quarta-feira, 27 de junho de 2012

BERGSON — A CONSCIÊNCIA CRIADORA METAFÍSICA DA CIÊNCIA




BERGSON: 
 A CONSCIÊNCIA CRIADORA — METAFÍSICA DA CIÊNCIA
     

A professora Astrid Sayegh - filósofa, escritora e  fundadora do IEEF-Instituto Espírita de Estudos Filosóficos, defendeu recentemente sua tese de doutorado em Filosofia Contemporânea, junto à Faculdade de Filosofia, História e Letras da Universidade de São Paulo.

Dando continuidade ao estudo anterior  desenvolvido  sobre a filosofia bergsoniana ( O Método Intuitivo, uma Abordagem Positiva do Espírito, sua tese de mestrado, Astrid Sayegh defendeu agora o tema A Consciência Criadora - Metafísica da Ciência, sendo aprovada com louvor em seu  novo trabalho; a banca examinadora foi composta pelos filósofos Marilena Chauí, Olgária Matos, Alfredo Fernandes e Thais Curi Beaini.

Sob a coordenação do Professor Franklin Leopoldo e Silva, Astrid faz uma abordagem descritiva  da evolução do princípio espiritual,  da gênese à fenomenologia do espírito, exaltando o papel da intuição bergsoniana como acesso a metafísica.

Veja a seguir o resumo da tese.

BERGSON — A CONSCIÊNCIA CRIADORA
METAFÍSICA DA CIÊNCIA
A professora Astrid Sayegh

Astrid Sayegh

Em todas as expressões da cultura humana no decorrer da história percebe-se a natural busca do homem de superação de sua condição. Tal tendência é inerente a sua natureza de espírito , cujo movimento interior consiste em um ininterrupto progresso qualitativo, o qual se manifesta por uma necessidade interna de transcendência. Efetivamente, essa transcendência não se dá em função do mundo objetivo em sua exterioridade, mas antes uma exigência interna da própria essência, portadora de uma infinitude de potencialidades a se atualizar. Nesse sentido, o homem tende a ultrapassar os confins da própria realidade, posto que impelido por uma força interior e superior.

Esse impulso em direção a um ideal superior se manifesta em virtude da presença do princípio espiritual que o gera e o anima e, portanto, por uma aspiração original de revelar-se. A busca consciente de transcendência implica em um processo de autoconhecimento, não segundo caráter ou inclinações particulares, mas como substância em seu desenvolver qualitativo, como consciência da presença imanente do Espírito, princípio criador em processo.

Conhecer passa a ser deste modo identificar-se com o próprio processo engendrador da substância espiritual, nela gerar-se, e transcender infinitamente sua condição como espírito cognoscente, como manancial espiritual inexaurível. Conhecer a si mesmo é reconstituir a gênese, de modo a acompanhar o princípio espiritual em seu processo engendrador, da natureza ao espírito, deste ao Absoluto. Efetivamente, cabe à filosofia, particularmente à Filosofia do Espírito, esse papel de reconstituir o processo da criação, de modo às consciências se identificarem como criadoras. Ao fazê-lo de forma metódica, conforme descrição de Bergson, transcender deixa de ter um sentido místico ou misterioso, mas uma experiência interior concreta do ser em seu devir, em sua alteração qualitativa, como um momento novo que se acrescenta a sua personalidade espiritual.

A Filosofia do Espírito define-se, pois como uma reconstituição do desenvolvimento do Espírito, enquanto substância espiritual, em suas várias expressões, até atingir a autonomia do espírito subjetivo, como um modo de produção. A Fenomenologia do Espírito constitui um momento desse processo, ao descrever o nascimento da subjetividade, assim como seu desenvolver-se em historicidade no mundo objetivo, de modo a atingir sua identidade como partícipe do Absoluto.

No caso de Hegel, a Filosofia do Espírito consiste no devir da Idéia, a qual torna-se outro de si na natureza até atingir, por um movimento circular, a autoconsciência, o autodeterminar-se do espírito universal como conceito. O Espírito desenvolve-se em um processo dinâmico, em um desdobrar do todo em seu movimento dialético.

Embora o itinerário da gênese ao Absoluto seja o mesmo, a Filosofia do Espírito em Bergson, desenvolve-se de modo diferente, como um desdobrar diferenciante do Espírito, da substância espiritual, não através da lógica, mas em sua imediatez. Efetivamente, também o método de conhecimento, em identidade com o processo gerador, há de ser de outra natureza. Se a dialética assegura o acordo do pensamento consigo mesmo, a intuição bergsoniana assegura a identidade sujeito e objeto através da experiência intuitiva do sujeito em sua identificação com o evolver do Espírito.

O movimento dialético da consciência para Bergson passa a se definir antes como uma distensão da intuição, ao passo que a identificação com o Espírito implica em um movimento contrário de tensão, de elevação da consciência. O movimento diferenciante se dá na temporalidade, a qual se totaliza a cada momento de sua atualização, gerando a historicidade do real como um processo absoluto. Por conseguinte a Consciência Criadora gera e se mantém em si mesma, em inovadas diferenciações qualitativas — mas não nova sínteses. Nessa totalização tudo permanece e dura infinitamente e por isso a evolução é uma contínua totalização criadora.

A Consciência Criadora cria por um movimento de divergência gera os vários reinos e espécies, ao mesmo tempo em que se mantém como Memória indelével. Por ser uma duração em processo, não há ruptura entre a formação da matéria inorganizada e a surgimento da vida; o élan vital altera seu nível ontológico e revela-se como espírito, e a Fenomenologia da Vida prolonga-se assim em Fenomenologia do Espírito. Por conseguinte, a Filosofia do Espírito em Bergson é o próprio evolucionismo.

Estabelecer a genealogia da vida é compreender ao mesmo tempo a evolução do processo cognoscente, assim como a possível crítica e superação do conhecimento. Somente partindo da unidade substancial, é que se compreenderá a evolução da vida, é que se descobrirá o movimento imanente à vida e, portanto tornará possível o conhecimento metafísico. Esse movimento possui deste modo um valor metodológico e ontológico. Para tanto, a filosofia do espírito bergsoniana, como se pretende demonstrar, não se define como um espiritualismo vago, mas antes funda-se em um rigor metódico, em um procedimento empírico e conseqüentemente em uma metafísica positiva.

A ciência do evolver do princípio espiritual, eis o que Bergson busca constituir, eis a que ele nos convida a edificar. Nossa ciência, nossa civilização estão calcadas sobre a materialidade, sobre a realidade exterior, e correm o risco de se desenvolver em detrimento do próprio homem; faz-se necessário resgatar a realidade espírito de modo a vivificar o sentido existencial, de modo a aprumar os rumos da ciência, de modo a superar os métodos acabados, as práticas rotineiras, em função de uma ciência aberta, nova e restaurada; tal ideal se torna concreto através da criação de métodos fundados a partir da intuição; desta forma há de se constituir uma ciência mais compreensiva e não apenas extensiva. Novidade, originalidade, criação, tal é a divisa de Bergson.

É assim que a filosofia, ao permitir acompanhar o movimento da evolução criadora, não consiste em mera reflexão sobre as ciências da vida, mas antes na identificação do itinerário da vida às formas sublimadas de conhecimento, onde a intuição tornará possível cumprir com o fim ultimo da evolução: a co-criação em meio ao princípio espiritual. — Eis o itinerário que se desenvolve na pretendida reflexão.
Filósofos 
Marilena Chauí, Olgária Matos,
 Alfredo Fernandes , Thais Curi Beaini 
e Franklin Leopoldo e Silva.
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Pablo Picasso

Li
 Fonte:
http://www.institutodeestudosfilosoficos.com/tese/defesatese.asp
 

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