sexta-feira, 22 de abril de 2011

INSTINTO E INTELIGÊNCIA EM BERGSON


(...)

Se o instinto é, por excelência a faculdade de utilizar um instrumento natural organizado
, deve envolver o conhecimento inato (virtual ou inconsciente, é verdade) tanto do instrumento quanto do objecto ao qual este se aplica. 
O instinto é portanto, o conhecimento inato de uma coisa. Mas a inteligência é a faculdade de fabricar instrumentos inorganizados, isto é, artificiais.

Um ser inteligente traz consigo os meios necessários para superar-se a si mesmo.

Supera-se no entanto menos do que gostaria, menos também do que se imagina fazer. O carácter puramente formal da inteligência priva-o do lastro do qual precisaria para pousar nos objectos que seriam do mais alto interesse para a especulação. 
O instinto, pelo contrário teria a materialidade requerida, mas é incapaz de ir buscar seu objecto tão longe: ele não especula. Tocamos no ponto que mais interessa nossa presente investigação. A diferença entre que iremos assinalar entre o instinto e a inteligência é aquela que toda nossa análise procurava desentranhar. Nós a formularíamos assim:
 
Há coisas que apenas a inteligência é capaz de procurar, 
mas que, por si mesma, não encontrará nunca.
Essas coisas, apenas o instinto as encontraria;
mas não as procurará nunca.
(...)

HENRI BERGSON 
– A Evolução Criadora - Excertos do capítulo II

 

Inteligência e Intuição 
  
O instinto é simpatia. 
Se esta simpatia pudesse alargar o seu objecto e também reflectir sobre si mesma, dar-nos-ia a chave das operações vitais - do mesmo modo que a inteligência, desenvolvida e reeducada, nos introduz na matéria. Porque, não é de mais repeti-lo, a inteligência e o instinto estão orientados em dois sentidos opostos: aquela para a matéria inerte, este para a vida.
A inteligência, por meio da ciência, que é obra sua, desvendar-nos-á cada vez mais completamente o segredo das operações físicas; da vida apenas nos dá, e não pretende aliás dar-nos outra coisa, uma tradução em termos de inércia. Gira em derredor, obtendo de fora o maior número de visões do objecto que chama até si, em vez de entrar nele. 
Mas é ao interior mesmo da vida que nos conduzirá a intuição, quero dizer o instinto tornado desinteressado, consciente de si mesmo, capaz de reflectir sobre o seu objecto e de o alargar indefinidamente. Que um esforço deste género não é impossível, é o que demonstra já a existência no homem de uma faculdade estética ao lado da percepção normal.
O nosso olhar apercebe os traços do ser vivo, mas justapostos uns aos outros, e não organizados entre si. Escapa-lhe a intenção da vida, o movimento simples que corre através das linhas, que as liga umas às outras e lhes dá uma significação.
É dessa intenção que o artista pretende apossar-se, situando-se no interior do objecto por uma espécie de simpatia, baixando, por um esforço da intuição, a barreira que o espaço interpõe entre ele e o modelo. É verdade que esta situação estética, como, de resto, a percepção exterior, alcança apenas o individual. Mas é possível conceber uma pesquisa orientada no mesmo sentido da arte e que tivesse por objecto a vida em geral, do mesmo modo que a ciência física, seguindo até ao fim o rumo assinalado pela percepção exterior, prolonga em leis gerais os factos individuais. 

Decerto esta filosofia jamais alcançará do seu objecto um conhecimento comparável ao que a ciência tem do seu. A inteligência continua a ser o núcleo luminoso em torno do qual o instinto, mesmo alargado e depurado em intuição, é apenas uma vaga nebulosidade. Mas, em vez do conhecimento propriamente dito, reservado à pura inteligência, a intuição poderá fazer-nos apreender o que os dados da inteligência têm aqui de insuficiente e deixar-nos entrever o meio de os completar. (...)


Pela comunicação simpática que estabelecerá entre nós e o resto dos vivos, pela dilatação que obtiver da nossa consciência, introduzir-nos-á no domínio próprio da vida, que é compenetração recíproca, criação indefinidamente continuada.

Henri Bergson, in 'A Evolução Criadora'
 
 
Li-Sol-30
Fontes:
ALI_SE
REFLEXÕES E PENSAMENTOS
 http://alisenao.blogspot.com/2009/06/instinto-e-inteligencia-em-bergson.html
http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200802250900&author=191

Sejam fewlizes todos os seres Vivam em paz todos os seres
Sejam abençoados todos os seres.

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