado, ele produz um enunciado… (Agora, vamos tentar fazer a ligação:) Ele produz um enunciado, servindo-se dos a priori . Ele se serve dos a priori - ele tem que aplicar o necessário e o universal no contingente e singular .

Através dessa idéia de transcendental , então, Kant está tentando salvar a ciência e dizer que a ciência pode ser constituída – porque o transcendental pode ser jogado no empírico . Segundo Kant, se o transcendental puder ser jogado no empírico – a ciência está salva.
Eu vou terminar essa fase e vou passar pra outra. Vamos para a terceira questão. (Essa foi bem? Foi?).

- O que é a experiência? A experiência é uma informação que o mundo envia para os meus sentidos . Por exemplo: pertence a minha experiência saber se o copo está quente . Eu sinto que ele está quente! Eu vejo, por exemplo, duas bolas de bilhar: uma é verde, a outra é vermelha… Elas enviam pra mim a cor verde e a cor vermelha! Então, a experiência é aquilo que você apreende pelos seus sentidos . Aquilo que você apreender pelos seus sentidos – chama-se experiência .

Por exemplo, eu chego numa mesa de bilhar, e encontro um homem jogando. (Todo mundo sabe o que é bilhar , não é?) Ele está com a bola; pega o taco e vai tacar a bola, pra bola bater na outra e acontecer qualquer coisa. Quando ele faz isso, eu o vejo fazer, como também eu posso usar até um processo microscópio, e ver que o taco vai tocar na bola. Quando o taco toca na bola, eu vejo que a bola sai. Então, a minha experiência na sinuca  – a experiência de qualquer um na sinuca  – é muito fácil: a gente vê um taco, o taco bate na bola, a bola se movimenta, bate na outra bola, e a outra bola se movimenta. A partir daí, todos nós dizemos a mesma coisa: que o movimento da primeira bola foi devido ao taco. Quando nós dizemos que o movimento da primeira bola foi devido ao taco, nós estamos dizendo que o taco é a causa do movimento da primeira bola. Quando a primeira bola bate na segunda bola, nós dizemos que a primeira bola é a causa do movimento da segunda bola (Certo?). Então, qual o nome que nós aplicamos ao ver um taco bater numa bola e uma bola bater na outra? Nós aplicamos o nome CAUSA. (Certo?).

- O que nós vimos? Nós vimos um taco, vimos uma bola, depois vimos a bola se movimentando, a bola bater na outra bola, a outra bola começar a se movimentar. Então, o que nós vimos realmente ? Nós vimos um taco, um homem, duas bolas, uma mesa verde. Aí nós dizemos que o taco foi a CAUSA do movimento da primeira bola, e a primeira bola foi a CAUSA do movimento da segunda bola. Mas isso é falho! Porque não existe – nem no taco nem nas duas bolas – nenhuma informação de que o taco foi a causa do movimento da primeira bola. Nem nenhuma informação de que a primeira bola foi a causa do movimento da segunda. O que nós vemos é uma bola vermelha se movimentando, depois uma bola amarela se movimentando. Ou vemos um taco se movimentando. Ou seja, nós não apreendemos a idéia de causa na experiência – essa idéia não vem da experiência.

Essa questão está sendo colocada pelo Hume . Ao longo dos séculos, nós achávamos que nós éramos capazes de observar - dentro da natureza – a idéia de causa. O Hume diz: “A idéia de causa não é observável, nós não observamos a causa”. Então, se nós não observamos a causa… é aí que Kant entra com o a priori . Se nós não observamos a causa – mas parece que há alguma coisa fazendo essas bolas se movimentarem – essa coisa que faz as bolas se movimentarem é um mistério total para nós: nós não podemos explicar por que essas bolas se movimentam, p orque a experiência não nos dá nenhuma informação! O que nós vemos é uma bola se movimentando; supostamente ela bate na outra, e a outra começa a se movimentar.
Mas – o que faz uma bola movimentar a outra? Pode ser Deus, podem ser espíritos. O que é realmente que faz com que as bolas se movimentem? Nós aplicamos a noção de causa . Então, Hume diz que a causa não vem da experiência, a causa é subjetiva. Nós lançamos a idéia de causa sobre a realidade. Nós projetamos essa idéia de causa sobre a realidade. E por isso, através dessa projeção da idéia de causa, o Kant vai pegar… (Eu não sei se vocês compreenderam bem o processo das bolas de bilhar… vocês compreenderam bem isso? Esse processo é muito claro!)

Eu pego uma bola de bilhar, ou melhor, eu pego duas bolas – uma branca e uma vermelha. (Olhem só:) A bola vermelha começa a se movimentar. Você é capaz de observar essa bola vermelha? Sim, pelos olhos: o vermelho toca os seus olhos. Ao se movimentar, ela faz um pequeno barulho? Faz, você ouve o ruído quando a bola se movimenta. Você a vê fazendo o movimento? Vê; seus olhos vêem o movimento dela. Mas a natureza – que envia pra você a impressão de vermelho; que envia pra você a impressão deruído ; ela não envia pra você a impressão de causa . Se por acaso algum de vocês achar que a natureza envia a impressão de causa,  me diga como ela é… porque a impressão de vermelho eu digo como é; a impressão de movimento eu digo como é; a impressão de peso eu digo como é. E a impressão de causa? Como é a impressão de causa, e qual dos nossos sentidos apreende essa impressão?

Hume diz, então, que a impressão de causa não é física; é subjetiva – que a impressão de causa pertence à subjetividade; não ao mundo. E que somos nós que a colocamos. Quando duas coisas se chocam, uma sai pra lá e a outra pra cá, nós dizemos: ‘ A foi a causa de B ‘. Mas a noção de causa não é física – é subjetiva! Porque você não pode, você não possui nenhum sentido para apreender essa noção de causa na natureza. Nada na natureza nos indica que ali há uma causalidade. Nada! Por exemplo, o G– tem certeza que quando ele bate com as varetas [baquetas] no tambor, aquilo lá faz um barulho. Então ele fica com a impressão que ele , G–, [ao bater com as baquetas no tambor,] foi a causa daquele barulho. É uma ilusão! A natureza não nos envia a idéia de causa. Nós não temos essa idéia por impressão. Essa idéia, quando nós… Atenção!
(final de fita)
Lado B
Se a idéia de causa não é originária da natureza… – Entenderam aqui, a idéia de causa não vem da natureza? – se ela não vem da natureza, de onde vem?
Alº.: É a priori .

Cl.: É a priori! É isso que o Kant está dizendo. Então, nós vamos ter uma série de idéias que não são colhidas na experiência. Não sendo colhidas na experiência – elas são a priori. (Entenderam?). A noção de a priori em Kant… (Eu vou ter que cortar outra vez) a noção de a priori em Kant vai ser exposta, por ele, na Crítica da Razão Pura . Então, nós já sabemos que o mundo da experiência é contingente e singular. [...]
Não há mais como intervir na natureza! Por exemplo: um homem acabou de morrer de cólera; outro homem se curou de cólera tomando quinino. Eu posso – com alguma garantia teórica – aplicar o quinino no terceiro homem? Não, de maneira nenhuma; aquilo foi contingente e singular! A ciência desaba ; as previsibilidades desaparecem . E toda questão do homem no interior da natureza é a previsibilidade. A previsão é aquilo que traz segurança pro homem. No momento em que o homem perde a capacidade de previsão, ele mergulha no inferno! Então, no momento em que foi dito que a natureza é contingente e singular – a humanidade caiu no inferno! A única saída seria constituir alguma coisa que viesse a organizar esse singular e esse contingente: a saída de Kant foi – o transcendental (Está bem?). Então, no transcendental é que estariam os necessários e os contingentes.
(Agora eu vou explicar:)
- Quantos juízos eu disse que tinha? Dois . O analítico … (Vejam se eu posso chamar o analítico de a priori ? Posso. É um pouco forçado, mas posso.)…e o sintético . O sintético é o da experiência. (Tá certo?) Vamos ver esse enunciado aqui. (Vou fazer… Tem um lápis aí? Me empresta aqui. É azul? Aluno: Preto) Esta linha reta… Qual é a cor desta linha reta? Preta. Então, eu vou dizer aqui: esta linha reta é preta. Todas as linhas retas têm que ser pretas?
Alº.: Não.

Cl.: Ela não poderia ser azul? Não poderia ser vermelha? Então a cor da linha é? Contingente. E toda linha é singular . Mas aí o Kant diz: “esta linha reta é o caminho mais curto entre duas distâncias”. Quando ele diz “esta linha reta é o caminho mais curto entre duas distâncias” – isso é necessário e universal. Isso é necessário e universal ! Então, o que está acontecendo, é o nascimento de um terceiro juízo – que, inicialmente, eu vou chamar de sintético-analítico ; mas que, na verdade, se chama SINTÉTICO a priori .
- O que é o sintético a priori ? Você coloca um sujeito  – o sujeito no caso aqui é linha reta (Tá pegando, G–?) – e você coloca um predicado – e esse predicado que você coloca é a priori . Então, qualquer linha reta pode ter qualquer cor, qualquer tamanho – e isso é contingente e singular. Mas é necessário e universal que esta linha reta seja o caminho mais curto entre dois pontos. Então, o universal e o necessário não pertencem ao empírico, mas à conjunção do empírico com o transcendental . (Estão acompanhando?).  É a conjunção do empírico com o transcendental .

Então, a partir de agora… Bem, eu já passei pela parte mais difícil com vocês, foi a parte que eu tinha que falar em transcendental, em a priori , experiência, a posteriori , subjetivo, objetivo. E tudo isso ficava… profundamente difícil de ser falado! Mas agora eu já tenho uma arma, muito forte , porque vocês já têm um pequeno conhecimento do que eu estou falando. E agora eu vou voltar – e voltar dando aula.

O que eu fiz nessa primeira passagem aqui foi um sacrifício quase que insuportável! Geralmente eu passo isso em universidade, eu pego dez alunos, cada um separa um pedacinho e dá aquilo: um fala sobre o necessário, outro fala sobre o universal, outro fala sobre o contingente, outro fala sobre o singular. Agora eu vou aplicar com vocês, e vocês é que vão dirigir a aula (tá?). Vamos lá:
- O subjetivo tem quantas metades?
Alº.: Duas.

Cl.: Duas - o psicológico e o transcendental. São as duas metades do subjetivo. (Tá?) E o físico? É constituído de um só elemento? O físico é constituído de um elemento só. (Tá?) Muito bem. O Kant disse que o subjetivo é transcendental e psicológico e vai fazer – pela primeira vez – a definição do que é transcendental. O transcendental é subjetivo, mas o subjetivo não esgota o transcendental todo, porque no transcendental existe o psicológico. E ele vai fazer a definição de transcendental – o transcendental é a CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE da experiência . Então, apareceram dois nomes muito difíceis - condição de possibilidade da experiência . Quem é que pertence à experiência?
Alº.: O singular e o físico.

Cl.: Vamos dizer o psicológico e o físico . O singular e o contingente - isso pertence à experiência. Eu posso dizer que o subjetivo pertence à experiência? Não, porque metade do subjetivo não é da experiência. Metade do subjetivo é transcendental . Então, o que é o transcendental? A condição de possibilidade da experiência. Então, Kant vai dizer – e ai ele diz com uma clareza muito grande – da seguinte forma: este gravador, estes três gravadores que estão aqui: este gravador está à esquerda deste ? Este daqui está à direita deste ? Este daqui está acima deste ? Este está abaixo deste ? Este está na frente deste? Atrás, na frente, à esquerda, à direita, no alto, em baixo… – são RELAÇÕES ESPACIAIS. Então, alto, baixo, frente, costas, direita, esquerda são relações espaciais . O que significa que todas as coisas que existem estão no espaço; e o espaço não é algo inerte – o espaço tem relações próprias dele: existem relações no espaço.

Por exemplo, tirando-se o espaço destas coisas – o que aconteceria com elas? Isto daqui estaria à esquerda disto daqui? Isto daqui estaria acima disto daqui? Se vocês tirassem as relações espaciais, as coisas cairiam num caos im - pen - - vel ! Então, Kant vai dizer – com uma facilidade incrível - que o espaço é a condição de possibilidade do mundo físico . (Vejam se vocês entenderam:) O espaço é a condição de possibilidade do mundo físico . Se o espaço fosse retirado – acabaria o mundo físico: eu não estaria mais na frente do A–, este teto não estaria em cima do A –. Acabaria a arquitetura; acabaria a escultura; a pintura acabaria; a vida acabaria: tudo acabaria! Então o espaço é a condição de possibilidade do mundo físico.

Por exemplo, houve uma época na sua vida, L–, que você não conhecia a C– – ou você a conheceu sempre?  Houve uma época em que você a conheceu. Então, houve uma época em que você não a conhecia, e uma época em que você a conheceu. Então, nessa época que você não conhecia C–, você não sentia amor por C–, porque você não conhecia C–. Então, a sua psicologia fez uma avaliação antes de conhecer C– (mulher dele),e depois de conhecer C– – não houve uma variação? Não houve uma mudança? Ou não?

Por exemplo, um homem sente uma dor de dente, aí toma um ‘Melhoral’, a dor de dente dele passa. Eu posso dizer que esse homem viveu um antes da dor de dente; a dor de dente presente; e o depois da dor de dente? Posso? Isso se chama VIVIDO. São três vividos: o vivido antes da dor de dente; o vivido da dor de dente; o vivido de depois da dor de dente. Para haver essa sucessão de vividos - é preciso que haja TEMPO. Se não houvesse tempo, nós só poderíamos ter um vivido. Como existe o tempo, nós temos uma série de vividos. Então, o tempo é a condição de possibilidade da psicologia . (Vocês conseguiram entender?) O tempo é a condição de possibilidade da psicologia : se nós não tivéssemos tempo, nós não teríamos sucessão dos vividos (Vê lá, P–, se você entendeu?).

Al.: Cláudio, quer dizer que o espaço é a condição de possibilidade do físico, e o tempo a condição de possibilidade da psicologia?
Cl.: condição de possibilidade da psicologia.
Al.: O físico não seria [a condição de possibilidade] do tempo?
Cl.: Não, depois você vai ver que o tempo vai englobar tudo. Ele vai pegar [---] o físico… por enquanto é só para vocês compreenderem que não pode haver físico sem espaço, e não pode haver psicologia sem o tempo. Então, o espaço e o tempo são os dois primeiros a priori . Eles não são da experiência. Eles são a condição de possibilidade da experiência. Então, o espaço e o tempo são a priori. 

(Entenderam? Quem não entendeu? Dudu? Entenderam lá atrás?).
O espaço e o tempo são a condição de possibilidade da experiência. O espaço e o tempo… O tempo condição de possibilidade da psicologia e o espaço condição de possibilidade da física. Depois eu vou transformar (Tá?). Então, vejam bem: o espaço e o tempo não são índices da experiência; eles são a condição da experiência. Sem eles, não há experiência! Então, diz o Kant que o espaço e o tempo são dois transcendentais. (Tá?)

(Então, aqui, acho que compreenderam, não é?)
Então, esses dois transcendentais são subjetivos : eles são da subjetividade. O Kant vai e escreve o primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura .  O primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura lida com o que se chama SENSIBILIDADE (Aqui é muito importante que vocês entendam, viu?) Sensibilidade é sinônimo de INTUIÇÃO.

Por exemplo, eu vejo este copo – é um processo da sensibilidade; eu ouço uma música – é um processo da sensibilidade; eu toco no liso desta mesa – é um processo da sensibilidade.

Sensibilidade é sinônimo de intuição . Então, eu apreendo este copo por? Intuição . Apreendo uma música por? Intuição . Apreendo esta mesa aqui, o liso por? Intuição . Sensibilidade é sinônimo de intuição . Aí, o Kant faz uma coisa lindíssima: ele divide a intuição em DERIVADA e ORIGINÁRIA.
A intuição derivada é a intuição humana - no sentido de que a intuição humana não cria nada ! A nossa sensibilidade não cria: os nossos olhos não criam, os nossos ouvidos não criam. Os meus olhos veem o que existe. O meu ouvido ouve o ruído que existe. A função da minha sensibilidade, ou a função da minha intuição é – apreender o que existe (Vocês entenderam?). A sensibilidade e a intuição - apreendem o que existe. Chama-se intuição derivada .

Mas Deus, diz Kant, tem uma intuição ORIGINÁRIA: quando Deus vê, Ele cria o objeto: quando ouve, cria a música – não ouve a música que está pronta. O ato de ouvir em Deus – é o ato de CRIAR uma música; o ato de ver (Tá entendendo?) é o ato de criar o objeto. Então, a intuição DIVINA é uma intuição ORIGINÁRIA. A intuição do HOMEM é uma intuição DERIVADA.
Nós, os homens, passamos a nossa vida com processos intuitivos . Com os olhos, eu apreendo cópias, mesas; com os ouvidos,eu apreendo música, ruídos; com a minha potência de temperatura, eu apreendo o calor ; com o tato, eu apreendo o rugoso e o liso . O que mais? Tem mais algum?  Olfato, paladar…

Então, nós vivemos mergulhados na sensibilidade . Essa sensibilidade – os olhos apreendem a visão, o ouvido apreende a audição – se chama SENSIBILIDADE EMPÍRICA. Sensibilidade empírica. Agora, o espaço e o tempo não são a condição de possibilidade do físico e do psicológico? O espaço e o tempo não são empíricos – são transcendentais .
Então, eu tenho duas sensibilidades. Quais? O espaço e o tempo são a SENSIBILIDADE TRANSCENDENTAL. E as coisas que eu apreendo pelos meus cinco sentidos são a SENSIBILIDADE EMPÍRICA. A palavra sensibilidade, em grego, chama-se ESTÉTICA. Estética é sinônimo de sensibilidade . Por isso, o primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura chama-se Estética Transcendental . Na Estética Transcendental Kant nos dá as duas sensibilidades puras - o espaço e o tempo .

‘Pura’, em Filosofia, é sinônimo de a priori . ‘Pura’ e a priori são a mesma coisa. Quantas sensibilidades empíricas nós temos? Olhos, ouvidos, olfato… Agora, quantas ’sensibilidades puras’, quantas sensibilidades a priori ? Duas. Espaço e tempo . Então as sensibilidades a priori chamam-se: e stética transcendental .

- O tempo e espaço pertencem a? Estética transcendental.
(Compreenderam aqui?)
O Kant vai escrever a Crítica da Razão Pura dividida em três partes (Nesta aula, eu só vou me interessar por uma.) A primeira parte chama-se Estética Transcendental , ela trata da sensibilidade. Sinônimo de sensibilidade? Intuição. A intuição são duas: a sensível e a priori . O Kant chama de ‘estética transcendental’ à conjunção intuição sensível e a priori . Então, na Estética Transcendental ele vai dar uma explicação do que é o tempo e o espaço .
(Vocês entenderam até aqui?)

O tempo e o espaço são transcendentais? E este copo aqui, é o quê?  Empírico! (Os nomes exatos!) Então, ele vai fazer a explicação do que é o a priori . Ele vai explicar o a priori . Quantos a priori ? Dois: tempo e espaço. Ele começa explicando o a priori com uma prática chamada EXPOSIÇÃO METAFÍSICA. Chama-se exposição metafísica .
(Vai começar meu interesse agora… ainda não é agora… daqui a pouco vai chegar meu interesse.)

- O que é a ‘exposição metafísica’? A exposição metafísica foi tudo o que eu fiz nesta aula: mostrar pra vocês que existem dois elementos que são a priori - o tempo e o espaço. (Certo?) Foi isso que eu fiz! Então, a exposição metafísica responde a uma pergunta kantiana chamada: Quid facti? Qual é o fato do conhecimento? O fato do conhecimento é que nós temos o tempo e o espaço como dois a priori : condição de possibilidadeda psicologia e da física . Isso é a exposição metafísica do tempo e do espaço, que ele faz na estética transcendental . Mas em seguida ele vai fazer o que se chama (aqui que me importa!) a EXPOSIÇÃO TRANSCENDENTAL.

- São quantas exposições? Duas. Na exposição metafísica ele mostra que existem dois elementos na nossa sensibilidade que são a priori - o tempo e o espaço. Então, a exposição metafísica é exibir que existem na nossa sensibilidade duas formas a priori : tempo e espaço. Em seguida ele vai fazer o que se chama exposição transcendental . E a exposição transcendental é pra mostrar por que a experiência se submete ao transcendental .
- Por que a experiência se submete ao transcendental? Porque na exposição metafísica ele nos mostra quais são os dois a priori . Na exposição transcendental ele nos mostra por que o mundo físico se submete ao transcendental. Então, a ‘exposição metafísica’ chama-se exposição de fato

A ‘exposição transcendental’ chama-se exposição de direito .
O que quer dizer de direito ? A submissão do empírico ao transcendental. (Vocês entenderam?) A submissão do empírico ao transcendental .
Al.: Ou seja, como o contingente se submete ao necessário .
Cl.: Isso! Como que o a posteriori se submete ao a priori . (Tá?) Então, quando você fala do a priori , ou quando você fala do transcendental… o sinônimo do transcendental é de direito . É a mesma coisa: transcendental e de direito é a mesma coisa: é a submissão que o empírico faz ao transcendental .

Agora, eu vou mudar tudo !
(Eu não sei se eu fui bem… (Al.: ótimo!) Eu fui cortando, não é? Bem, eu tenho pouco tempo de aula, eu não pude fazer uma coisa mais apurada, como é da minha maneira de ser. Eu gosto de dar uma aula de cinco horas para que as pessoas entendam aquilo com perfeição. Tá?)
Al.: Cláudio, de direito - é igual ao transcendental?
Cl.: A compreensão disso?
Al.: É.
Cl.: Vamos lá. De fato = metafísica ; de direito = transcendental . De fato é o fato de nós termos dois a priori - isso que é exposição metafísica . É o fato de nós termos quantos a priori ? Espaço e tempo. De direito é o fato desse transcendental se aplicar ao empírico : o necessário e universal se aplicarem ao contingente e singular . Isso que é o de direito. 

Aluno: O empírico se submeter…
Cláudio: O empírico se submeter ao transcendental. Porque não há nenhuma razão para o empírico se submeter ao transcendental! Então, ele chama isso de direito . Então, de direito o empírico está submetido ao transcendental . Então, exposição transcendental: exposição de direito exposição metafísica: exposição de fato . (Tudo bem?)

Aluno: D e direito é o a priori ?
Cláudio: De direito é o a priori ; o de fato também é a priori : o de direito é o a priori no mundo , é o a priori sendo aplicado ao empírico – isso é que é de direito . É o fato de que o espaço e o tempo são a priori , mas eles não vivem no universo transcendental – eles estão no mundo físico ; eles estão no mundo empírico . Quer dizer: de direito eles se aplicam àquele mundo físico ; mas eles não são empíricos !

(Vamos lá, façam mais perguntas, para eu fazer a transposição do que eu quero, para terminar a aula. A transposição que me interessa . Vamos lá, no de direito e de fato.
:)
O de direito significa que alguma coisa que não pertence ao mundo empírico pode ser pensada: é o espaço e tempo. Porque a natureza está submetida àquilo dali. As regras da natureza são o transcendental , o a priori . Por exemplo – pra vocês compreenderem:
- O que é a geometria? Aonde é que você faz geometria? Em que matéria você faz geometria? A geometria se faz no espaço - a geometria é uma prática a priori .

- E a aritmética? No tempo . Então a aritmética e a matemática não se dão no empírico - mas no transcendental . Faz-se aritmética no tempo e geometria no espaço . Então, poder aplicar o espaço e o tempo no mundo empírico chama-se – exposição transcendental ou exposição de direito . De direito , isto cabe no mundo empírico; e essa expressão ‘de direito’ vai se tornar usual na Filosofia. Que quer dizer então de direito ? De direito é a presença de alguma coisa – que não é empírica – no mundo empírico.
Al.: Você vai falar como se dá essa relação?
Cl.: Não, agora eu vou expor pra vocês uma coisa deleuzeana – que é o que me importa!
(Vejam bem o que está sendo dito aqui:)

- O que é a exposição metafísica? É o fato de na nossa subjetividade haver o espaço e o tempo como transcendentais . Agora, o fato de haver transcendentais – não significa que o empírico tem que se submeter ao transcendental. Não significa isso! Mas significa que – a partir do momento em que há uma exposição transcendental – o transcendental está no mundo empírico: está no mundo empírico - é isto que está sendo dito! Não existe o transcendental lá em cima e o empírico cá embaixo : o transcendental está incorporado ao mundo empírico – isso que é o de direito ; o transcendental incorporado ao mundo empírico! 

Eu vou tentar uma exposição bergsoniana pra vocês entenderem:
Aluna: O transcendental incorporado já é Deleuze, ou ainda é Kant?
Cl.: Deleuze! Não! – Deleuze fazendo uma leitura magistral em Kant . Uma leitura perfeita em Kant ! (É exatamente isso que Kant quer dizer. Mas não importa isso. Importa que vocês tenham compreendido.)
Eu, agora, vou pegar um filósofo que fez seu trabalho no século XIX, no fim do XIX para o XX. Esse filósofo chama-se Bergson . O trabalho de Kant foi feito no fim do XVIII para o XIX.

(Prestem atenção ! Olhem como agora vai começar a ficar fácil… e eu acredito que na próxima aula eu feche isso com perfeição completa:)
Nós, os sujeitos humanos, somos dotados de uma prática chamada percepção? (Todo mundo está de acordo com isso!?) Agora vamos avaliar o que é uma percepção? Por exemplo, eu estou percebendo o G–. Mas esse ato de eu perceber o G– não me provoca nenhum espanto – porque eu conheço o G–; eu sei quem é o G–: o que significa que a minha percepção é penetrada de memória . Quando o D– entrou, eu me virei e olhei para a K–: K–, garota bonita! (Certo?!) Então, a percepção é penetrada de memória: sempre que vocês percebem alguma coisa, a memória está junto. (Vocês entenderam?)
Agora, por exemplo: você sobe numa bicicleta e sai andando. Para andar numa bicicleta, você tem que percebê-la. Mas, quando você anda numa bicicleta, você não anda memorizando os gestos que tem que fazer. Aquilo é um processo do HÁBITO. Então a sua percepção – qualquer percepção - é penetrada de memória e de hábito . Todas as percepções são penetradas de memória e de hábito. Mas é ainda mais grave do que isso: a memória que a gente lança numa prática perceptiva são todos os nossos sentimentos: todos os nossos sentimentos entram ali , [naquela prática perceptiva.]

Por exemplo, eu estou sentado aqui – eu sou um mocinho do faroeste americano. Eu estou sentado e aí eu levanto os olhos e vem andando o Jesse James (que é um bandido do faroeste); imediatamente eu saco, saquei: pah! Por quê? Porque a minha percepção está penetrada de memória , penetrada de hábitos e penetrada de sentimentos . A nossa percepção é toda penetrada de memória , de hábitos e de sentimentos !

Quando eu vejo uma pessoa que eu gosto, eu faço assim [faz uma cara de alegria]; quando eu vejo uma pessoa que eu não gosto eu faço assim [faz uma cara de aborrecimento]. Isso é o sentimento atravessando ali dentro , tá passando ali dentro. Então, a percepção - enquanto uma atividade humana - tem memória ? Tem hábitos ? Tem sentimentos ? Vamos acrescentar mais uma coisa. Ela tem projetos ? Por exemplo: quando eu vejo uma pessoa que eu gosto, eu vou projetando alguma coisa que eu vou fazer. Então, a percepção humana tem memória, hábitos, sentimentos e projetos. E ela, a ‘percepção humana’ se chama percepção empírica .

Por exemplo, um rato tem percepção? Tem. Claro que, no momento em que o rato tem percepção, ali passam os hábitos do rato, a memória do rato, os sentimentos do rato… Um rato percebe um gato , imediatamente o sentimento entra ali, a memória entra ali e… o rato se manda! Então, a nossa percepção é empírica ou subjetiva . A percepção é um dado subjetivo ; quer dizer – o mundo físico não tem percepção; só o subjetivo tem percepção. (Tá?)

O Bergson pega a percepção…
- Quais são os elementos que nós estamos colocando na percepção? Memória, sentimentos, hábitos, projetos. O Bergson pega a percepção e arranca da percepção o hábito , a memória , o sentimento e o projeto : e constitui uma PERCEPÇÃO PURA.

- Qual o sinônimo de puro? A priori .
Ele produz uma percepção a priori . Mas essa percepção a priori ele aplica no mundo, de direito! Então, quando Bergson constrói a filosofia dele, o ponto de partida da filosofia dele é a concepção de uma percepção de direito . Ele vai construir isso… (E ninguém precisa se preocupar que não sabe, porque eu vou expor o que é.) Ele constrói, ele produz uma percepção de direito - ou a priori . Logo, uma percepção de direito e a priori é diferente de uma percepção com memória, etc, etc.? O que eu chamei de uma percepção com memória, etc.? Uma percepção subjetiva . Por isso uma percepção ideal , ou uma percepção a priori , ou uma percepção de direito chama-se ASSUBJETIVA. (Entenderam aqui, não?) Percepção assubjetiva! 

O Bergson vai dizer que a natureza - em suas origens – era constituída de luz numa velocidade infinita; e – no meio dessa luz – existiam infinitas percepções. A natureza, na sua origem, não era apenas matéria ; ela era matéria mais percepção . (Aqui ficou difícil!)

Um pouco do que está acontecendo aqui, é que o Kant produziu transcendentais, produziu o a priori - e o Bergson também vai produzir. Só que o Bergson e o Kant têm uma diferença – porque o a priori do Kant , o transcendental do Kant , o de direito do Kant é uma CONDIÇÃO de POSSIBILIDADE; enquanto que o a priori de Bergson , o de direito de Bergson , o transcendental de Bergson - é GÊNESE do EMPÍRICO.

A grande diferença de Deleuze para Kant é que para Kant o transcendental é uma condição de possibilidade. Para Deleuze o transcendental é genético. (Coloquem isso. Podem perguntar!)

A grande mutação da Filosofia – e que é insuportável pra todo mundo… – é que o Deleuze pensa o transcendental como gênese . Como GÊNESE. Então…
(Aqui, nós estamos em um momento muito difícil!)
Al.: Cláudio, a passagem da condição de possibilidade para a gênese é a passagem do subjetivo para assubjetivo?
Cl.: Do subjetivo para assubjetivo? É. É exatamente isso. É uma pergunta muito difícil, a minha resposta vai ser muito particular. Porque o Kant colocou, quantos subjetivos?
Al.: Dois.

Cl.: Transcendental e psicológico. E constrói o transcendental com o modelo do psicológico. Isso que ele faz! Ele aplica o modelo psicológico no transcendental. O Bergson não. O Bergson vai constituir um transcendental que nada tem a ver com o empírico. Mas aqui fica… (Não prestem atenção a isso!)

O problema que está acontecendo aqui é que a partir de determinado momento da história do pensamento o transcendental entrou no pensamento – com o Kant . Então, nós temos o subjetivo, o objetivo e o transcendental. (Certo?) O transcendental de Kant é uma condição de possibilidade. Marquem assim… (Nós não vamos esgotar isso hoje, é impossível!) Então o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade para o mundo empírico – o mundo da experiência. Se não houver a condição de possibilidade – não há experiência! Para o Bergson, o transcendental é gênese do empírico. 

Então nasceu uma diferença, que o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade e o do Bergson é a gênese do empírico .
(Vou parar um instante: não vou sair já não! Vamos agüentar mais meia hora, tá? Que horas são?)

Al.: Cinco para as onze.
Cl.: Mais vinte minutos! Deixa só eu terminar essa aula aqui. Porque se eu conseguir – eu não quero conseguir muito hoje não… [Apenas] um detalhe :
Se eu conseguir poder chegar aqui na próxima aula e voltar a falar da percepção do Bergson , e usar a percepção ideal do Bergson - não tem memória, não tem hábito, não tem sensação, não tem sentimento… Por isso , em Bergson, a percepção é ASSUBJETIVA. E o Bergson vai povoar a natureza dessas percepções assubjetivas . Vão se chamar eus larvares .
(Pausa)

[...]a Crítica da Razão Pura , e nessa Crítica da Razão Pura , ele coloca os três transcendentais dele: a estética, a analítica e a dialética. O Bergson , ele escreve um livro chamado Matéria e Memória que tem o mesmo valor que a Crítica da Razão Pura . Mesma coisa! Mais ou menos no que se chama parágrafo trinta e três…

(A edição brasileira não é dividida em parágrafos. É uma coisa de ALUCINAR - como é que pode não dividir o livro não ser dividido em parágrafos: é de irritar! O ZL– dividiu a edição brasileira do livro pra mim em parágrafos. Ele copiou da edição francesa – porque se eu puder indicar por parágrafo é muito mais fácil! Mais ou menos no parágrafo trinta e três da edição brasileira o Bergson vai falar – pela primeira vez – na percepção a priori . Matéria e Memória, primeiro capítulo. Eu vou fazer uma leitura de Matéria e Memória … por ai.

Então, na hora em que ele coloca a percepção – que ele chama de PERCEPÇÃO IDEAL .. . A percepção ideal é a percepção menos os preceitos humanos . É a percepção DESUMANA – ela não tem nenhum elemento humano, memória e etc. – é PERCEPÇÃO PURA! Por exemplo, uma máquina fotográfica  – segundo essa definição do Bergson – não tem percepção. Percepção é apreender alguma coisa , apreender uma imagem . Isso que é percepção pura . Então, o Bergson diz que  – antes do nascimento da vida  – já existia percepção: ele chama de percepção ideal ou CONSCIÊNCIA DE DIREITO.

Então, a consciência de direito… Ele disse que a natureza… (Muito difícil esse momento  – Sobretudo para quem não leu a Matéria e Memória ).

A consciência de direito é imposta à natureza. A natureza é penetrada de infinitas consciências de direito . E dessa composição  – consciência de direito e matéria  – vai nascer A VIDA: as consciências de fato .
Então, o processo de Bergson aqui é a consciência de direito , a percepção ideal . O melhor nome para se dar a essa ‘percepção ideal’ é assubjetiva ou MÁQUINA.

Máquina é um conceito que se opõe a sujeito e objeto . Então, a percepção ideal, a consciência de direito  – é uma máquina, porque não é sujeito : não há sujeito e objeto. Sujeito e objeto só nascem quando essa percepção se humaniza, ou melhor, se animaliza . No vivo! Aí nascem sujeito e objeto  – antes não havia.

O nosso caminho está definido  – é estudar o assubjetivo do Bergson, apoiado no transcendental do Kant . Eu vou me apoiar no transcendental do Kant e fazer um trabalho de uma aula só  – e, a partir dela, acho que vocês já sabem tudo o que eu quero, ou seja: não se pode pensar em nada , sem se pensar o transcendental . Não se pode pensar o transcendental como se fosse condição – e, sim, como se fosse gênese: a gênese de tudo!

Então tá bom, por essa aula, (não é?)

 Muito obrigado a L– pela sua presença  
– fiquei profundamente emocionado!

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