Henri-Louis Bergson
DA DURAÇÃO AO TEMPO ESPACIALIZADO:
FILOSOFIA E CIÊNCIA EM BERGSON
Geovana da Paz Monteiro
O filósofo deve ir mais longe que o cientista.
Fazendo tábua rasa do que é apenas um símbolo imaginativo, verá o mundo material resolver-se num simples fluxo, numa continuidade de escoamento, num devir.H. Bergson, A evolução criadora, p. 397.
 
 
É comum encontrarmos nos dicionários e manuais de filosofia algum  verbete ou capítulo dedicado ao tempo. Nesses registros, geralmente  bastante panorâmicos, também estão sempre presentes as referências a  Henri Bergson como um filósofo que se ocupou em pensar a duração.  Porém, aprofundando a pesquisa sobre o pensamento bergsoniano,  constatamos que, ao contrário dos demais, Bergson investiga o tempo de  maneira deveras peculiar. 
Tentaremos, nesta exposição, acompanhar com  esse filósofo os contornos da duração que se deixam exprimir em  palavras, embora as palavras não sejam as melhores amigas do filósofo  cuja procura é simpatizar, através da intuição, com a realidade se  fazendo.
O ideal de precisão bergsoniano demanda certo afastamento dos  conceitos em nome de uma atenção às coisas, ao vivido. No que diz  respeito à ciência, é aceitável que os conceitos venham sobrepor-se à  experiência, haja vista a matéria, seu objeto, ser o modelo segundo o  qual nossa inteligência se regule e os conceitos produtos dessa  faculdade. Entretanto, se a linguagem conceitual vem se casar quase que  perfeitamente à ciência, ela só se conformaria à metafísica  arbitrariamente, pois "a experiência interior não encontrará em parte  alguma linguagem estritamente apropriada” (Bergson, 2006, p. 48).
Para Bergson, a filosofia deveria se apartar da atitude mera e  estritamente conceitual; contudo, aceita-a sem reservas. A filosofia tem  se subordinado à linguagem tendo em vista a resolução de seus  problemas, mas assim condenou-se à repetição de respostas prontas.
Esses conceitos estão inclusos nas palavras.
Foram, o mais das vezes, elaborados pelo organismo social com vistas a um alvo que nada tem de metafísico. Para formá-los, a sociedade recortou o real segundo suas necessidades. Por que haveria a filosofia de aceitar uma divisão que tem todas as chances de não corresponder às articulações do real? (Bergson, 2006, p. 54).

Requerer para a filosofia um ideal de precisão, visto que tal tenha  sido o que mais lhe faltou (Bergson, 2006, p. 3), não será, entretanto,  reivindicar a rigidez da conceitualização cujo uso se vê propagado quer  no âmbito cientifico quer no filosófico. A comunhão entre filosofia e  ciência dando na experiência implicará o afastamento daquilo que, para  Bergson, não passa de “[...] conhecimento vago que está armazenado nos  conceitos usuais e é transmitido pelas palavras” (Bergson, 2006, p. 47). 
Bergson persiste em um problema fundamental: o tempo. É o lugar do  qual sempre partimos e para o qual sempre retornamos quando nos propomos  a estudar sua filosofia, como propõe Worms:
É toda a sua filosofia, com efeito, que Bergson apresenta como decorrência, não da ‘questão’ do tempo, mas da simples constatação da passagem do tempo, do simples fato de que o tempo passa (Worms, 2004, p. 129).
A duração, tal qual a compreende Bergson, consiste em uma  continuidade, ou seja, o prolongamento de um antes em um depois.  Poderíamos questionar o que há nisto de tão peculiar. Afinal, todos nós  percebemos a passagem do tempo assim, um instante após o outro. Quem  discordaria de uma ideia tão comum? A aparente trivialidade encobre o  verdadeiro sentido do tempo bergsoniano. Não se trata aí de um tempo  mensurável – ou melhor, trata-se também disto, posto que duração seja  totalidade, isto é, a realidade em seu estado mais fundamental.
Segundo Bergson, desde que os primeiros filósofos se dedicaram a  pensar a passagem do tempo, foi transformando-o em espaço que eles  elaboraram suas reflexões. Mas qual é mesmo a natureza do espaço? Seria o  espaço uma qualidade atribuída às coisas materiais ou seriam as coisas  materiais atribuídas a ele? 
Percebemos de fato o espaço
ou apenas construímos dele uma representação abstrata?
ou apenas construímos dele uma representação abstrata?
Em seu primeiro livro, Ensaio sobre  os  dados imediatos  da  consciência,  Bergson define o espaço como “uma realidade sem qualidade” (Bergson,  s.d., p. 69), um meio homogêneo onde a matéria se desdobra, pertencendo  portanto ao domínio quantitativo:
O que se torna necessário é afirmar que conhecemos duas realidades de ordem diferente, uma heterogênea, a das qualidades sensíveis, a outra homogênea, que é o espaço. Esta última, claramente concebida pela inteligência humana, permite-nos até efetuar distinções nítidas, contar, abstrair, e talvez também falar (Bergson, s.d., p. 71).
Afirmar a homogeneidade do espaço 
é considerá-lo um vazio a ser  preenchido pela matéria, 
um meio sobre o qual os objetos vêm se  justapor.
Mas se, de acordo com o filósofo, “[...] a homogeneidade  consiste aqui na ausência de toda qualidade [...]” (Bergson, s.d., p.  71), será contraditório com a natureza qualitativa do tempo considerá-lo  um meio homogêneo passível de mensuração; será o mesmo que admiti-lo  sem qualidade.
 “Contudo, concorda-se em olhar o tempo 
como um meio  indefinido, diferente do espaço,
mas homogêneo como ele” 
(Bergson, s.d.,  p. 71).
Para Bergson, isso não pode ser assim; a distinção entre a duração e o  tempo homogêneo medido diz respeito ao fato de que uma é sentida,  vivida, intuída, ao passo que o outro é contado, não indo além de uma  representação, de um símbolo numérico e, portanto, estático, da  realidade fluida que passa sem deixar rastros, salvo aqueles registrados  pela memória. 
A duração não está nos instantes contados, nas paradas  imaginadas e somadas, ela é perceptível naquilo que não apreendemos  matematicamente, ela está muito mais no ato, nos intervalos que unificam  e prolongam o instante precedente no instante seguinte. Assim, a  duração é uma e várias. Sendo multiplicidade indiscernível,  multiplicidade qualitativa, heterogênea, ela é o que unifica sem por  isso encerrar-se em uma forma estática e homogênea, ou seja, sem  identificar-se com o espaço. 
Grosso modo,
o espaço sendo o lugar da repetição,
o espaço sendo o lugar da repetição,
da fixidez das formas acabadas, 
é contrário ao tempo onde se  desvela toda criação.
Na ideia de uma multiplicidade não numérica  encontramos implícita essa potência criadora, como Bergson mesmo  denomina, essa imprevisível novidade que a duração carrega consigo,  criação que exclui toda repetição. Trata-se, pois, de dois processos  distintos: um repetitivo, captado pelo esforço científico, próprio à  inteligência; outro sempre em vias de renovar-se porque criativo, ou  seja, temporal, tal que não se revelaria senão intuitivamente.
Confundidos tempo e espaço, 
todos os grandes problemas filosóficos  surgiram então. 
Filosofia e ciência, desde seu início histórico,  trataram o tempo ao modo do espaço. Assim, isso que podemos com Bergson  denominar “espacialização do tempo” não é um achado ou privilégio da  Física moderna, levado a cabo por Einstein e os continuadores da Teoria  da Relatividade. 
Ao contrário, Einstein, na visão de Bergson, só levou  às últimas consequências uma confusão que remonta à Grécia Antiga,  quando Zenão de Eleia misturou movimento e espaço. Daí em diante, todos  os “pseudoproblemas” foram adquirindo proporções elevadas e ocupando o  pensamento dos filósofos. Mas todos, ou quase todos, acabaram repetindo  os mesmos equívocos. Bergson, no entanto, ao criticar a história da  Filosofia, propõe um novo ponto de partida, a saber: investigar se, na  raiz de todos os grandes problemas filosóficos, não está uma grave  incompreensão do que seja de fato o tempo, ou melhor, a realidade.
Em seu percurso, Bergson constatou que a assimilação do tempo às  grandezas de ordem numérica ocorre porque sua representação simbólica,  sua medida, é algo extremamente útil à vida cotidiana. Como ele mesmo  declara: “o tempo entra nas fórmulas da mecânica, nos cálculos do  astrônomo e até do físico, sob a forma de quantidade” (Bergson, s.d., p.  77). Doravante, a ideia de um “tempo-quantidade” cria um conflito entre  a esfera psicológica, o tempo de nossas consciências, e o tempo dos  relógios, mensurável e homogêneo.
Em todo caso, Bergson está disposto
a  dissipar a confusão; para ele, 
o tempo, que é seu, mas que também é o de  todo mundo,
não é mensurável.
O filósofo mostra que a representação do  tempo livre de interferências psicológicas não reflete o fundamental,  pois, como ele afirmará anos mais tarde, “duração implica consciência”, e  esta por sua vez deverá ser entendida não como testemunha do tempo que  passa, mas como condição de sua passagem. Como afirma Worms:
Se a duração não existe portanto senão ‘para’ uma consciência, não é no sentido de que ela apareceria ‘a’ uma consciência que seria sua espectadora, mas na medida em que existiria, ela própria, como consciência, esta última sendo mesmo, por seu ato ou atividade própria, sua condição efetiva de possibilidade (Worms, 2004, p. 133).
Nesse sentido, a relação entre o espaço percorrido pelos ponteiros de  um relógio e o tempo real é fictícia. As posições percorridas só  existirão para uma consciência, e mais especificamente para uma memória  que as registre.
O relógio somente marca as simultaneidades instantâneas 
entre um momento da vida consciente 
e um ponto do espaço. 
Aprofundando a defesa de uma duração psicológica realizada em seu primeiro livro e estendendo-a ao tempo universal, em Duração e simultaneidade  Bergson esclarece que a aparente oposição entre tempo físico e o tempo  da consciência não se sustenta senão por um apelo a abstrações  filosóficas que, para ele, no fundo são vazias de conteúdo. Embora tenha  proferido duras críticas à matematização da realidade naquele livro,  Bergson não sai em defesa de um tempo meramente psicológico. Quando  afirma que duração implica consciência, ressalta que primeiramente o  tempo real é experiência pessoal, mas daí se expande ao mundo das outras  consciências e das coisas. 
A ideia de uma duração universal 
é bastante cara ao senso comum. 
De  modo geral, todos nós acreditamos na ligação entre nossa própria duração  e a do universo. Julgamos que nossos fatos de consciência se dão  simultaneamente aos processos da natureza; enfim, acreditamos seguir um  mesmo fluxo, nós, seres conscientes, e o mundo. Nosso tempo é concebido,  então, universal, e isso implica uma concepção de simultaneidade  absoluta. Contudo, embora Bergson estivesse muito mais propenso ao senso  comum, isto é, à experiência vivida que à racionalização, não é para  ele tão simples determinar a natureza do tempo real. 
É verdade que em Duração e simultaneidade  o filósofo está inteiramente voltado ao esforço de demonstrar a  inconsistência da possibilidade de tempos múltiplos e descompassados.  Mas, é preciso esclarecer que esse tempo universal defendido por Bergson  não se identifica às concepções da Física clássica. Devemos ter em  conta, primeiramente, a noção de multiplicidade qualitativa que está na  base dessa compreensão de tempo. 
Afinal, todos sabem que Bergson 
é um  defensor da diversidade, 
mas precisamos revelar que tipo de diversidade 
é  essa que mantém a unidade na multiplicidade. 
Para tanto distinguiremos duas esferas: uma científica e outra  filosófica. A primeira também poderia ser denominada esfera da  fabricação, já que, de acordo com Bergson,
 “fabricar consiste em  informar a matéria, 
[...] em convertê-la em instrumento a fim de dela se  assenhorar” 
(Bergson, 2005, p. 198). 
E esse poder fabricador que nos é  conferido pela inteligência é desempenhado com bastante propriedade pela  ciência. 
O que há de multiplicidade na matéria se reduz, então, segundo  o domínio científico, à quantidade; portanto, toda diferença aqui é de  ordem quantitativa. 
A esfera filosófica, por sua vez, restringe-se aos  dados imediatamente percebidos. Difere em natureza da quantitativa, das  grandezas matemáticas. 
 Assim, a multiplicidade peculiar que faz da duração uma e várias  consiste em um “progresso qualitativo” semelhante ao ritmo, à cadência  de uma melodia, mas que o “[...] interpretamos no sentido de uma mudança  de grandeza, porque gostamos das coisas simples” (Bergson, s.d., p.  18-19). 
Em verdade, o que compõe a multiplicidade qualitativa, a própria  duração ela mesma, são diferenças de natureza, jamais de grandeza.  Deste modo, a duração pura se nos apresenta como um elo de conservação  entre os momentos distintos de um mesmo fluxo. 
Mas, se duração implica consciência e esta, por sua vez, memória,  sabendo-se que não há memória nas coisas, como poderíamos conceber uma  duração para as coisas (Bergson, 2006, p. 56)?
A possibilidade de  pensarmos um tempo universal 
está inteiramente fundada na duração  psicológica. 
Restaria ao universo sem memória apenas a instantaneidade  própria ao espaço, e espaço sozinho não guarda qualquer traço-de-união,  ou seja, nenhuma temporalidade. Embora Bergson, como Berkeley (1980, §  3), leve ao extremo a ideia de que “ser é ser percebido”, ele garante às  coisas uma existência própria, ao contrário do filósofo irlandês. 
Ou  seja, se conforme Berkeley as coisas só existiriam para uma consciência  capaz de percebê-las, para Bergson elas possuem uma existência em si;  todavia, sem consciência estariam condenadas à eternidade, isto é, as  coisas não durariam. Assim, Bergson não poderia falar em uma  simultaneidade relativa aos objetos em si mesmos – a estes restaria o  que o filósofo denomina, no ensaio de 1922, contemporaneidade. 
A simultaneidade sendo a relação entre dois ou mais fluxos, pode ser  assim definida graças à presença de uma consciência, isto é, de uma  temporalidade psicológica. Então, se a simultaneidade é fundamentalmente  psicológica, não haveria razão em separar-se um tempo do filósofo e um  tempo do físico, como o queria Einstein. Aos olhos de Bergson, tal  separação é artificial, haja vista os dois tempos serem, no fundo, o  mesmo. 
A duração só existirá para uma consciência;
fora desta haverá simultaneidades no espaço.
fora desta haverá simultaneidades no espaço.
Como vimos, independentemente de defender a unidade ou a  multiplicidade do tempo, Bergson acredita que uma unidade só poderá  realizar-se à custa de uma multiplicidade indefinível geometricamente,  mas qualitativamente. Assim, o fluxo da nossa vida profunda, rico em  alterações qualitativas indiscerníveis, uma vez que não se encontram  justapostas em um espaço homogêneo, mas interpenetrando-se  continuamente, o fluxo de um rio e o voo de um pássaro faz um só fluxo  ou três distintos, caso nossa atenção o queira. Porém, ainda que se os  tome por distintos, não deixam de pertencer a uma mesma duração, porque  ligados pela nossa:
O voo do pássaro e minha própria duração são simultâneos somente porque minha própria duração se desdobra e se reflete em uma outra que a contém, ao mesmo tempo que ela mesma contém o voo do pássaro: há, portanto, uma triplicidade fundamental dos fluxos. É nesse sentido que minha duração tem essencialmente o poder de revelar outras durações, de englobar as outras e de englobar-se a si mesma ao infinito (Deleuze, 1999, p. 64).

Em suma, não haveria o que se denominar por simultaneidade sem a  presença de um ser consciente, isto é, é a nossa duração que torna os  fluxos do rio e do voo do pássaro simultâneos. 
De acordo com o filósofo, a simultaneidade psicológica, entretanto,  não interessa à ciência, assim como tudo o que diga respeito à natureza  do tempo real, entendendo-se por isto um tempo que dure. Segundo  Bergson, a ciência investiga a simultaneidade de dois instantes, e  jamais chegaríamos a ela através da duração pura, posto que “o tempo  real não tem instantes” (2006, p. 62);
o instante é sempre uma  virtualidade,
 ou seja, uma miragem retrospectiva utilizada 
A duração,  porém, não é passível de medida. Acabamos então por medir o espaço.  Logo, instante é espaço e a simultaneidade entre instantes seria  fictícia na falta de um traço-de-união, de um ser consciente. 
Sem a duração, sequer formaríamos a ideia do instante. 
Investigando doravante a Teoria da Relatividade, Bergson nota que, ao  contrário de dados imediatos, ao admitir a existência real de tempos  múltiplos e não simultâneos, ela postula fenômenos que escapam tanto à  percepção quanto à imaginação.
Somente com o recurso de uma  matematização 
E,  tal como já notara o velho Descartes em suas Meditações, há uma  singular distinção entre a faculdade de imaginar e a da intelecção pura,  seu célebre exemplo do quiliógono o demonstrara:
quando quero pensar em um quiliógono,concebo na verdade que é uma figura composta de mil lados tão facilmente quanto concebo que um triângulo é uma figura composta de apenas três lados, mas não posso imaginar os mil lados de um quiliógono como faço com os três lados de um triângulo, nem, por assim dizer, vê-los como presentes com os olhos do meu espírito
(Descartes, 1988, sexta meditação, § 2).

Ora, é justamente essa dependência extrema de uma intelectualização  do mundo o que denuncia Bergson na teoria de Einstein. É necessário,  entretanto, ressaltar que o filósofo sempre fez reservas à inteligência;  dessa forma, seu embate não se atém especificamente à Teoria da  Relatividade, mas à intelectualização do real de modo geral. 
Como  sabemos,
essa teoria subverte nossas concepções habituais
Para o senso comum, talvez soe  estranha a ideia de que a medida do tempo seja distinta para  observadores diversos, bem como a de que a simultaneidade dos  acontecimentos esteja comprometida dada a existência de tempos  múltiplos.
Realmente Bergson acreditava que a Teoria da Relatividade, ao  multiplicar o tempo, estivesse lidando com uma duração única, embora  acrescentasse a ela tempos fictícios. Para Bergson, a operação segundo a  qual o tempo referencial se dilata – ao passo que o espaço se contrai –  só exprimiria uma verdade matemática. Desse modo, no exemplo tomado de  Paul Langevin, o conhecido “paradoxo dos gêmeos”,  um só tempo poderia ser considerado real. Um dos tempos permaneceria,  para o filósofo, representação simbólica; portanto, virtual, fictícia.
Bergson não foi o único em sua época a recusar a efetividade dos  tempos múltiplos de Einstein; como ele, muitos físicos acreditavam estar  lidando com tempos fictícios (o holandês Hendryk Antoon Lorentz  (1853-1928) entre eles). 
Contudo, ao contrário deles, a recusa  bergsoniana não se devia simplesmente ao apego a uma visão de mundo  newtoniana. O filósofo estava, antes, apegado à experiência vivida. No  entanto, com frequência observamos alguns desavisados (Sokal e Bricmont,  2001, p. 181-200) que associam as ideias defendidas em Duração e simultaneidade  a uma incompreensão grotesca da teoria de Einstein, enquanto se  esquecem de associá-las ao contexto geral do próprio pensamento de  Bergson.
Devemos notar, de tudo o que filósofo disse acerca do tempo e de sua  espacialização, que o objetivo fundamental é esclarecer seu sentido  real. Ou seja, mostrar a relação que as teorias científicas, ao utilizar  o tempo como uma quarta dimensão do espaço, estabelecem entre esse  tempo decantado de sua duração e a própria duração. 
O que revela,  portanto, para o filósofo, relação alguma, salvo a de representação  simbólica, tradução que não se atém ao original. Para Bergson, enfim,  não somente a Teoria da Relatividade, mas nenhuma teoria poderá exprimir  a totalidade do real pelo fato mesmo de que o real não se atém às  convenções: “[...] trata-se, afirma-nos, de distinguir o que é real do  que é convencional” (Bergson, 2006, p. 76).
 O real não se alcança em  absoluto
 senão pelo esforço intuitivo. 
Não há tempo real, vivido,  percebido, 
sem um elemento de ligação do antes no depois; 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGSON, H. Ensaio sobre os dados imediatos da consciência. Trad. de João da Silva Gama. Lisboa: Edições 70, [s. d.].
WORMS, F. A concepção bergsoniana do tempo. In: Doispontos, revista  do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Paraná e da  Universidade Federal de São Carlos, vol. 1, nº 1, 2004, pp. 129-149.
Este texto foi publicado nos Anais do Colóquio  Internacional Henri Bergson, NEFI/UERJ, 7 a 9 novembro 2007, disponíveis  em CD-ROM.
Mestranda do Programa de Pós-Graduação 
em  Filosofia da Universidade Federal da Bahia – UFBA;
 bolsista FAPESB, sob a  orientação dos professores 
Fonte:
Educação Pública
Educação Pública
Biblioteca/Filosofia
Publicado em 15 de janeiro de 2008





 
 







